Pe. Rafael Mota – A primeira leitura explora dois conceitos
Primeiro conceito: a origem do Messias
Isaías cita o tronco de Jessé, de cujas raízes nascerá uma haste e em seguida um rebento de uma flor. Jessé foi da tribo de Judá, neto de Rute e filho de Obede, nascido em Belém, o Pai do Rei Davi. Recordemos que quando Samuel procurou Jessé, para ungir um de seus filhos como rei de Israel, este ficava sem esperança, depois de haver mostrado seus 7 bons filhos. Restava apenas o menor de todos, o pastor que se encontrava entre os animais.
Considerando o significado bíblico do número 7 – plenitude, perfeição, totalidade – Davi é apresentado como alguém que está fora do script, no mínimo inesperado. Como no caso das mulheres estéreis que engravidam, a unção de Davi evidencia a intervenção divina. Logo, o tronco que volta a brotar nos indica um Messias ‘orgânico’, que revitaliza a descendência de Davi. Mais ainda, Isaías associa esta revitalização com o Espírito do Senhor. Assim, estamos diante de uma grande prefiguração de Jesus, que nasce da Virgem Maria por Obra do Espírito Santo.
Além disso podemos ler neste texto uma caracterização do Messias, cuja paixão dominante é o Temor do Senhor. Encontramos ainda uma metáfora de vestimenta: cingirá a correia da justiça e as costas com a faixa da fidelidade; Assim como os ‘instrumentos de trabalho do Messias’, que também fazem referência ao Espírito Santo: fustigará a terra com a força da sua palavra e destruirá o mau com o sopro dos lábios.
Segundo conceito: o Messias reordenará a realidade
Esta noção já havia sido explorada na semana passada, enfocada no reerguimento glorioso de Jerusalém. Este tema ainda tem peso, na leitura deste domingo: a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada. No entanto, o que mais sobressai é a influência da chegada do Messias sobre o conjunto da Criação, que retomará a harmonia do paraíso: O lobo e o cordeiro, o leopardo e o cabrito, o bezerro e o leão, a vaca e o urso conviverão e até mesmo uma criança poderá tangê-los. Cessará a inimizade entre a descendência humana e a Serpente. Não haverá danos nem mortes. Mais ainda: a terra estará tão repleta do saber do Senhor quanto as águas que cobrem o mar.
O Salmo 71 acompanha esta descrição: “Nos seus dias a justiça florirá, e grande paz até que a lua perca o brilho! / De mar a mar estenderá o seu domínio e desde o rio até os confins de toda a terra! [E mais adiante] E que dure como o sol sua memória!”
Complementando esta perspectiva, São Paulo escreve aos Romanos, pedindo harmonia e concórdia, porque na comunidade cristã nascente os judeus conversos demonstravam resistência aos que provinham do paganismo. Algo natural de se imaginar, considerando a certeza da predileção de Deus – Israel como o povo escolhido – e o esforço por manter a fidelidade à Aliança, que requereu tantos sacrifícios – especialmente em matéria de moral e costumes.
Acolhei-vos
Escutemos o apelo do Apóstolo, recordando o que ‘ensina Cristo Jesus’. “Assim, tendo como que um só coração e a uma só voz, glorificareis o Deus e Pai do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu, para a glória de Deus”.
Tão valioso quanto o pedido em si é sua fundamentação: “Cristo tornou-se servo dos que praticam a circuncisão, para honrar a veracidade de Deus, confirmando as promessas feitas aos pais. Quanto aos pagãos, eles glorificam a Deus, em razão da sua misericórdia”. Assim, garante-se o acesso à esperança do Cristianismo por duas vias: tanto para aqueles que foram instruídos pelas Escrituras, quanto para aqueles que chegam depois de experimentarem o perdão, o consolo, o alívio em suas vidas.
Acho muito valiosa essa leitura: se por um lado está a promessa de que o Messias vem trazer ordem à nossa sociedade, cabe a nós corresponder com nosso esforço por nos acolher mutuamente.
Terceiro conceito: João Batista está sintonizado com o Messias
Vamos para o terceiro capítulo de Mateus – apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia. Recolhendo tudo o que refletimos até o momento, podemos perceber o quão sintonizado estava João com a vinda do Messias. Em seu vestir, em sua alimentação, em seu falar, em seu lugar de fala [o deserto], em seu proceder… Pregava a conversão, mas se sabia indigno ‘de carregar as sandálias’ daquele que vem. Sem apegar-se ao seu status de Filho de Abraão, fez-se pequeno ao reconhecer a vinda de alguém mais forte. Dedicou-se a escutar pecados e preparar as pessoas para a vinda daquele que batizará com o Espírito Santo. Não por menos atrai multidões para si.
Preparai o caminho; o machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo; Eu vos batizo com água; Ele está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga.
Pessoalmente, acredito que os textos da liturgia podem nos ajudar a compreender a Conversão Ecológica proposta pelo Papa João Paulo II, que por sua vez fundamenta a Ecologia Integral do Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Sí. Mas, sem perder o foco do poderoso Evangelho deste Domingo, replico as palavras do Santo Precursor:
“Produzi frutos que provem a vossa conversão”, o mandamento que está no Coração do Evangelho. Não sejamos ‘Raça de Cobras Venenosas’, afinal quem nos ensinou a fugir de nossa responsabilidade?