Daniel Bueno* – O anseio pela felicidade é algo que faz parte de nossas vidas e afeta todas as nossas decisões, tanto para agir quanto para não agir. Buscamos dinheiro, bens, honra e prazer porque queremos ser felizes.
Muitos de nós, como homens, consciente ou inconscientemente, amamos a Deus e procuramos ser fiéis a Ele para sermos felizes. Buscamos fontes de felicidade variadas, algumas limpas e puras, outras turvas e envenenadas.
O trabalho: fonte insubstituível de felicidade
Dentre as fontes puras de felicidade está o trabalho. Quantas vezes experimentamos isto em nossa vida, não é? Com isso, podemos nos perguntar: Podemos ser felizes com pouco ou nenhum trabalho e abandonados aos nossos pensamentos e sonhos? De maneira nenhuma! Nos períodos de nossas vidas em que nos sentimos infelizes, nos tornamos pessoas difíceis de se lidar, um fardo para aqueles que nos rodeiam, a quem também tornamos infelizes.
Poder trabalhar é a melhor forma de trazermos felicidade para a nossa família, vivendo com satisfação e alegria. O trabalho é uma fonte de felicidade real e insubstituível.
Como pais, devemos dar valor ao trabalho e o comparar com a felicidade do Céu. Isso mesmo, com o Céu!
Mas, como é a felicidade do Céu?
Muitas pessoas imaginam como o ápice daquilo que foi a felicidade na terra: para os cansados, descansará dos cuidados deste mundo; para os famintos, um banquete digno de um rei. Todas essas coisas simbolizam a essência da felicidade do Céu, pois seremos participantes da vida de Deus, de uma maneira especial e alegre. Quando rezamos pelo descanso eterno dos mortos, queremos dizer que Deus o liberte das preocupações da vida terrena e o liberte dos cuidados do trabalho terreno. “Que descanse em paz!”
No entanto, Santo Agostinho chama a paz de “tranquilidade ordinária”, e o resto será alcançado por ser integrado na ordem desejada por Deus. Isso significa que os bem-aventurados no Céu, descansam possuindo a Deus e participando de Seu amor e conhecimento.
A felicidade do Céu consiste em participar na atividade criadora do Deus que se doa. E é aqui que chegamos no ponto da figura de um
“Verdadeiro pai de família”!
O pai de família é um homem que sabe e reconhece a nobreza do trabalho! Afinal, é também uma atividade semelhante ao conhecimento e amor dos bem-aventurados no Céu. Além disso, o trabalho é, embora imperfeitamente e muitas vezes diferente, a participação na atividade criadora do Deus que se doa.
Deus como Criador, está sempre trabalhando, sempre presente através de Sua atividade criativa. Ele cria, conserta e sustenta a vida de cada pessoa e tudo o que Ele faz, Ele faz por amor, por amor e por amor. O amor é a lei fundamental da família e Deus mostra-nos o seu amor através de sinais sensíveis, para nos conduzir a uma profunda união com Ele.
O significado do trabalho
O significado mais profundo do trabalho e de toda a atividade humana é imitar e participar desta atividade criativa de Deus. É por isso que grande parte da felicidade e alegria que o trabalho produz, escapa àqueles que o veem apenas ou principalmente como uma maneira de “ganhar a vida”. O trabalho faz-nos felizes na medida em que nos permite desenvolver a nossa criatividade e doar-nos, dar-nos aos nossos filhos e esposa, mesmo quando não nos traz benefícios econômicos. O trabalho acalma o corpo e a alma, ajuda a desenvolver o núcleo da personalidade e produz uma autoestima saudável, preserva-nos de muitas tentações e pecados e permite nos comunicar mais facilmente com Deus.
Suponha que eu seja um professor, marceneiro ou cozinheiro. Quanta criatividade estes trabalhos despertam e quantas oportunidades oferecem para dar e receber amor! Quem nunca experimentou as inúmeras bênçãos que vêm com esse tipo de trabalho…
Superar o que escraviza
Em vez disso, como o trabalho é diferente quando não tem uma ligação direta com a criação de algo para alguém. Quando não se é um “criador”, mas apenas um “agente de produção” que executa uma tarefa mecânica e rotineira apenas para sobreviver. Tal como acontece com o desemprego, este tipo de trabalho produz insatisfação, torna as pessoas fracas e reféns dos baixos instintos e receptivas a tendências que procuram enfraquecer as suas estruturas familiares.
Infelizmente, hoje existem muitos homens (e mulheres) que são forçados a realizar um trabalho exaustivo, que o tira de sua família e o coloca dependente de corporações e grandes empresas. Há muito poucos que ainda podem escolher seu trabalho. Para nós, meus irmãos schoenstattianos, cabe superar os perigos envolvidos na mecanização do trabalho e nessa escravidão mascarada de sucesso corporativo.
Dar sentido ao trabalho
Segundo o Pe. Kentenich, existem meios e caminhos que nos ajudam a dar sentido ao trabalho. Teoricamente parecem fáceis, mas na prática, exigem uma capacidade genuína de compromisso e um vigoroso espírito de sacrifício para com a família.
Quando o trabalho, seja em nossa atividade remunerada ou aquele que temos de fazer em casa para ajudarmos nossa família, se tornar tedioso para nós, podemos vê-lo como um serviço ao bem de nossa família. Temos de lembrar que nossa contribuição, embora muitas vezes seja silenciosa e oculta, é valiosa para o grande projeto de Deus para aqueles que amamos e somos responsáveis.
Certa vez li, que um jovem soldado disse que: “Quando tenho que descascar muitas batatas, sempre canto uma música feliz. Gosto muito de cantar e podia cantar e dedicar-me à música o dia todo. Faço o mesmo enquanto limpo e lavo. Eu não gosto dessas tarefas. Mas, se eu cantar uma música feliz e trabalhar ao ritmo da música, todo o trabalho é feito rapidamente e eu estou feliz e satisfeito.” Me identifico muito com essa história e sempre que faço algum trabalho e atividade em minha casa que não gosto muito, coloco o meu fone e escolho a minha “playlist” do Spotfy chamada “Bueno at Work” :).
Tenho a plena convicção que o trabalho não deve ser algo que me distância da vida familiar. Mas, mas também tenho a consciência que nem todos podem trazer seu trabalho para a sua casa e estar 100% presente de maneira física. Há muitas formas dignas e justas de se trabalhar por sua família. Mas, nada deve lhe transformar em um personagem de vida dupla: o homem corporativo, o homem da casa, o homem da igreja, o homem de sua esposa… Temos que procurar ser um homem íntegro e sem “facetas” e para isso existe apenas uma forma:
“Estar presente e me doar ainda mais!”
Pense que se, como homens, ficamos muito tempo fora de casa, por conta do trabalho, podemos substituir essa ausência física por atividades criativas desenvolvidas no tempo livre que temos. Podem ser atividades de caridade em família, algum estudo em família, atividades esportivas em família, leituras noturnas com os filhos, os cuidados com o jardim de casa ou limpar a caixa d’água. Não importa qual atividade escolhamos, o importante é desenvolver nossa criatividade e encontrar canais adequados para nos entregarmos aos outros. Caso contrário, estamos sujeitos a recorrer para compensações que muitas vezes são perigosas, como exemplo, escolher atividades de lazer que me distanciam ainda mais. Jogar bola, ligar o vídeo game ou pescar todo o fim de semana e deixar minha família sozinha, podem ser algumas delas.
Eu sei, são muitos desafios e o fardo parece grande e pesado de se carregar. Meus irmãos, eles exigem um alto grau de amor a Deus que um “verdadeiro pai de família” deve buscar.
Maria nos educa para o sacrifício
Temos de crer que a força da Aliança de Amor com a MTA pode despertar nossa criatividade e disponibilidade para se doar. Nossa Senhora nos ajuda a aumentar os dons, que colocamos a disposição e que doamos aos outros, e os eleva a um nível que vai além do meramente natural. Por isso, quando formos realizar um trabalho frustrante, tedioso e monótono, tenhamos, como um verdadeiro pai de família, um espírito sacrifical. Que assumamos este sacrifício como uma grande oportunidade para “suprir no seu corpo o que falta na paixão de Cristo” (Cl 1, 24); deste modo, poderemos promover, defender e assegurar o espírito do Céu na Terra.
Cristo nos ensinou a fecundidade do sofrimento dizendo: “Quando Eu for levantado na Cruz, atrairei todos a Mim” (Jo 12, 32). O desemprego e o trabalho insatisfatório são uma cruz para muitos de nós. Para qualquer um isso é uma cruz muito pesada. Mas, sabemos que, quando é um trabalho dignificado naquela cruz, nossas vidas ganham profundidade porque se unem a Cristo e Nele levaremos mais e mais pessoas para o Céu.
Esta visão das coisas permite-nos nunca nos faltar oportunidades para desenvolver a nossa criatividade e para nos entregarmos de maneira plena e completa para nossa família.
Que São José interceda as graças que mais precisamos para que sejamos “verdadeiros pais de família”, assim como ele foi.
Referência Bibliográfica:
Santidad, ¡Ahora! – Textos Del P. José Kentenich, Pe. Jonathan Niehaus
*Daniel Bueno é esposo da Miriam Maria e pertencem ao Instituto de Famílias de Schoenstatt