A Ir. M. Raquel relata as memórias da última visita do Pai e Fundador a Santa Maria/RS
Ir. M. Raquel Mainardi – O dia 14 de fevereiro de 1952 é marcado pela chegada do Pe. Kentenich a Santa Maria. Foi sua 10ª e última visita a Santa Maria e ao Brasil. Já exilado e a caminho para o destino de seu exílio, nos Estados Unidos, veio aqui pregar o “Terciado” aos Padres Palotinos.
Hoje, quando recordamos mais de 70 anos deste acontecimento, posso contribuir também com o meu testemunho. Como juvenista, tive o grande privilégio de estar presente já no momento de sua chegada, da qual guardo as mais gratas recordações.
Lembro-me de que chegou no fim da tarde, e havia um grande número de sacerdotes Palotinos, Irmãs de Maria e nós, as juvenistas, em torno de 60 vocacionadas, que aguardávamos ansiosos sua chegada em frente ao Santuário.
Ei-lo que chega! Alegre, descontraído e entusiasmado e com muita alegria e cordialidade veio ao encontro dos que ali se encontravam. Todos queriam lhe estender a mão. Foi aquela disputa para o cumprimentar e pegar sua mão, ou ao menos se contentar em alcançar um dos seus dedos. Não lembro qual consegui pegar, mas lembro bem que peguei um deles.
Com fé e muita piedade ele entrou no Santuário para saudar a querida Mãe e Rainha de Schoenstatt.
Um reflexo de Deus Pai
O que mais me tocou na pessoa do Pai e Fundador, nos dias que aqui esteve nesta visita, foram as Missas que ele celebrava no Santuário, algumas das quais nós podíamos também participar. Nestas Missas algo que me marcou e ainda visualizo em minha memória, é a unção com que ele nos dava a comunhão. Nós nos ajoelhávamos na mesa sagrada e ele caminhava ao longo da mesma para distribuir a hóstia; quando chegava no fim, pegava a patena, que cada uma segurava para comungar, voltava novamente para o início da mesa da comunhão. Caminhava de um lado para outro bem reto, com passos firmes e rápidos, tantas vezes quanto fosse necessário, até todos terem comungado. Impressionava-me a sua piedade e delicadeza ao dar-nos Jesus, mas ao mesmo tempo ele olhava para cada uma de nós.
Em tudo podia sentir que era alguém que estava entre nós, mas todo o seu ser era uma imagem viva de Jesus, um reflexo de Deus Pai.
Palestras aos domingos
Aos domingos, nós, juvenistas, podíamos também assistir as palestras que ele dava para o Movimento na Casa de Retiros. No dia 02 de março, participamos das 3 palestras que ele deu. Como éramos muitas, nos sentávamos nas duas grandes escadarias. Na primeira palestra deste dia, ele falou sobre significado do Jardim de Maria:
“O que nos diz a palavra ‘Jardim de Maria’ em seu sentido próprio, em nossa compreensão? É o Jardim de Maria da querida Mãe de Deus; ele pertence à Mãe de Deus. Neste jardim há diversos canteiros. Que aspecto tem os vários canteiros? O primeiro, segundo, terceiro, quarto canteiro? Lá no meio ainda há outro, o último canteiro. Nos canteiros há flores. Eu deveria conhecer melhor a botânica para sinalizar as flores. Quem são estas flores? (O primeiro canteiro) são os nossos padres: ‘Dente de leão’. Minha sabedoria já terminou. O 2º canteiro…, o 3º canteiro…, o 4º canteiro – os Ramos, e depois o 5º canteiro, a ‘jovem verdura’… Trata-se de descobrir qual a flor que expressa mais o nosso modo de ser.” (cf. J. Kentenich, O testamento do Pai Fundador, 02.03.1952)
Ao falar sobre a “jovem verdura” referiu-se às juvenistas. Nós não gostamos da ideia de ser verdura, pois também queríamos ser uma flor no Jardim de Maria.
Violetas no Jardim de Maria
Lembro que formamos um grupinho de juvenistas para ir falar sobre o assunto com ele. Éramos umas 4 ou 5 e entre elas estava, a Ir. M. Assunta, que falava alemão. Eu também fui junto, pois queria dar minha sugestão e chegar mais perto do Pe. Kentenich. Antes da palestra da tarde fomos ao segundo andar da Casa de Retiros, à esquerda de quem sobe as escadarias, e ficamos esperando perto do quarto dele, aguardando sua saída para dar a palestra. Ao sair do seu quarto ele nos cumprimentou com muita alegria e amabilidade. Nós logo lhe apresentamos a humilde queixa, de que não queríamos ser verdura, mas flores, ao menos violetas escondidas debaixo das folhas verdes. Ele nos ouviu, sorriu e demostrou muita alegria com a nossa reclamação. Descemos a escadaria radiantes, sentindo-nos vitoriosas.
Ao iniciar a palestra ele disse: “Primeiro devo corrigir um erro. Hoje de manhã descobrimos verdura no Jardim de Maria. A verdura se defendeu. De certo troquei violetas com verdura. De cima só se pode enxergar o verde, mas embaixo está cheio de violetas”.
Não sei se podem imaginar a alegria estampada no rosto das mais de 60 juvenistas, ao ouvirmos isto dele. Estas palavras e o gesto do Pai ficaram gravados bem profundamente em mim, que as guardo até hoje.
Quis a Providência Divina mostrar sua predileção comigo, também de poder ver o Pai pela última vez no dia do meu aniversário, 10 de março de 1952. Sou também profundamente grata à Mãe de poder testemunhar já tantas vezes em palestras ou individualmente a vivência de ter conhecido o Pai e Fundador, embora ainda pequena.
Hoje posso expressar um pouco minha gratidão ao Pai e Fundador pelo desempenho da tarefa que me foi confiada na secretaria da causa de sua beatificação.
Ir. M. Raquel Mainardi
Atualmente responsável pelo Secretariado Pe. José Kentenich em Santa Maria/RS, que se empenha em prol da beatificação do Fundador da Obra de Schoenstatt.
Fonte (texto e fotos): Santuário Tabor
Eu em março de 1952, ainda não havia completado 10 anos, em Santa Maria.Como aluno da Escola São Pedro, na vila Montanha Russa, coordenada pelo Padre Gabriel Bolzan, Palotino da Igreja Nossa Senhora das Dores, encarregado das Capelas pertencentes à Paróquia, entre as quais, uma existente na Montanha Russa e junto o funcionamento da escola de nível Primário, cujas docentes eram Irmãs de Maria de Schoenstatt. Minha professora, Irmã Maria Aparecida, encarregou-me de fazer uma Homenagem ao Padre Kentenich, o que fiz, frente a ele e um público número, que se colocara na Esplanada do Santuário de Nossa Senhora Três Vezes Admirável. Tratava-se de um poema, pesquisado por Irmã Maria Aparecida. Tenho grandes recordações, especialmente por estar, na oportunidade, aos cuidados de minha querida mãe, Leopoldina, devota fervorosa de Nossa Senhora. Leopoldina faleceu aos 99 anos e sete meses, lúcida e rezando junto aos filhos que a acompanhavam. Emocionante a passagem dela, para o encontro com o Criador.
Que bênção! Agradecemos pela partilha!