Pe. Rafael Mota – Na primeira leitura, encontramo-nos com o Início do Livro do Profeta Isaías. E nesta introdução, o autor deixa claro o contexto da sua profecia: a chegada dos últimos tempos. Não se trata de uma premonição assustadora, como quem prevê o fim do mundo. Senão que somos convidados a tomar consciência de que a História da Salvação tem um capítulo definitivo, um clímax que dá sentido a tudo o que veio antes e o que ainda virá. Tendo em vista este ‘novo momento’, os versículos procuram deixar seus leitores na expectativa, descrevendo certas alterações no conjunto da realidade.
A estratégia é impactar!
Mais ou menos assim: preste atenção, porque está para acontecer uma reviravolta! Pensando no Advento e o que ele significa, esta leitura nos ajuda a perceber a chegada do menino Jesus como um ‘evento com consequências cosmológicas’. Ele vem para colocar o mundo no eixo!
No caso do trecho deste Domingo, a Casa do Senhor – Sião, Jerusalém, Casa de Jacó, o lugar de onde provém a Lei e a Palavra – se estabelece no alto como um farol para atrair, mostrar caminhos, ensinar, julgar, arguir, pacificar e guiar todas as nações. Entre os primeiros interlocutores de Isaías, os remanescentes do Exílio da Babilônia, havia uma esperança de que o Reino de Israel seria reconstruído e conheceria tempos áureos novamente. No entanto, nós que conhecemos o mistério da Encarnação, sabemos que a profecia se cumpre com Cristo, que vem para estabelecer o Reino dos Céus. Um sentido totalmente diferente!
A Casa do Senhor
A ‘Casa do Senhor’ costuma ser entendida como a Igreja, mas gostaria de ressaltar seu significado mais pessoal: Consagração, ‘Viver em Aliança’, estar com e ser de Deus. Um vínculo sagrado acompanhado por promessas muito bem narradas pelo Salmo 121: alegria, justiça, paz, segurança, tranquilidade e amor. De fato, celebrar o nascimento de Jesus significa acolher e desejar todo o bem!
Escolho esta perspectiva porque se aproxima a de São Paulo, em sua carta aos Romanos. “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar […] a salvação está mais perto de nós […] o dia vem chegando […] procedamos honestamente […] revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.” Esta tônica nasce da preocupação com uma nascente comunidade cristã, demasiado exposta às tentações de Roma. (Numa etapa quando ainda não haviam grande templos onde buscar refugio e a perseguição crescia). Procurando que ninguém se perca, o Apóstolo sintetiza muito bem a necessidade da conversão, que é compromisso e graça. Aplicando à nossa reflexão, a preparação exterior do Natal supõe um zelo pela manjedoura do meu coração!
Ficai atentos
Nesta mesma linha, o Evangelho nos apresenta um Jesus interessado na salvação de seus discípulos. “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor […] Ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”. O objetivo desta advertência é sacudir, agitar, acordar, aquecer a alma ainda morna, tímida, preguiçosa e acomodada.
Pelo punho de Mateus, nosso Senhor recorre a uma referência ao que aconteceu com aqueles que não escutaram Noé e padeceram com o dilúvio. Ademais, procura deixar claro que o ‘Juízo é Individual’, prevendo trágicas separações: “um será levado e o outro será deixado […] uma será levada e a outra será deixada”. E finalmente, utiliza a imagem do ladrão, aquele que arromba a casa por chegar inesperadamente.
Colocado estrategicamente pelo Evangelista depois de toda a vida pública de Jesus, este discurso supõe que as pessoas deveriam ter suficiente material para reconhecer o Messias e mudar seu atuar. No entanto, os capítulos seguintes narram a Paixão.
Também o Advento corre o risco de culminar numa celebração do Natal frustrante, materialista e sem graça, caso não haja uma verdadeira conversão. Estamos num tempo especial, propício: Preparemos nossos presépios, renovemos nossa esperança e permitamos que a chegada do Filho de Deus realize em nós essa belíssima mudança!