Ir. M. Nilza P. da Silva – Nas biografias do Pe. José Kentenich lemos que, em 08 de julho de 1910, ele foi ordenado sacerdote, na Capela do Seminário, em Limburgo, na Alemanha, pelas mãos de Dom Henrique Vieter, Bispo palotino, que atuava em Camarões, na África. Até aqui, nenhuma novidade.
Mas, o que pouca gente sabe: Dom Henrique Vieter, residia no Brasil, quando recebeu sua transferência para Camarões. É isso mesmo! Ele ordenou nosso Pai e Fundador trazendo as vivências do Brasil em seu coração. Tanto que alguns anos depois, ele deixa registrado por escrito uma síntese do que viveu em nossa Pátria.
Um olhar para a história
Geraldo Henrique Vieter nasce em 13 de fevereiro de 1853, em Selm-Cappenberg, no oeste da Alemanha. Filho de uma família muito pobre, precisou trabalhar, como carpinteiro, para ajudar o pai a manter a família. Sempre manteve no coração o desejo de ser sacerdote, mas sua entrada para o seminário foi adiada, para que pudesse cuidar de seu pai enfermo. Após o falecimento de seu pai, começa a procurar um seminário que o aceitasse, pois já não era jovem. É aconselhado pelas dioceses e congregações a ser Irmão, para não ter que ficar tantos anos estudando.
Mas, ele não desiste e vai para a Itália, em busca da realização de sua vocação. Em 1883, é aceito pela recém fundada, Sociedade Missionária Palotina, na Província de Masio, na Itália. Seguiram-se estudos de teologia católica na Pontifícia Universidade Gregoriana de 1884 a 1887. Em 8 de Maio de 1887, Vieter recebeu o sacramento da ordenação sacerdotal em Roma. Era tão exemplar e responsável que de imediato foi nomeado diretor no próprio seminário em que estudava, em Masio. Mas, essa tarefa durou pouco.
Enviado para o Brasil
Em 18 de agosto de 1887, a Direção Geral dos Palotinos assume a evangelização da Segunda Colônia Italiana, no Rio Grande do Sul, cuja sede era em Caxias/RS. No final de 1888, o Superior Geral, Pe. William Withmee, transfere Pe. Henrique Vieter, como missionário para o Brasil, destinando-o para atender os emigrantes italianos, em Caxias/RS, que na época pertencia a Arq. de Porto Alegre.
Ele conta em suas anotações: “Quando eu ainda estava em Masio, a pedido dos meus superiores, tentei aprender a andar a cavalo (porque no Brasil todos andam a cavalo). Meu ombro esquerdo ‘desmoronou’ e eu montei, meio curado, com meu braço enfaixado. No final de fevereiro, de 1889, deixei Masio, num navio, em direção ao Brasil.”[1]
Suas descrições sobre o Brasil
Ao chegar ao Brasil, ele atua como superior dos Palotinos e se admira com a natureza: “A paisagem da colônia de Caxias era muito bonita, montanhosa, em sua maioria ainda coberta de mata. O pinheiro foi a espécie de madeira mais proeminente. Mas, outras belas madeiras duras também estavam lá… As palmeiras subiram lá na colônia de Caxias… a vinha e o trigo cresceram muito bem, o milho também cresceu muito bem e os melões eram deliciosos.”[2]
Ao mesmo tempo, sente com o povo a pobreza em que viviam: “Não havia boas estradas e as roupas dos colonos, que eram muito caras, muitas vezes não pareciam boas. Às vezes, eles estavam tão remendados que não era mais possível dizer qual era o tecido original.”[3]
Pe. Vieter descreve com vivacidade entusiasmante o anseio com que se se lançou em sua nova tarefa. Apesar de todas as dificuldades, ele sempre tentou obter sucesso na evangelização: Era generoso no servir pastoral, enfrentando barreiras para chegar aos lugares mais distantes, para atender os enfermos, dialogava com seus paroquianos para que a religião se tornasse prática na vida. Seu amor pelos colonos e suas crenças profundamente enraizadas, o inspiravam e o animava na fidelidade incansável ao seu compromisso missionário. Ele era um nato contador de histórias e bem-humorado, como Skolaster[4] enfatiza em sua biografia. Isso pode ser verificado em suas anotações sobre o Brasil, nesta publicação em alemão. (Clique para baixar)
O chamado para a África
Enquanto Pe. Vieter se doa em sua missão brasileira, em 4 de março de 1890, o setor do Vaticano responsável pelas missões (Propaganda Fide de Roma – atual Congregação para a Evangelização dos Povos) coloca a missão em Camarões, na África, sob a responsabilidade dos Palotinos e Pe. Enrique Vieter é designado para lá como o primeiro Prefeito Apostólico, isto é, responsável em nome do Vaticano. Conta-se que, em perfeita obediência, sua resposta foi imediata: “Tchau Brasil. Viva Camarões!”
Em outubro do mesmo ano, ele chega a Douala, em Camarões, onde atua incansavelmente. 14 anos depois, o Papa Pio X o nomeia bispo – o primeiro bispo de Camarões e primeiro bispo palotino. Em 24 de dezembro de 1904, o Papa o nomeia como o primeiro vigário apostólico para Camarões, isto é, responsável por todas as paróquias católicas do país. Em 22 de janeiro de 1905, na Catedral de Limburg, ele é sagrado bispo, por Dom Dominikus Willi OCist, acompanhado por outros dois bispos, Dom Maximilian Gereon Graf von Galen, Bispo Auxiliar de Münster, e Dom Karl Ernst Schrod, Bispo Auxiliar de Treves. O lema que escolheu: “Eu sou teu servo”.
Um bispo com cheiro de seu rebanho
O sínodo que ele organizou em setembro de 1905, na Catedral de Duala, testemunha sua visão pastoral. Chama a atenção sua visão sobre a importância da colaboração dos catequistas e professores, ou seja, dos leigos. O Diretório da Pastoral, em Camarões, foi elaborado junto entre bispo, padres e leigos.
Como bispo, ele continua ao lado de sua gente. Como bom carpinteiro, ensina essa profissão aos rapazes, funda escolas, centros de preparação para catequistas e professores e abre também um seminário.
Ordenação de nosso Fundador
No primeiro semestre de 1910, ele viaja para Roma, a fim de participar do Capítulo Geral dos palotinos e, terminado esse compromisso, permanece alguns meses em Limburgo, na Alemanha, a fim de recuperar sua saúde. A Divina Providência assim traçou seus planos e, por isso, em 08 de julho, ele podia ordenar nosso Pai e Fundador.
Ao retornar para Camarões, para entusiasmar seus coirmãos de comunidade, os seminaristas e os alemães para auxiliá-lo em Camarões, ele funda a revista “Estrela da África”, que é tantas vezes citada, lida e divulgada por nosso Pai e Fundador e pela Geração Fundadora de Schoenstatt.
Sua partida e sua presença na memória
Em 7 de novembro de 1914, com apenas 61 anos, enfraquecido por esgotamento físico e doenças tropicais nos últimos anos de sua vida, ele falece em Mvolyé, perto de Yaoundé, capital de Camarões, onde se encontra sua sepultura até hoje.
O Cardeal Girolamo Maria Gotti, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, em 4 de dezembro de 1914, escreveu à Cúria Geral da Sociedade dos Palotinos dizendo que em vinte e quatro anos de profícuo ministério missionário de Dom Vieter, os Palotinos haviam batizados 30.000 pessoas, em Camarões, e que em 1914 havia 18.000 catecúmenos. O Cardeal também destacou que o povo lamentou a morte do fundador e pai. O alto falecido era de fato um homem verdadeiramente nobre. Seu coração dourado, seu humor alegre, seu caráter amável, sua genuína natureza alemã o tornaram altamente respeitado por todos que o conheciam.
“O bispo Heinrich Vieter foi um modelo para sermos guardiões: guardiões da esperança, luz e fé de que os mortos ressuscitam da sepultura,” escreve o Bispo Bruno Ateba.
A caminho para a beatificação
Sua sepultura se torna um lugar de oração para a população, ruas, edifícios e localidades o homenageiam com o seu nome e, todos os anos, em 7 de novembro, a Igreja Católica em Camarões celebra seu primeiro Bispo Dom Henrique Viertes.
No ano 1930 é lançada sua primeira biografia, com 188 páginas, escrita por Hermann Skolaster: Bispo Heinrich Vieter. Primeiro Vigário Apostólico de Camarões. A esta seguem muitas outras publicações com seus escritos ou sobre ele.
Em 2005, no ano centenário de sua sagração episcopal, é aberto o processo oficial para sua beatificação, na arquidiocese de Yaoundé.
Do Brasil e de Schoenstatt, para Camarões
Em 18 de setembro de 2018, no Santuário Original, é enviada a primeira imagem peregrina da Mãe e Rainha que o Pe. Alois Baumberger, um sacerdote suíço, membro da União dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt, leva para Camarões. Um gesto simbólico que leva uma iniciativa missionária do Brasil, para a diocese daquele que semeou a fé em nossa Pátria Tabor. Um sinal de retorno dos frutos do sacerdócio do Pe. Kentenich, à Diocese daquele que o ordenou e, assim, abriu caminhos para o desenvolvimento de seu carisma, o nascimento da Família Internacional de Schoenstatt.
[1] https://www.pallotti-verlag.de/wp-content/uploads/2017/06/vieter_leben-und-wirken_blick-ins-buch.pdf
[2] Idem
[3] Idem
[4] Hermann Skolaster, 1930: Bispo Heinrich Vieter. Primeiro Vigário Apostólico de Camarões. Pallottiner Verlag, Limburg ad Lahn, 188 páginas
Bibliografia:
Para saber mais sobre isso, leia os sites usados como fonte para esse texto:
https://wiki.edu.vn/wiki61/2022/02/22/heinrich-vieter-wikipedia/
https://www.pallottiner.org/gemeinschaft/ueber-uns/vorbilder-im-glauben/bischof-heinrich-vieter/
https://www.sac.info/servo-di-dio-heinrich-vieter-1853-1914/?lang=es
https://www.missio.at/kribi-kueste-fische-frohbotschaft/
http://www.pallottinsregion-cn.com/historique-de-la-region-sainte-trinite.html
http://www.rpm-cm.net/rpm_founding_doc.php?TexType=D
http://rpm-cm.net/rpm_vip_biography.php?fname=Heinrich&lname=Vieter
http://www.santiebeati.it/dettaglio/96764
http://www.pallottinsregion-cn.com/remember-monseigneur-henri-vieter.html
http://smpalotino.blogspot.com/2017/11/sobre-causa-dos-santos-da-familia.html
https://www.zvab.com/buch-suchen/titel/bischof-heinrich-vieter/autor/skolaster/
https://schoenstatt.org.br/2018/10/09/a-mae-peregrina-vai-a-camaroes-na-africa/
https://www.soumbala.com/catalog/product/gallery/id/67969/image/55207/
Muito bom saber alguns detalhes importantes da vida de nosso Pai Fundador.
Biografia riquíssima a do Movimento de Schoenstatt.
Obrigada a quem nós presenteia momentos de enriquecimento.