Ir. M. Nilza P. da Silva – Todos nós sabemos que uma copa do mundo tem vitórias e derrotas e que, muitas vezes, acontece o inesperado. Times que chegam muito fortes, perdem e voltam para casa. Anos de treinos, sacrifícios, exercícios, tendo em vista erguer a taça ou chegar bem perto disso, de repente parece que não valeram nada. Sem contar que a derrota foi assistida por milhões no globo terrestre, tirando lágrimas de uns e risos de outros. As lágrimas que escorrem pela face de jogadores que pareciam tão fortes, mostram quão difícil é ser derrotado, principalmente, quando a vitória era dada como certa, até poucos minutos antes.
É preciso saber lidar com as derrotas
Quantas vezes isso também acontece, não em um estádio, mas, no pequeno campo de nossa vida diária, sem grande público, mas, colocando no chão todos os nossos planos e esperanças. É um emprego perdido, anos de estudo para uma prova, na qual não somos aprovados, uma pessoa que amamos com todas as forças e que se foi, um ano inteiro de estudo que terá que ser repetido, porque não conseguimos administrar uma fase difícil na vida.
Num tempo em que há uma extrema cobrança pelo sucesso e a felicidade, em que, nas Redes Sociais, a vida parecer ser feita só de sucesso, não é difícil de entender porque o uso de entorpecentes parece fora de controle e leva a vida de tantos adolescentes, jovens e adultos por um túnel que parece sem saída. Onde a derrota é vista só como vergonha e fracasso, não se pode esperar ter pessoas motivadas e verdadeiramente corajosas e fortes. Para ser feliz é preciso saber lidar com os fracassos e derrotas, fazer deles degraus para a resiliência e para encontrar novos caminhos, antes não imaginados. Algumas dicas e exemplo que podem ajudar:
1. Admita que perdeu
É coisa de pessoas equilibradas e maduras saber admitir o fracasso, sem ficas justificando, buscando culpados ou fazendo de conta que nada aconteceu. Perder dói, faz sofrer, causa vergonha, essas emoções fazem parte da vida e é normal que a sintamos. Causa doença mentir ou fazer de conta que nada aconteceu.
Quando Ir. M. Emilie sente desanimo com seus constantes fracassos, Pe. Kentenich não diz para ela que as derrotas não existem, mas, a aconselha: “Deus escolheu os pequenos para envergonhar os que pensam ser alguém. Por isso, ame o seu nada, a sua pobreza, para que a onipotência de Deus se glorifique em sua pequenez.”[1].
2. Tire lições da derrota
Avalie o resultado sem julgamento, procure ver se há algum motivo objetivo que levou a derrota e como isso pode ser melhorado. Conta-se que Thomaz Edson fez muitas experiências fracassadas antes de ter sucesso na invenção da lâmpada. Mas, que a cada fracasso dizia: “Com isso, aprendi mais um jeito de não se inventar a lâmpada”. A vida continua e pode ser melhor se procurarmos reparar e corrigir os nossos erros.
A biografia de José Engling é repleta de seus erros e fracassos, mas, ele sempre os encarava com transparência e anotava as lições que havia aprendido com isso, não para sua vida futura, mas, para serem aplicados no agora: “Vou lutar e aspirar com a ajuda de minha Mãe. Quero tornar-me santo!”[2]
3. Continue com confiança
As derrotas fazem parte do sucesso! Elas abrem os olhos para ver que há outras possibilidades, antes não percebidas. Entregue a derrota para o Capital de Graças, reze, procure saber o que Deus deseja para os próximos passos, enriquecidos com a experiência do fracasso, faça planos e siga em frente. É Deus quem tem os últimos fios da história nas mãos e, como escreve São Paulo: “sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus.” (Rom 8, 28)
Pe. Kentenich diz que “a ousadia do santo consiste em saber construir ‘novo edifício’ sobre as ruínas.”[3] A existência de nossa Família de Schoenstatt mostra que ele mesmo é exemplo disso. Quando os Palotinos estavam derrotados, o seminário fora tomado pelos soldados, padres e seminaristas amontados em espaços apertados, sem lugar até mesmo para uma reunião, o olhar do Pe. Kentenich se volta para a capelinha abandonada e conhecemos como a história continua.
4. Vença pela filialidade
A maior vitória que uma pessoa possa conquistar por meio da derrota e do fracasso é tornar-se mais filial perante Deus e mais humilde perante o próximo. Essa vitória ninguém é capaz de nos tirar.
Diz o Pe. Kentenich: “Nossas misérias e fraquezas são os mais valiosos meios para subir e nos elevar a Deus. Como é grande o homem capaz de repetir e realizar a verdade: Deus me ama por causa de minhas faltas: porque sou pequeno, e não apesar de ser pequeno.”[4]
A Aliança de Amor com Maria é o melhor caminho para crescer na filialidade, Ela educa o filho que há dentro de nós, herança que recebemos pelo batismo. Entregue-se a Ela e deixe-se acalentar pelo seu coração de Mãe. Um modelo singular de sua atuação pedagógica é o que Ela realizou em Ir. M. Emilie Engel. Quanto mais Ir. M. Emilie se dava conta de seus limites, tanto mais ela confiava na vitória da graça divina em sua alma: “Tenho que chegar a ser um eterno hino de louvor à misericórdia divina”, anota com caneta vermelha em seu caderno.
Aproveitemos a saída do Brasil da Copa do Mundo 2022, para aprender a lidar com nossas derrotas pessoais, desilusões com outros e fracassos nas ações, para fazer deles um caminho para novas vitórias que transcendem o futebol. Como escreve Daniel, em uma carta aberta para Tite: “O resultado de um jogo nunca mudará o placar das nossas vidas (porque) existem medalhas que não se colocam no peito.”[5]
[1] Margareta Wolff, Meu Sim é para sempre, Emilie Engel,
[2] Olivo Cesca, Herói de duas espadas
[3] Pe. José Kentenich, Linhas Fundamentais de uma pedagogia moderna para o educador católico
[4] Idem
[5] https://www.instagram.com/danialves/