Pe. Rafael Mota* – “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel”. Talvez a mais célebre passagem da profecia de Isaías. Similar ao caso das mulheres estéreis, a concepção da virgem é fruto de uma ação extraordinária de Deus, em prol da salvação da humanidade. O Menino, ademais, carrega, em seu nome, sua função salvadora: Ele será Deus Conosco. Uma experiência profundamente redentora para o povo peregrino, para o resto de Israel. Um Deus que se faz pequeno, próximo.
Relação com Deus e o próximo
O Salmo 24 é uma espécie de cântico de procissão, um diálogo litúrgico realizado às portas do Templo de Jerusalém. O peregrino pergunta ‘quem pode entrar’ e o sacerdote responde, recordando a grandeza de Deus e as condições para que alguém venha ao seu encontro. O fundamental é perceber que a relação com Deus é inseparável da nossa relação com o próximo. De modo que à nossa geração é exigido justiça, integridade, verdade, pureza, inocência e fidelidade. Para saber mais, sugiro consultar o Salmo 15, que segue a mesma estrutura.
Chamados a sermos discípulos
Na segunda leitura, escutamos a introdução da carta de São Paulo aos Romanos. Muito além de uma apresentação e saudação inicial, estes sete versículos resumem a fé do Apóstolo. Ele sabe que sua vocação é anunciar Aquele prometido pelos profetas nas escrituras; O descendente de David; O Filho de Deus; Quem ressuscitou dos mortos pelo ‘Espírito de Santidade’, o Espírito Santo; Em definitiva, Jesus Cristo, nosso Senhor, de quem recebemos a graça e estamos chamados a sermos discípulos.
Esta confissão, como as instruções de um diretor de teatro, posicionam os atores no cenário: Nós seremos os amados de Deus, santos por vocação, e nesse ato realizamos uma performance de ‘obediência na fé’. Trata-se de uma história de amor e aventura, profundamente humana e divina. Que ademais, nos prepara para o Evangelho.
Maria gerou o Rei Jesus
Depois de 17 versículos com nomes difíceis de pronunciar, a famosa genealogia – as gerações desde Abraão até Davi, são catorze; De Davi até o exílio de Babilônia, catorze gerações; e do exílio na Babilônia até Cristo, catorze gerações – Mateus narra o nascimento de Jesus, por assim dizer, desde o ponto de vista de José. “A origem de Jesus Cristo foi assim”.
Os objetivos deste evangelho são: remarcar a realeza de Jesus por ser da descendência de David, deixar claro que Maria ficou grávida por obra do Espírito Santo, trazer à memória as promessas do Antigo Testamento e, finalmente, apresentar a vocação de São José.
Recebe Maria, como tua esposa
O texto logo apresenta um conflito: José e Maria estavam prometidos em casamento, eram noivos, não haviam concluído todo o rito e, portanto, ainda não lhes era legítimo ter relações sexuais. Como, pois, explicar a gravidez de Maria? Sendo José reconhecido como Justo, ela bem poderia ser denunciada como adultera, passível de castigo e desonra. Mas José seguramente a amava, por isso ensaia uma solução amarga: deixa-la em segredo.
“O Anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho”. Entra em cena uma intervenção divina extraordinária, um conselheiro onírico ao estilo de ‘voz da consciência’, que vem retirar o protagonista de seu estado de terror. “Ela concebeu pela ação do Espírito Santo”. Sem dúvida um alívio. Mas mal pôde respirar, recebe também uma missão especial: “Recebe Maria como tua esposa…tu lhe darás o nome de Jesus”.
A vocação de José
Assim, o texto nos permite testemunhar a vocação de São José. Despertando de seu estado de dormência – desses que muitas vezes experimentamos diante dos chamados que Deus nos faz – nosso Herói-Santo “fez conforme o anjo do Senhor havia mandado”. A fé lhe tirou da paralisia, da letargia, para que se colocasse de pé e realizasse o enfrentamento necessário. Ter como esposa a ‘Concebida sem Pecado Original’, a Mãe de seu Senhor, e cuidar do Menino, de modo que todos lhe conheçam como Jesus. “Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta”
* Pe. Rafael Mota pertence ao Instituto dos Padres de Schoenstatt