Ir. M. Danielle Peters – Em 1858, a Maria apareceu para Bernadette Soubirous, de 14 anos, na Gruta Massabielle, perto de Lourdes, na França. Nossa Senhora apresentou-se à adolescente, falando no dialeto local, como a Imaculada Conceição. Essa autorrevelação de Maria está no centro da sua mensagem. É única em comparação com outras aparições marianas, porque Maria confirmou o dogma promulgado há poucos anos antes, em 08 de dezembro de 1854.
O que significa esse dogma e o que ele tem a nos dizer hoje?
O dogma diz que Maria era livre da mancha do pecado original, desde a sua concepção. Assim, desde o primeiro momento da sua existência, ela encarna e proclama o conceito imaculado da pessoa humana, criada à imagem de Deus. Nela, portanto, podemos reconhecer o plano que Deus concebeu para cada ser humano. Ela é a personificação da ordem recém-criada em Jesus Cristo, que, como Caminho, Verdade e Vida, desafia todas as pessoas a se tornarem, cada vez mais, semelhantes ao conceito divino da nossa identidade humana e religiosa.
O fundador de Schoenstatt, Pe. José Kentenich (1885-1968), salientou que a Imaculada Conceição chama a nossa atenção para a dignidade e o valor da pessoa humana. Graças à sua preservação do pecado original e à sua íntima união com Cristo, Maria possui a plenitude da vida natural e sobrenatural. Pe. Kentenich enfatizou que, por causa dessa integridade, o donum integritatis, “há pelo menos uma pessoa que passou pela vida, completamente pura e intocada”.1
A vida e a missão da Imaculada são como um livro que nos conduz para o céu. Pe. Kentenich encorajou sua família espiritual a folhear muitas vezes este livro, olhando para essa personificação do amor divino, imagem do que podemos nos tornar.
Plenitude da vida e da graça
A eleição de Maria como Imaculada indica o grau único de sua plenitude de vida. Sua riqueza espiritual contém aquela dimensão de seu ser que é velada exteriormente e transcende o tempo e a matéria. Apenas Deus a conhece em toda sua profundidade. Em cada momento da sua vida, Maria é receptiva para a graça divina. Pe. Kentenich diz: “Ela é em si mesma, a representante da criação em nosso nome, para o nosso bem e modelo a ser imitado por nós.”2 Assim, Maria Imaculada é a pessoa humana por excelência e, ao mesmo tempo, o nosso modelo e a nossa educadora para a santidade.
A Imaculada nos ensina a crer na humanidade
Pe. Kentenich usa uma trilogia – Credo, Confiteor, Magnificat – quando enfatiza as dimensões pedagógicas de Maria como modelo para a vida cristã. Ele argumenta que a plena aceitação do dogma da Imaculada Conceição pressupõe um autêntico credo para a pessoa humana feita à imagem de Deus, para a existência da ordem sobrenatural da graça, mas também para a existência do pecado original e da redenção. Além disso, este credo afirma que o homem e a mulher foram criados por Deus como iguais na sua dignidade e complementares no seu modo de ser humano.
Como Maria foi singularmente agraciada pelo privilégio da sua Imaculada Conceição, assim também cada ser humano é elevado à ordem sobrenatural, pela graça redentora do Batismo. Este dom do amor infinitamente misericordioso de Deus, oferecido a cada ser humano, é um convite para cooperar livremente na obra da redenção. A atitude de Maria serve de exemplo para os homens e as mulheres. Pe. Kentenich sublinha, especialmente a este respeito, que todas as ambiguidades sobre a verdadeira feminilidade são esclarecidas em Maria, que é o ideal da dignidade e da beleza feminina.
A Imaculada é uma escola de educação
Não obstante a nossa eleição como filhos de Deus, a reflexão sobre Maria nos leva ao reconhecimento e à admissão da nossa culpa pessoal, portanto, a um confiteor sincero. Este sentimento de culpa aponta para a necessidade de nossa salvação e inclui a afirmação de se ter desviado voluntariamente da ordem da graça. Ele observa que em um mundo onde o sentimento de pecado, culpa e vergonha é enfraquecido, a Imaculada é de importância crucial como uma lição intuitiva para a pessoa humana desejada por Deus. Ele estava convencido da importância educativa e psicológica da mais pura de todas as mulheres, porque “o anseio mais profundo e verdadeiro da humanidade e de cada indivíduo é do homem paradisíaco”. 3
Finalmente, o Magnificat de Maria revela um realismo otimista no poder, na misericórdia e fidelidade de Deus. Com o seu hino de louvor, ensina-nos a formar uma relação harmoniosa entre o ser humano e Deus. Pe. Kentenich afirma que, com uma exceção (cf. Lc 1, 48b), todas as outras partes do Magnificat giram em torno do Deus eterno e do seu modo de governar. Assim deve acontecer com a melodia de nossas próprias vidas. 4
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1 Kentenich, José, Sobre a riqueza da pureza. Aforismos. Schoenstatt Verlag, 1968
2 Kentenich Josef, Maria, mãe e educadora. Uma Mariologia aplicada. Esboços de sermões de 1954. Schoenstatt Verlag, 1973, p. 362.
3 Kentenich Josef, A culpa da humanidade à luz da Imaculada, 8 Dezembro 1929 (unmanuscrito publicado, 26 Páginas), 21.
4 Cf. Kentenich Josef, Viver pela fé, Sermões em Milwaukee, XIII, Patris Verlag 1983, p. 171.
Fonte: s-ms.org