Um paralelo entre a mensagem do Papa sobre o zelo apostólico e a originalidade de Schoenstatt
Ana Cláudia Pereira* – Neste mês de janeiro, o Papa Francisco deu início a um novo ciclo de catequeses, que tem como conteúdo o zelo apostólico. Esse termo, definido pelo Santo Padre como “um tema urgente e decisivo para a vida cristã”, é familiar à Obra de Schoenstatt.
Já no Documento de Fundação [1], o Pe. Kentenich animava os congregados marianos a realizarem, na pequena Capelinha, sua “maior ação apostólica”: mover nossa Senhora e Rainha a estabelecer ali seu trono e distribuir seus tesouros. Posteriormente, a “Confederação Apostólica Universal” se tornou um dos objetivos de Schoenstatt, assumido a partir de uma ideia original de São Vicente Pallotti.
Esses dois exemplos são suficientes para mostrar que o ser apostólico não está apenas no nome, mas no “DNA” de Schoenstatt. No entanto, neste artigo, queremos nos deter em outro ponto: as graças do Santuário, em que o zelo apostólico também aparece de maneira acentuada.
Assim como são três as graças do Santuário, a catequese sobre “O chamado ao apostolado” foi dividida em três momentos, permitindo-nos fazer um paralelo entre a originalidade de Schoenstatt e a mensagem do Papa proferida em 11 de janeiro [2].
O olhar que acolhe
O texto bíblico que fundamenta a reflexão do Santo Padre é a vocação de São Mateus (Mt 9, 9-13). Relatando a própria conversão, o evangelista inicia dizendo que Jesus “vê um homem”. Isso significa que, ao contrário dos demais, Jesus não vê os adjetivos (“publicano”, “pecador”), mas vai à substância, vê cada pessoa.
“Jesus aproxima-se dele, porque cada homem é amado por Deus; “Até este desventurado?”. Sim, inclusive este desventurado, aliás Ele veio para este desventurado, diz o Evangelho: “Vim para os pecadores, não para os justos”. Este olhar de Jesus que é belíssimo, que vê o outro, quem quer que seja, como destinatário de amor, é o início da paixão evangelizadora.” [2]
Do mesmo modo, no Santuário, tudo começa com um olhar que acolhe. “Maria atrai a si os corações e lhes oferece um lar, respondendo ao grande anseio e desabrigo do homem […]”. Cada vez que passamos pela porta e contemplamos a imagem da Mãe, recebemos a graça do Abrigo Espiritual, que “nos é dada para que cheguemos ao coração do Deus Trino, princípio e fim de nossa vida”. [3]
Um movimento de transformação
A conversão de Mateus continua com um movimento. Ao ouvir as palavras de Cristo: “segue-me!”, Mateus se levanta. O Papa Francisco indica: “Por que é tão importante este detalhe? Porque naquela época quem estava sentado tinha autoridade sobre os outros […]. A primeira coisa que Jesus faz é separar Mateus do poder: do estar sentado para receber os outros, põe-no em movimento rumo aos outros” [2].
Depois do olhar, portanto, acontece uma mudança que dispõe para o serviço. No Santuário, igualmente, a “consequência lógica do abrigo é a transformação, pois o amor une e assemelha. Quanto mais levamos a sério nossa Aliança com Maria, tanto mais nosso ser assumirá seus traços, porque a verdadeira aliança é sempre um mútuo presentear-se” [3].
Isso significa que, para que a graça da Transformação Interior seja efetiva, também é necessária uma disposição para servir. É preciso mover-se, sair do comodismo. Somente a partir da entrega e empenho em nossa autoeducação, a Mãe poderá formar “o homem novo, o santo da vida diária”.
O anúncio começa hoje
O terceiro passo é a meta. Depois de levantar e seguir a Cristo, Mateus Lhe prepara um banquete, do qual participam outros publicanos. Ou seja, Mateus volta a seu lugar de origem, porém, retorna mudado e com Jesus.
“O seu zelo apostólico não começa num lugar novo, puro, num lugar ideal, distante, mas lá, começa onde vive, com as pessoas que conhece. Eis a mensagem para nós: não devemos esperar ser perfeitos e ter percorrido um longo caminho atrás de Jesus para dar testemunho d’Ele; o nosso anúncio começa hoje, lá onde vivemos.” [2]
No Santuário, Maria nos educa para sermos “instrumentos aptos em suas mãos”, concedendo-nos a graça da Fecundidade Apostólica. “Ela quer despertar nossa responsabilidade pela santificação e salvação do próximo” [3], isto é, de nossos familiares, amigos, colegas de trabalho.
No entanto, isso não acontece de maneira instantânea. Maria “conclama-nos a entregar em suas mãos, no Capital de Graças, todo o esforço na obra de nossa santificação própria e do cumprimento dos deveres, as orações e sacrifícios. Por sua mediação junto a Jesus, ela torna frutuoso todo o nosso agir, nosso viver e nosso apostolado” [3].
Testemunhar a beleza
O Papa Francisco finaliza apontando que, após sua conversão, Mateus “não começa procurando convencer os outros, mas testemunhando dia-a-dia a beleza do Amor que pousara o seu olhar sobre ele e o fez levantar-se” [2]. Também nós, não fazemos apostolado por nós mesmos, para formar “partidários”, mas para anunciar Cristo ao mundo. Pela força da Aliança de Amor, emprestamos à Mãe “nossas mãos, nossos pés, nossa boca, para que possa manifestar-se em nós e por nós” [3].
Referências:
[1] KENTENICH, Pe. José. Documentos de Schoenstatt. Santa Maria: Movimento Apostólico de Schoenstatt, 1995. 136 p.
[2] FRANCISCO, Papa. A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente 1. O chamado ao apostolado (Mt 9,9-13). 2023.
[3] A MENSAGEM da Aliança de Amor. Atibaia: Movimento Apostólico de Schoenstatt, [s. d.].
*Ana Cláudia Pereira é schoenstattiana e colaboradora da Comunicação Oficial