Carla Beatriz Ozaki de Camargo* – Nos dias atuais é comum se ouvir por aí sobre a importância da leitura na formação da “sociedade”, de um “país”. Sendo eu uma professora de ensino fundamental, tenho na criançada, dos primeiros anos de ensino, meu material de trabalho, minha inspiração e devotamento. Não pode fugir do nosso olhar que a tal “sociedade” é constituída de indivíduos, únicos, irrepetíveis, e especialmente com aqueles na mais tenra idade é que devemos concentrar nosso esforço em despertar o gosto (e, por que não, o amor?) pelas letras. Sem dúvida, o método de alfabetização dos meninos e meninas influi decisivamente neste trabalho, sem muitos modismos. Mas, esse é um tema que demanda muita análise e reflexão, demais para essas poucas linhas.
Um significativo obstáculo se impõe ao desenvolvimento do hábito da leitura. O livro não carrega os estímulos imediatos das mídias modernas. Ao folhear as páginas impressas, o leitor deve mergulhar em si mesmo e, a partir daí, construir o mundo encerrado nas folhas brancas costuradas entre duas capas. É preciso treinar a mente para esta atividade, vencendo a tentação das informações instantâneas e variadas dos áudios e vídeos cada vez mais interativos de tabletes e celulares. Diante disso,
Como tornar a palavra escrita uma assídua companhia para crianças e jovens?
Minha experiência tem apontado uma ação que não demanda grandes recursos ou aparatos sofisticados: o simples gesto de ler um texto, contar uma história para uma criança. Frequentemente, encontro meus antigos alunos e uma das memórias evocadas por eles relaciona-se às contações de histórias, as “Horas do Conto”, como foram batizadas.
O ser humano gosta de histórias
Seja o mito criador de um povo antigo ou um conto de Natal, de Dickens. Aquele, narrado oralmente pelos mais velhos da tribo, reunida depois de um dia de caçada; o outro lido no aconchego de uma sala, em um dia frio e chuvoso. Com um chocolate quente, melhor ainda! Em ambas as cenas, temos pessoas compartilhando um passado, lembrando que viemos de algum lugar, que sofremos e rimos em comum e, num repente, temos um vislumbre do que virá depois quando aqui não estivermos mais.
Depois de tantas experiências partilhadas assim, vemos nosso imaginário mais robusto e rico, pois tomamos das experiências passadas soluções para nossos dilemas modernos, que bem lá no fundo, já aconteceram em tantos outros tempos, com pessoas em culturas tão diversas, mas de carne e osso como nós.
A importância de saber escolher
A escolha dos livros tem seu lugar de importância nesse processo. Sempre aposto nos clássicos, por definição aqueles títulos de valor universal, que venceram o teste do tempo. São lidos e relidos por gerações. Vidas de santos, heróis e seus feitos grandiosos nos relembram que somos vocacionados ao extraordinário, mesmo vivendo nosso simples cotidiano com amor e dedicação.
O mesmo se passa em Schoenstatt, com a vida de nossos heróis. Ao ler histórias, muitas vezes cotidianas, de nossos irmãos, podemos aprender muito com sua dedicação à Deus e à Obra, com seu empenho por sacrifícios e entregas, e também com suas dúvidas e angústias. Ler pode, seguramente, nos servir como caminho para amar, cada vez mais, nossa vocação e a história de nossa Família.
Ler em família!
Deixei propositalmente este tópico por último. Imaginemos uma leitura entre irmãos. O mais velho lendo para os demais. Dá para ver os olhos arregalados dos mais novos durante uma passagem emocionante ou assustadora. Um misto de admiração e inveja no caçula, que ainda não desvenda os sons registrados naquelas páginas, desejando um dia poder ser ele o leitor, foco da atenção dos demais. O pai se achega, pé ante pé, encontrando a esposa no corredor, preparada para arranjar os últimos detalhes, antes de encaminhar os filhos para a cama. Parados no limiar do quarto de dormir, acompanham o trecho final da leitura, iluminada por uma lâmpada, que lembra a fogueira daquele clã mencionado logo acima, num tempo distante. Não parece que entramos nesta cena? Essa é a mágica da leitura.
Apresentem-se novas tecnologias e facilidades na comunicação. Creio que ainda assim não superarão os vínculos criados numa família de leitores, onde se contam, uns para os outros, histórias fantásticas, dramas que mostram as debilidades humanas e os atos de superação que nos levam para o alto.
Leiamos!
Nossos antepassados gritam das estantes.
As gerações futuras esperam e merecem isto de nós.
* Carla Beatriz O. de Camargo pertence a Liga de Famílias, em Curitiba/PR, e o texto teve a colaboração de Ana Paula Paiva
Gostei muito de está mensagem a irmã e sobre pé e principalmente sobre a nossa mãezinha.