Flávia C. Ghelardi* – No Capítulo VI da exortação apostólica Amoris Laetitia o Santo Padre, Papa Francisco, faz um resumo sobre algumas sugestões para o cuidado pastoral com as famílias. Hoje analisaremos a primeira parte desse capítulo.
Anunciar o Evangelho da Família
É importante que seja anunciado a beleza e a riqueza da vida familiar, do Evangelho da Família, que “é alegria que enche o coração e a vida inteira, porque, em Cristo, somos libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento” (AL 200). Sabemos que a Igreja é um sinal de contradição, que seus ensinamentos sobre o matrimônio e a família podem chocar o mundo moderno, mas é essencial que os padres motivem os casais para uma aposta corajosa num amor forte, sólido, duradouro, capaz de enfrentar todos os imprevistos que lhes surjam. (AL 200).
O Papa alerta que a preocupação da Igreja é com cada família em particular, com seus problemas e dificuldades, e que é inútil uma pregação puramente teórica, sem contato com a realidade da vida familiar. “A pastoral familiar deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana: a sua dignidade e plena realização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade. Não se trata apenas de apresentar uma normativa, mas de propor valores, correspondendo à necessidade deles que se constata hoje, mesmo nos países mais secularizados.” (AL 201)
Capacitar o clero e os leigos para a Pastoral Familiar
Para a pastoral familiar, cujo berço é a paróquia, é necessário focar na formação dos padres, diáconos, religiosos e demais agentes de pastoral, pois foi constatado que não há uma formação adequada para tratar dos diversos problemas que podem surgir na vida matrimonial. É importante que os seminaristas também tenham uma formação interdisciplinar mais ampla sobre o namoro e o matrimônio, e não apenas a doutrina da Igreja. Além disso, é preciso cuidar para que esses seminaristas cuidem das feridas que possam ter trazido de sua origem familiar, é preciso garantir um amadurecimento, durante a formação, para que os futuros ministros possuam o equilíbrio psíquico que a sua missão lhes exige. (AL 203). O apoio da família do seminarista durante esse processo é muito importante para mantê-lo conectado à realidade e a combinação entre a vida no seminário e a vida nas paróquias, ajudam a revigorá-lo de forma realista.
É necessário ainda a formação de leigos para a pastoral familiar com a ajuda de psicopedagogos, médicos de família, médicos de comunidade, assistentes sociais, advogados de menores e família, predispondo-os para receber as contribuições da psicologia, sociologia, sexologia e até aconselhamento. Os profissionais, particularmente aqueles que têm experiência de acompanhamento, ajudam a encarnar as propostas pastorais nas situações reais e nas preocupações concretas das famílias. (AL 204)
A preocupação principal do Papa Francisco é que os agentes da pastoral familiar, sejam eles parte do clero, da vida consagrada ou dos leigos, estejam preparados para anunciar a beleza da doutrina católica sobre o matrimônio e a família, encorajar as famílias a viverem esses ideais, mas com os pés na realidade, nos problemas concretos de cada lar, sendo capacitados para ajudar em todas as situações que surgirem.
Guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimônio
Os desafios da nossa sociedade atual exigem um maior empenho de toda comunidade cristã na preparação dos jovens para receberem o sacramento do matrimônio. É necessário lembrá-los da importância das virtudes, especialmente a da castidade, para o crescimento genuíno do amor interpessoal. O testemunho das famílias já constituídas pode ser de grande ajuda para estimular o jovem casal e os programas de preparação próxima para o matrimônio devem ser momentos privilegiados de participação na vida da Igreja e aprofundamento dos vários aspectos da vida familiar.
As comunidades cristãs precisam enxergar que acompanhar a vida do jovem casal é um bem para elas mesmas, pois no futuro essa família pode “contribuir para renovar o próprio tecido de todo o corpo eclesial: a forma particular de amizade que vivem pode tornar-se contagiosa, fazendo crescer na amizade e na fraternidade a comunidade cristã de que fazem parte”. (AL 207)
O Papa dá algumas dicas sobre como deve ser essa preparação para o matrimônio: “Não se trata de lhes ministrar o Catecismo inteiro nem de os saturar com demasiados temas, sendo válido também aqui que ‘não é o muito saber que enche e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear interiormente as coisas’. Interessa mais a qualidade do que a quantidade, devendo-se dar prioridade – juntamente com um renovado anúncio do querigma – àqueles conteúdos que, comunicados de forma atraente e cordial, os ajudem a comprometer-se num percurso da vida toda com ânimo grande e liberalidade”. (AL 207)
Ele faz mais algumas sugestões:
– ter momentos personalizados com cada casal de noivos, pois o objetivo é ajudá-los a aprender a amar aquela pessoa concreta com a qual se deseja partilhar toda uma existência;
– desenvolver atividades pastorais que visem fortalecer o matrimônio, pois o exemplo de matrimônios sólidos e felizes ajuda muito os jovens casais
– ajudar no discernimento de cada casal de noivos, para ver se não há incompatibilidades com riscos de uma ruptura futura
– orientar e esclarecer os noivos sobre as possíveis situações de conflitos e momentos difíceis na vida matrimonial e mostrar a necessidade de uma vontade firme para enfrentarem algumas renúncias
– mostrar que o matrimônio não é o fim do caminho, mas uma vocação que lança o casal para frente, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis, oferecendo os instrumentos para que possam superar suas dificuldades e amadurecer no amor
No próximo artigo, continuaremos a analisar as orientações do Santo Padre para a preparação do matrimônio.
Este artigo faz parte da série de artigos que sintetizam a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Amoris Laetitia do Santo Padre Papa Francisco
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt