Neste 4º Domingo da Quaresma, damos sequência à série de meditações a partir do livro Cristo Minha Vida, uma coletânea de textos do Pe. José Kentenich sobre a pessoa de Cristo e nossa relação com Ele.
Neste post, o trecho da obra indica que a incorporação em Cristo é o que nos leva à filialidade. O capítulo do livro está reproduzido na íntegra; apenas os subtítulos foram adicionados (assim como nos posts anteriores), para facilitar a leitura. Leia a seguir:
“Há duas grandes misteriosas verdades que trazemos em nós e que experimentamos encarnadas em nós: a filiação divina e a incorporação em Cristo. Ambas se condicionam mutuamente. (…)
Através do mistério da incorporação em Cristo, na qual fomos introduzidos pelo Batismo e que, através de cada Santa Missa, é renovada e aprofundada de modo único, participamos pelo ser – e isto é o mais importante – da vida de sofrimentos e de glórias de Jesus. Existe uma misteriosa união a dois, pelo ser, entre nós e Jesus. Por meio de que? Pelo mistério do Batismo que atinge sua plena maturidade, como repetidamente o ensina a Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosantum Concilium), na participação não só na vida de sofrimentos, mas também na vida transfigurada de Jesus. (…)
O impulso da filialidade
A incorporação em Cristo, captada na fé, aponta-nos em primeiro lugar a compreensão sobrenatural do impulso original da filialidade. Se nos concebermos como filhos de Deus, podemos lançar mão do impulso original de nossa natureza, ou seja o impulso da filialidade. Isto já é algo grande, mas não é suficiente. Os cristãos devem ter todos os seus impulsos “batizados”, e portanto, também este. E porque, conforme o ser, somos elevados à participação no ser filho do Unigênito de Deus, o impulso da filialidade recebe uma coloração sobrenatural, e mais: é elevado totalmente à esfera sobrenatural.
Assim, a minha filialidade pode ter, não só uma coloração mais forte ou mais fraca de uma filialidade natural, – isso também deve dar-se – mas ela deve ser mais e mais elevada à realidade do além, à realidade sobrenatural, ou seja, a um mundo que o homem de hoje, o cristão de hoje, dificilmente conhece. Portanto, o impulso filial é elevado à realidade sobrenatural através da participação da vida de Cristo. Com isso participo, de modo misterioso, na filiação, na condição de filho que Jesus tem em relação ao Pai. Assim, o conceito “filho do Pai” é abrangente, pois inclui em si todo um mundo cheio de mistério.
O impulso à maternidade e paternidade
Segundo: aqui se encontra também, o fundamento da elevação à ordem sobrenatural do impulso à maternidade e à paternidade.
Terceiro: a incorporação eleva o impulso da virgindade ou a experiência da virgindade para o além, para o mundo e a realidade sobrenatural.
Posso lembrar, ao menos brevemente, o que isso significa? O impulso à paternidade ou à maternidade é inato à natureza, à natureza do homem e respectivamente, à natureza da mulher. Pelo fato de participarmos da vida de Jesus, pelo fato de nos tornarmos membros do Corpo de Jesus, a nossa relação com o Pai é, mais uma vez, ordenada. Tornamo-nos participantes, de modo sobrenatural da filiação de Jesus, e, com isso, a atitude fundamental em relação ao Pai recebe um novo fundamento. Se quisermos imitar o Unigênito, se Cristo deve viver em nós, então sua filiação, sua relação filial deve viver em nós de um modo singular.
Se refletirem em que, propriamente, se fundamenta nossa imagem original de Jesus e como ela se manifesta a nós, teremos uma resposta parcial: em sua atitude fundamental em relação ao Pai. Esta é nossa imagem específica de Jesus.
A relação fundamental com a Mãe
Para dar uma resposta totalmente válida, num sentido geral, mas que, no entanto, não faz parte deste contexto que devemos fazer? Temos de considerar também sua relação fundamental com sua Mãe – aqui mãe considerada como símbolo de seu ser criatura: de um lado o Filho, Filho do Pai, e de outro lado, o Bom Pastor, que se doa de modo singular à sua Mãe como símbolo de sua entrega a todos nós. – Devemos aprofundar estes pensamentos, meditá-los profundamente, não só porque então se aprofunda em nós uma atitude fundamental natural- sobrenatural, mas também porque assim nos entendemos melhor uns aos outros.
FONTE:
KENTENICH, J. Cristo Minha Vida. São Paulo: Instituto Secular Padres de Schoenstatt, 1997.