Quem se propõe a ser o “Pavilhão 26” nesse momento da história?
Romulo Romanato – Neste dia 6 de abril, celebramos a libertação do Pe. José Kentenich, nosso Pai e Fundador, do Campo de Concentração de Dachau. Essa data é um convite de Deus, para refletirmos sobre a atuação do Fundador ali.
Essa é uma bela oportunidade para refletirmos sobre o que ele viveu e o momento que estamos vivendo. Verás que ele foi vencedor e seremos nós também, na força da Aliança de Amor!
Logo ao chegar no Campo de Concentração em Dachau, nosso Pai e Fundador, Padre José Kentenich foi conduzido, em fila, a um lugar, onde os dados pessoais do prisioneiro eram registrados. Ali, o prisioneiro sentava-se em uma cadeira, era fotografado e registrava-se. Ao final, simplesmente para não pronunciar a palavra “seguinte”, o guarda apertava um botão que acionava uma agulha, que saltava do assento da cadeira e feria o prisioneiro. A reação de todos os prisioneiros era que, imediatamente, davam um salto, pois além do susto, tinha a dor.
Quando chegou a vez do Pe. Kentenich e foi acionado esse botão, mesmo sendo machucado, ele permaneceu sentado e aparentemente tranquilo, obrigando o guarda, muito admirado, a dizer-lhe que podia prosseguir. Essa era apenas o início da vivência de um Santo, no Campo de Concentração de Dachau.
“Nunca vi uma pessoa tão tranquila”
Ele foi conduzido, inicialmente, ao pavilhão 13, o pior de todos. A tática dos nazistas era simples: quebrar toda consciência moral dos prisioneiros, tirando-lhes a dignidade. Assim se esqueceriam de quem eram, de suas personalidades, e dominados pelo medo, dos castigos e sofrimentos ou da morte, seguiriam apenas e de modo desordenado os instintos humanos.
Nessa situação, testemunha o Reitor Heinz Dresbach que “nunca tinha visto uma pessoa tão tranquila como o Padre Kentenich. Os presos novos tinham muito medo e ele podia tranquiliza-los. Ensinou-lhes como podiam se comportar, para que não tivessem problemas com os responsáveis”. (Escritos de Dachau). Padre Kentenich sentia muita alegria, quando podia partilhar as partículas consagradas que recebia, clandestinamente, dos outros sacerdotes. Ficou cinco meses nesse pavilhão e, na sequência, foi transferido para os pavilhões 13 e 24, chegando finalmente, no pavilhão 26, onde ficou a maior parte do tempo em Dachau.
Tornar o pavilhão 26 um Farol
O pavilhão 26 abrigava os sacerdotes, principalmente os alemães. Padre Kentenich os encontrou moralmente abalados, vivendo pelo instinto do medo, da fome, da sobrevivência. A moral e a personalidade da maioria daqueles Sacerdotes, praticamente, estavam comprometidos, pois não pensavam e nem agiam como personalidades. Mas, a força mental do Pe. Kentenich era tamanha, que absolutamente nada o fazia temer, nada o fazia vacilar, tampouco reclamar, pois tinha a confiança absoluta na proteção da Mãe Três vezes Admirável e a Fé pratica na Divina Providência. Ele sabia que o bom Deus falava, com ele, por meio dos acontecimentos.
Sua missão era objetiva: transformar cada pavilhão, por onde passava, num Farol de Luz, no meio das trevas daquele Campo de Concentração. Se o Campo era um pedaço do inferno, Padre Kentenich construía, desde o primeiro momento, um pedaço do céu. Fez muitas coisas lá, a começar pela restauração moral dos sacerdotes, mostrando a eles a dignidade que tinham e que o Senhor, ao qual serviam, jamais os abandonou. Seriam eles os faróis para que, tantos quanto possível, pudessem ter suas mentes e almas iluminadas.
Ele era esse Farol
No início, muitos nem deram muita atenção, porque logicamente pensaram: esse discurso não suportará algumas semanas nesse inferno. Logo descobriram que ele seguia firme e que sua paternidade abrasava todos. Organizou o pavilhão, tinham as orações, celebrações, tudo as escondidas. Partilhava até a sua ração (assim era chamada a alimentação) para aqueles que necessitavam mais. Mostrou-lhes que a Mãe de Deus iria se Clarificar, a Mãe de Deus seria a Vencedora. Aliás, a palavra vencedora não lhe saia dos lábios e, tampouco, do coração. Prestem atenção: Ele pregava retiro, em latim, aos sacerdotes naquele pavilhão. Repito: Ele pregava Retiro Espiritual, no meio do pedaço do inferno aqui na Terra. Escreveu o mais lindo documento de Schoenstatt, o Rumo ao Céu, no Campo de Concentração. O Hino da Minha Terra, sua obra predileta, iniciou numa noite em que a Pandemia do Tifo indicava a morte certa naquele Campo. Esse hino “foi escrito na noite mais sombria da prisão”, disse ele.
Nosso “pavilhão” atual
A vivência do Pe. Kentenich, no Campo de Concentração, durou praticamente quatro anos. É impossível escrever todas as experiências, nessas poucas linhas, e nem é o sentido do texto. Podemos falar disso em outro momento. O objetivo dessas linhas é fazer um paralelo entre o que ele viveu e a transformação que ele promoveu no Pavilhão 26, versus o momento que estamos vivendo. Não estamos em um Campo de Concentração e não desejo fazer nenhuma comparação, porque experiências de um Campo são inigualáveis e completamente diferentes da nossa situação atual.
Entretanto, vivemos muitas situações de violências e machuca-nos ainda mais quando são contra as crianças. O medo e o pânico, diante da possibilidade da morte, faz o homem cometer atrocidades, barbaridades nunca vistas e ele passa a ter um pensamento egoísta. Muitas vezes, podemos ter o desejo de fazer justiça com nossas próprias mãos. Isso me faz lembrar a passagem em que Caifás, numa reunião no Sinédrio, sentencia: Não é justo que todo o povo pereça. O texto diz assim:
“Entretanto, um dentre eles, chamado Caifás, que naquele ano era o sumo sacerdote, disse a eles: ‘Vós falais do que não compreendeis. Nem considerais que é do vosso interesse que morra um só homem pelo povo, e não pereça toda a nação.’” (Jo 11, 49-50) Assim foi decidida a morte de Jesus.
É possível transformar o “inferno” num pedaço de céu
Voltemos ao Campo de Concentração: O que o Pe. José Kentenich nos ensinou naquele Campo? Que não importa o inferno que estejamos vivendo, podemos sempre transformar esse inferno num pedaço do céu aqui na terra: podemos ser sempre um pavilhão 26.
Diante desse turbilhão de opiniões, decisões, decretos e leis, como eu, cristão schoenstattiano, me comporto? Como posso, transformar o meu lar, o meu escritório, o meu comércio, a minha família, a minha fábrica, a minha comunidade, no Farol Luminoso do pavilhão 26? Ou seja, ser um luzeiro nessas noites escuras.
Podemos fazer a diferença. A Mãe de Deus pode irradiar muita luz, por meio de nossos Santuários Lares, do nosso cantinho de oração. Basta que deixamos ser usados, como instrumentos, pela Mãe de Deus. Ela deseja, ainda mais do que antes, ajudar seus filhos.
Ela será a Vencedora
Não entre na onda do mundo, do que pensa um e do que acha o outro. Pense como um cristão, pense como um schoenstattiano. Pe. José Kentenich selou uma Aliança de Amor com a Mãe de Deus, no Santuário em Schoenstatt, e nós estamos inseridos nessa Aliança. Ela está cuidando, particularmente, de cada filho seu. Ela será a Vencedora, pois ela é a Rainha três vezes Admirável. Isso não pode sair de nossa mente nem por um instante: o mundo não está desgovernado e jamais estará. Deus sempre o está conduzindo, mas, muitas vezes a tinta de suas linhas, no escrever, é um pouco mais forte.
Nunca vivenciamos tanto a família como Igreja Doméstica
Olha o que o tempo de Pandemia resgatou: a Igreja doméstica. Estava adormecida e estava esquecida. Estava nas literaturas, mas o povo tinha se esquecido disso. Nunca tínhamos vivenciado, na prática, a experiência de ser a Igreja doméstica.
E depois dessa experiência, voltamos ao normal e esquecemos essa grande riqueza? Felizmente voltamos a celebrar nas Paróquias nos Santuários, mas jamais podemos esquecer do nosso Lar e se o mundo está te fazendo esquecer, pare, reflita e não deixe ninguém te roubar a paz que conquistou. A sua Igreja doméstica continua sendo imprescindível nessa hora, em que as trevas insistem em nos perturbar.
Como conseguir tamanho equilíbrio?
Precisamos mais do que nunca “romper as talhas” com tantas contribuições ao Capital de Graças, que moveremos a Mãe de Deus a Clarificar-se nessas trevas. Cada oração deve ser um brado: Clarifica-te Mãe! Mostra-te Vencedora! Empunha o Cetro, Mãe, protege essa tua Igreja, protege os teus filhos!
Não perca a chance!
Percebemos que o mundo piorou no pós pandemia, em vários seguimentos: na economia, nas relações humanas. A intolerância se aflorou mais do que nunca. Podemos, então, refletir: Como estou, depois do auge da pandemia? Estou mais consciente, mais solidário, com valores da nossa vida na ordem de grandeza que realmente deve ocupar? O bom Deus está nos falando a cada dia? Não perca essa oportunidade única.
Esta é a nossa hora!
Como ocupo esse tempo que me foi dado? É muito triste se não tivermos aprendido nada de tudo que vivemos como humanidade, no auge da pandemia. Não conte com o mundo. O mundo é que conta com você, como um farol, como um luzeiro na noite escura. Essa é a nossa hora. Por isso, estamos nesse momento da história, para fazer a diferença. Somos schoenstattianos e fomos forjados na guerra, ou seja, nascemos para isso.
Seja Luz: você pode!
Você pode até pensar, mas não tenho essa força de ser um farol, sou tão fraco, também tenho medo. Eu digo, coragem: lembre-se também que um pequeno farolete e até a luz dos nossos celulares são capazes de romper a escuridão e iluminar uma noite escura. Faça aquilo que está ao seu alcance, porque a fonte dessa Luz não é nossa, vem do Alto. A Mãe de Deus precisa nesse momento de instrumentos, dóceis e que se colocam a disposição. Isso todos nós podemos.
Ela impera em nossa terra
Para finalizar relembro um dos escritos prediletos do nosso Pai e Fundador, nas noites escuras de Dachau, em homenagem a ele, por ser um filho heroico, que confiou plenamente na Mãe, Rainha e Vencedora de Schoenstatt e hoje são tão atuais em nossas vidas:
“Conhece a terra tão rica e pura, reflexo da beleza eterna, onde almas nobres e fortes desposam o Cordeiro de Deus; onde olhos brilhantes irradiam calor e mãos bondosas aliviam sofrimentos; onde mãos puras se unem constantemente em oração, para banir os poderes do inferno? Sim, eu conheço esta terra maravilhosa, é o prado de sol no brilho do Tabor, onde nossa Senhora Três Vezes Admirável impera no meio de seus filhos prediletos e retribui fielmente todos os dons de amor, revelando sua glória, sua infinda e rica fecundidade: é minha terra natal, minha terra de Schoenstatt” (Rumo ao Céu 601).
Hoje a nossa resposta poderia ser:
“Sim Pai, eu conheço essa terra maravilhosa. É a minha Igreja doméstica, é o meu ramo de Schoenstatt”!
Texto publicado durante a pandemia e atualizado em abril de 2023
Fotos: Ir. M. Nilza P. da Silva