Ir. M. Nilza P. da Silva – Acompanhamos, nesse tempo de quaresma, a caminhada de sofrimento de Jesus, até o Calvário, que teve com fim, sua ressurreição. Nessa caminhada, refletimos sobre nossa incorporação nele, realizada no batismo, que dá sentido ao sofrimento humano e a toda nossa vida. O fato de sermos o corpo místico de Cristo faz crescer nosso amor humano e nos compromete com os mais necessitados.
Fazemos essa caminhada como Igreja Católica do mundo inteiro, o que fortalece e une nosso empenho na construção do Reino de Deus, na transfiguração da realidade em que vivemos.
Em sua mensagem, o Papa Francisco convida-nos a acompanharmos os apóstolos e Jesus, na subida e na vivência do Monte Tabor, que é tema do evangelho do segundo domingo da Quaresma. Ele nos convida a fazermos juntos um caminho de exercícios espirituais, “num empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz.”
O objetivo, diz o Papa Francisco, é “aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, para compreender e acolher profundamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si mesmo por amor, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho…” O Papa lembra que a sinodalidade está presente na subida ao Monte Tabor: Os apóstolos sobem juntos, em três.
A experiência da graça da transfiguração é comunitária
Se queremos seguir a Jesus e renovar a sociedade, isso só é possível se aceitarmos trilharmos juntos o mesmo caminho, com Jesus, porque Ele é o verdadeiro caminho. O Papa destaca duas atitudes importantes na vivência da transfiguração do Senhor e as propõe a cada um de nós:
1. A escuta.
“A ordem que Deus Pai dirige aos discípulos no Tabor…: «Escutai-O» (Mt 17, 5).” E o Papa explica que “a primeira indicação é muito clara: escutar Jesus. A Quaresma é tempo de graça na medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos fala. E como nos fala Ele? Antes de mais nada na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na Liturgia.” Ele nos convida a valorizarmos a Palavra de Deus, se não pudermos participar da missa diária, ao menos lermos as leituras bíblicas do dia. O Papa chama nossa atenção para escutarmos também o Senhor que nos fala por meio de nossos irmãos, sobretudo naqueles que precisam de ajuda. Mas, destaca ainda outra escuta muito importante, nesta caminhada sinodal: “a escuta de Cristo passa também pela da escuta dos irmãos e irmãs na Igreja.”
2. Não tenhais medo.
A segunda atitude que o Papa destaca como importante para esta quaresma é a coragem. “Ao ouvir a voz do Pai, «os discípulos caíram com a face por terra, muito assustados. Aproximando-Se deles, Jesus tocou-lhes dizendo: “Levantai-vos e não tenhais medo”… E aqui temos a segunda indicação para esta Quaresma: não refugiar-se numa religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de sugestivas experiências, levados pelo medo de encarar a realidade com as suas fadigas diárias, as suas durezas e contradições.”
Jesus está conosco.
Ele caminha ao nosso lado nas subidas desta vida. A fraternidade nasce da espiritualidade, do encontro com Jesus e, ao mesmo tempo, ser fraterno é ver e encontrar Jesus no próximo. Por isso, a Igreja no Brasil, ano após ano, chama nossa atenção para isso, com a Campanha da Fraternidade. Os apóstolos não permaneceram na maravilha da visão transfigurada de Jesus. Mas, esse encontro pessoal com sua divindade lhes deu forças para descer e transfigurar a realidade em que viviam.
Jesus se transfigura em nossa realidade, assumindo o rosto de nossos irmãos e se estamos abertos para amá-lo e servi-lo nessa realidade, ajudamos para que nosso Brasil se torne um Tabor, onde todos podem exclamar: Aqui é bom estar!
Neste ano, a CNBB nos convida a compaixão e responsabilidade cristã com todo aquele que passa fome. “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mateus 14, 16) Este pedido de Jesus, encontra-se no evangelho que narra o milagre da multiplicação dos pães. Jesus percebe a fome do povo e sente compaixão. No evangelho vemos que os Apóstolos seguem as duas indicações que o Papa Francisco cita no Tabor:
Eles escutam. Não negam o pedido de Jesus. Podemos dizer que ao olhar a compaixão de Jesus e a necessidade do povo, eles também se comovem. Mas, não sabem o que fazer e explicam para Jesus que ali há somente dois peixes e sete pães. Isto é, eles reconhecem a incapacidade para resolver o problema, mas, ao mesmo tempo não fogem: colocam ao dispor tudo o que tem, mesmo sabendo que é nada.
A coragem: Eles não têm medo de apresentar a Jesus e aos presentes tudo o que possuem, mesmo sabendo que era insuficiente. Então, Jesus transfigura essa realidade. Ele abençoa esses alimentos e todos são saciados.
Aproveitemos essa quaresma para subirmos ao Monte, com Jesus, e escutarmos a necessidade de tantos irmãos famintos, que estão bem perto de nós, nas ruas e nas casas. Há fome de pão, mas, há também muita fome de unidade, fome de amor, fome de ser acolhido e compreendido, fome da Palavra…
Escutemos a Jesus que nos diz:
“Dai-lhes vós mesmos de comer!” e tenhamos a coragem de nos doarmos para transfigurar a realidade e, a partir do meu pequeno núcleo de convivência, comece a nova sociedade tão sonhada por nosso Fundador, o Brasil se torne um Tabor. A Mãe de Deus selou uma Aliança de Amor conosco e pode realizar milagres, se nós lhe dermos oportunidade para isso.