Thainá Belo* – Os bebês já nascem curiosos e com os olhos abertos. As refeições em família competem com a pressa do trabalho. As agendas das crianças estão quase tão lotadas quanto à de um executivo, e assim… escorrem entre os dedos o tempo oportuno de “ser família”.
Tempo para ser família
O tempo oportuno parece uma utopia, privilégio de poucos ou um sacrifício muito duro diante das exigências da vida. No entanto, o tempo oportuno pode ser muito mais simples e acessível do que o mundo moderno nos fez acreditar. Antes das grandes oportunidades de um período de férias, existe o pequeno instante de cada dia. Vamos refletir sobre eles a partir de alguns exemplos práticos.
Um cenário comum: saltar da cama, fazer café, vestir o uniforme nos filhos, se apressar para a caminhada ou para o carro, começar o trabalho… Pode parecer impossível encaixar na rotina um momento oportuno para estreitar os vínculos e fortalecer valores. Porém, a verdade é que na labuta diária, se nossa meta for procurar oportunidades, talvez só encontremos frustração.
Como encontrar o momento oportuno
A solução para encontrar um instante como esse está no espírito com o qual conduzimos as nossas atitudes e afetos, independente do tempo. Esse espírito pode ser traduzido da seguinte forma:
Dicas para o dia
- Ao levantar, ao menos traçar sobre si o sinal da cruz, para lembrar-se que é cristão e unir-se interiormente àquele que te deu mais um dia de vida;
- Colocar boa vontade no preparo do café;
- Acordar e vestir as crianças sorrindo, para que o mau humor consequente das noites mal dormidas não contamine o ambiente e nem a alegria natural da infância;
- Ao caminhar ou dirigir com os filhos, conduzir uma breve oração na ida e relatar sobre o seu próprio dia, convidando-os a partilhar sobre suas pequenas aventuras no caminho de volta.
Dicas para a noite
- Que o cansaço e os problemas do dia nunca sejam “descarregados” sobre aqueles que te esperam em casa;
- Se o jantar for a única refeição em conjunto possível, que seja feita à mesa, sem telas e com muita disposição para ouvir e criar laços de confiança que os tornem bons conselheiros aos olhos dos filhos;
- E antes de dormir, que seja criada uma pequena tradição, seja uma oração, leitura, um gesto de carinho ao pôr na cama. Essa repetição aconchegante é capaz de curar as feridas ocorridas durante dia em si e nos filhos, além de criar memórias saudáveis e inesquecíveis.
O valor do descanso
Quando aprendemos a viver de forma oportuna em meio à correria dos compromissos diários, fica mais fácil compreender que também tem valor de eternidade o descanso. A grande diferença de quem aprendeu a ser feliz nos contratempos é que deixou de viver no automático e deu novo espírito às atitudes diárias.
Na história da criação, até Deus, que é incansável, descansou para nos ensinar que é preciso despertar para a necessidade humana do repouso, contemplação e lazer.
A pausa externa favorece as conexões internas
O descanso, portanto, é um direito civil, mas também divino, que oportuniza por excelência, a reorganização das nossas necessidades físicas e espirituais. Se bem aproveitado, esse é um dos melhores momentos para voltar-se para Deus e para a família. Uma vez que, é preciso encher-se Dele para poder Dá-lo ao outro.
Olhar atento
A constante presença no lar nos dá a oportunidade de perceber com maior clareza o que está fora do lugar e o que precisa de reparo. Para isso, é preciso a disposição de observar a nossa volta com atenção, ou seja, com abertura e propósito de cuidar. Mas a cautela é importante: colocar em prática o olhar atento, não significa uma vistoria fria e recriminadora dos erros e desajustes (pois isso não é ser família, mas um tribunal). Então, a partir da clareza de quem são os nossos e como estão, fica mais fácil ajudá-los a superar as dificuldades e corrigir erros ou aprender virtudes.
Criar memórias
As férias também dão oportunidades para criar ritos em família. As tradições de casa são pequenos hábitos ou momentos prazerosos vividos em conjunto.
Comece com uma rotina simples, escolhendo duas ou três ideias: refeições à mesa todos os dias; manhãs livres de pijama; um filme com pipoca toda semana; ir juntos à missa; recitar o terço todas as noites ou ao menos aos sábados; passeios ao ar livre; noites de jogos de adivinhação, mímicas, tabuleiros. É importante colocar uma pequena rotina nas férias para que a dispersão não ocupe todo o espaço disponível e tire a chance de estreitar os laços dentro do lar.
Plantar sementes de eternidade
Cultivar a fé também é dever das mães e pais de família, porém, se a formação espiritual e os momentos de oração têm sido raros na vida ordinária, o tempo de descanso é o mais oportuno para buscar a Deus. Sem pieguices ou duros sacrifícios, estar com Deus e plantar as coisas do Alto no coração dos filhos são atitudes que devem estar envoltas de práticas curtas, simples e respeitosas, mas constantes. Como a oração da manhã, da noite e no horário das refeições, além do bom exemplo das virtudes cristãs na vivência diária. Por isso, é tão importante priorizar atividades ou momentos que permitam a convivência e o diálogo nesses tempos livres, pois será através da prática das habilidades de escuta e partilha que serão ensinados, e conduzidos na fé, os filhos.
Por fim, lembre-se que a família também precisa conquistar-se em amor, respeito e confiança. Um lar não se constrói apenas de laços biológicos, mas de comunhão de almas.
* Thainá Belo é pedagoga especializada em neuropsicopedagogia.
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REFERÊNCIA:
FAUS, Francisco. A força do exemplo. 3. ed. Quadrante Editora, 2018, 128 p.