Flávia C. Ghelardi* – Continuamos nossa reflexão sobre o Capítulo V da exortação apostólica Amoris Laetitia e agora trataremos sobre a vida em família em sentindo amplo. O primeiro alerta é para que o núcleo familiar, composto de pai, mãe e filhos, não fique isolado em si mesmo e buscar uma vinculação com a família alargada (avós, tios, primos) e até os vizinhos. “Este isolamento não proporciona mais paz e felicidade, antes fecha o coração da família e priva-a do horizonte amplo da existência.” (AL 187)
Ser filho
O primeiro aspecto que o Papa nos lembra é que todos somos filhos. Ter essa consciência nos recorda que a vida nos foi dada, não foi algo que conquistamos sozinhos. E o dom da vida é o grande presente que recebemos. Comentando sobre o 4º mandamento, o primeiro que vem depois dos mandamentos em relação ao próprio Deus e o único que é acompanhado de uma promessa (“para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te dá”), ele nos ensina: “O vínculo virtuoso entre as gerações é garantia de futuro e de uma história verdadeiramente humana. Uma sociedade de filhos que não honram os pais é uma sociedade sem honra (…). É uma sociedade destinada a encher-se de jovens áridos e ávidos» (AL 189)
Outro aspecto de ser filho está relacionado ao matrimônio. Quando nos casamos, devemos “deixar pai e mãe”. Quem não consegue “cortar o cordão umbilical” não conseguirá realmente constituir uma família sadia. O matrimônio nos desafia a encontrar uma nova maneira de sermos filhos. Os pais não devem ser abandonados nem transcurados, mas, para unir-se em matrimónio, é preciso deixá-los, de modo que o novo lar seja a morada, a proteção, a plataforma e o projeto, e seja possível tornar-se verdadeiramente « uma só carne» (AL 190)
Os idosos
“A Igreja não pode nem quer conformar-se com uma mentalidade de impaciência, e muito menos de indiferença e desprezo, em relação à velhice. Devemos despertar o sentido coletivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça o idoso sentir-se parte viva da sua comunidade.” (AL 191) Precisamos ter consciência de que em muitos casos, são os avós que garantem a transmissão da fé para as gerações mais jovens, assim são verdadeiros apóstolos da nossa sociedade.
É grave o alerta e que “quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade” (AL 192) Os idosos são a ponte entre o passado e o futuro e suas histórias são um antídoto para os males do desarraigamento, da falta de vinculação, pois nos recordam que fazemos parte de algo maior que a nossa própria existência.
Ser irmão
É a família que introduz a fraternidade no mundo e aprendendo a viver como irmãos dentro de casa, irradia essa experiência para toda a sociedade. Crescer entre irmãos proporciona a bela experiência de cuidar uns dos outros, de ajudar e ser ajudado (AL 195). Ensinar os filhos a viverem como irmãos, que se respeitam e cuidam um do outro, usando de muita paciência e afeto, é uma tarefa fatigosa dos pais e muito necessária para que a família seja verdadeira escola de sociabilidade.
Quando não se pode ter mais que um filho, é preciso encontrar formas da criança não viver sozinha e isolada, para ter, de alguma forma, a experiência de ser irmão.
Um coração grande
Neste tópico, o Santo Padre nos fala da importância da comunidade familiar, que abrange não só os parentes, como também os amigos. As famílias amigas, que muitas vezes formam comunidade, se apoiam mutuamente e ajudam umas às outras no crescimento e na vivência da fé. Essa é uma experiência que temos no Movimento de Schoenstatt, onde os grupos e os cursos formados são verdadeiras famílias.
As famílias cristãs devem ajudar a acolher aquelas pessoas que possam estar isoladas, como as mães solteiras, os órfãos, as mulheres abandonadas, as pessoas com algum tipo de deficiência, os doentes, aqueles que lutam contra alguma dependência. É preciso um olhar atento à realidade de cada um, para ver a quem podemos agregar como parte de nossas famílias.
Os parentes
Um último alerta é com relação ao sogro, sogra e os parentes de cada cônjuge. Uma delicadeza própria do amor é evitar vê-los como concorrentes, como pessoas perigosas, como invasores. A união conjugal exige que se respeite as suas tradições e costumes, se procure compreender a sua linguagem, evitar maledicências, cuidar deles e integrá-los dalguma forma no próprio coração, embora se deva preservar a legítima autonomia e a intimidade do casal. (AL 198) Essa maneira de agir é uma forma muito concreta de demonstrar nosso amor e respeito ao nosso cônjuge, a pessoa que escolhemos para caminhar juntos rumo ao Céu.
Este artigo faz parte da série de artigos que sintetizam a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Amoris Laetitia do Santo Padre Papa Francisco
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt