Neste 3º Domingo da Quaresma, continuamos a série de meditações a partir do livro Cristo Minha Vida. O excerto de hoje nos aponta que, para chegar a Jesus, é preciso elevar-se ao alto e, ao mesmo tempo, tornar-se pequeno:
Procurar um caminho para as alturas
Posso dizer-lhes algumas palavras sobre a proximidade com Cristo? O que devemos, pois, fazer para chegar até Jesus? São apenas umas indicações simples, singelas. Eu as apresento de um modo popular, mas depois detenho-me um pouco em um ou outro ponto, que desejo para mim mesmo como presente de onomástico. Sim, proximidade com Cristo!
1. Não acham que nós todos, com o tempo, deveríamos ser pequenos “Zaqueus” (cf. Lc 19,1-10)? O que fez Zaqueu para chegar a Jesus? (Resposta: “Ele subiu numa figueira!”) Mas não só isso. Correu à frente, deixou a massa e procurou um caminho para as alturas. Isto é sumamente importante. Vejam, se quisermos encontrar Jesus, devemos vencer em nós todo o tipo de psicose das massas, e então, ficar solitários e ver essa solidão como uma grande união a dois.
Poderão provar facilmente, também em sua vida, como Deus permite que muitas vezes nos desiludamos de todas as coisas terrenas. E por que Ele o faz? Deseja que deixemos a massa, deseja que subamos na árvore, subamos às alturas. […]
Participar da solidão de Cristo
Devem refletir quantas vezes realmente encontramos a Jesus quando nos foi dado participar de sua solidão, de sua profunda solidão. Dificilmente se encontra na Sagrada Escritura algo mais belo do que as palavras: “Jesus autem tacebat” (Mc 14,61: Jesus, porém, se calava). Ele foi o grande solitário.
Devem examinar como Ele foi pouco compreendido; nem mesmo por sua Mãe foi compreendido. Não foi absolutamente compreendido por seus apóstolos. Podia dizer o que quisesse, fazer os milagres que quisesse, eles não o compreenderam. No máximo podia haver um jorro, um jato momentâneo de compreensão, mas logo em seguida a torrente voltava a desaparecer.
Incompreensão absoluta! Vejam, mesmo assim, Ele gostava de se reunir logo com os seus. Se nós mesmos estamos na solidão, se sabemos que não somos compreendidos, vamos ter muito mais depressa com Jesus solitário. Portanto, quando Jesus nos quer atrair a si, temos que ser desiludidos, devemos deixar a massa, ou de modo totalmente espontâneo ou, então pelas circunstâncias, que opõem barreiras intransponíveis. (…)
Tornar-se pequeno e humilde
2. Um segundo e belo meio para chegar à proximidade com Cristo é a humildade, o ser pequeno.
Em Copenhague existe numa igreja uma conhecida pintura de Thorwaldsen. Apresenta Jesus sob um ponto de vista que é dado pela inscrição: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sob o peso do fardo, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). A pintura é muito célebre e muito procurada por visitantes de perto e de longe. Conta-se que outrora um nobre do reino lá esteve e, diante da pintura, balançou a cabeça e disse: Por que esta pintura é tão célebre? Não vejo nela nada de mais. A resposta foi: se quiser compreender a grandeza da pintura, deve olhá-la de baixo.
Olhar a pintura de baixo! Entendem o que isso quer dizer? E algo sumamente valioso o que Deus concedeu à nossa Família: vemos Deus e o divino, Jesus e sua Mãe, sempre de baixo. O que isso quer dizer? Se quisermos compreender Jesus, devemos tornar-nos pequenos, tornar-nos humildes.
Solidão silenciosa, e uma pequenez profunda, recolhida em si! Ser pequeno como Jesus se fez pequeno. “Exinanivit semetipsum” (Fil 2,7: Aniquilou-se a si mesmo). “Christus factus est pro nobis oboediens usque ad mortem, mortem autem crucis!” (Fil 2,8: Cristo se fez obediente até a morte, e morte de cruz). (…)
Um aparente paradoxo
Sabem, agora poderíamos permanecer aqui por muito, muito tempo, porque se trata de um tema predileto. E se quiserem anunciar o nosso mundo não só com a boca, mas também elaborá-lo em suas cabeças e fazer com que penetre em seus corações, não chegarão tão facilmente ao fim se não deixarem penetrar em sua vida, com toda a sua plenitude a singela expressão: contemplar a Jesus de baixo, contemplar o Pai de baixo, contemplar a Mãe de Deus de baixo! (…)
Por isso, mais uma vez repito: se quisermos entender Cristo devemos não só elevar-nos ao alto e deixar a massa, mas – aparentemente é um paradoxo – mover-nos para baixo, ser pequenos. De fato, também Zaqueu era pequeno em estatura. Devemos ser pequenos, sentir-nos pequenos, olhar Cristo a partir de baixo, aprender a nos sentir pequenos e desvalidos em relação a Ele. (…)
FONTE:
KENTENICH, J. Cristo Minha Vida. São Paulo: Instituto Secular Padres de Schoenstatt, 1997.