Ir. M. Nilza P. da Silva – Padre Marcelo Aravena, do Instituto dos Padres de Schoenstatt, é do Chile. Mas, durante 5 anos, morou no Brasil, atuando como Assessor dos Ramos da Liga. No início deste ano, foi chamado por seus superiores de volta ao seu país. Nesta entrevista, para este site, ele fala sobre o que leva de sua experiências em nossa pátria.
Quanto tempo o senhor ficou no Brasil? Com o que e onde trabalhou?
Depois de sete longos e abençoados anos nos Estados Unidos, trabalhando com as comunidades de Schoenstatt, cheguei ao Brasil no início de janeiro de 2018. Com um pouco de português, que melhorou com o tempo, comecei a trabalhar primeiro com as famílias dos ramos do Jaraguá e Caieiras. Com o passar do tempo e as boas experiências, assumi novas responsabilidades. Uma delas foi a de ser nomeado vice-postulador da Causa de Beatificação de João Luiz Pozzobon, além de ajudar na criação do CIEES Brasil que é a comunidade internacional de empresários e executivos de Schoenstatt.
Tive também a honra de servir como coordenador regional dos assessores das famílias e diretor da central de assessores do Sudeste Brasileiro. Junto com tudo isso, tive tarefas internas do Instituto dos Padres, além de apoiar a celebração das liturgias de nossa paróquia Nossa Senhora da Conceição e suas diversas comunidades, paróquias e capelas na região Brasilândia.
Por último, mas, não menos importante, tive a grande alegria de apoiar permanentemente o trabalho pastoral e litúrgico do santuário de Sião do Jaraguá. Como se pode ver, estes foram cinco anos cheios de trabalho e serviço a Igreja em geral e a uma Família de Schoenstatt muito vital e geograficamente estendida em uma região que mais tarde (Outubro de 2022) chamamos com grande entusiasmo: Coração Tabor.
O que o senhor leva da experiência em nossa Pátria?
O que levo comigo é uma experiência maravilhosa de um povo de fé forte e fiel, alegre e celebrativo, com grande capacidade de organização, laborioso, de sacrifícios e conquistas. E isto em nível pessoal e familiar, assim como na área do trabalho diário e na Igreja em geral. Muitas vezes fiquei impressionado com esta vontade de sempre dar um pouco mais e não de ficar satisfeito com o mínimo, mas, de alcançar o melhor, de conquistar algo mais, de ir além do comum. Eu vivenciei isto, especialmente no contexto da pandemia. Muitos não estavam satisfeitos com o destino ameaçador da peste, queriam fazer algo por outros, fazer um esforço para ajudar outros em maior necessidade. Muitos superaram seu medo, permanecendo solidários com os mais afetados. A pandemia foi, sem dúvida, um duro teste de amor para todos. Mas, o amor mais forte venceu.
No contexto de Schoenstatt, isto ficou claro quando reagimos rapidamente para alcançar a todos e especialmente aos nossos dirigentes, utilizando as mídias sociais, eventos e reuniões on-line. A pandemia pode ter mudado a forma de entender e viver os objetivos de nosso Movimento. Mas, em muitos reacendeu a criatividade e as expressões de realizar a missão de comunicar nosso carisma.
Em 2020 e 2021, por exemplo, abençoei mais santuários lares do que nunca, trazendo conforto, paz e confiança a tantos lares e famílias. Sinto que a provação da pandemia trouxe de várias maneiras, ainda que lentamente, um novo impulso missionário adaptado à nova situação social e nacional. O mundo não é o mesmo agora, nem Schoenstatt e é bom que assim seja. Temos que agir de acordo com os desafios dos tempos. Assim como a Igreja, temos que nos reformar e renovar constantemente.
Como o senhor define a Família de Schoenstatt brasileira?
Responder a esta pergunta é algo difícil, devido à multiplicidade de características da Família de Schoenstatt brasileira. Entretanto, posso destacar alguns aspectos que não são os únicos, mas, os que mais se destacam para mim. Por exemplo, eu diria que a família aprendeu em grande parte a incorporar em sua vida cotidiana o valor inestimável da filialidade espiritual. Esta virtude vem naturalmente, de um Movimento que assumiu seriamente o legado do Fundador de ser uma criança diante de Deus e de nossa Mãe. E isto não como uma pose pueril, mas, como uma atitude sincera de semelhança com Cristo, e como Ele, fazendo a vontade de Deus Pai.
Esta atitude desperta nas pessoas a confiança, a criatividade, a espontaneidade e, acima de tudo, a liberdade dos filhos de Deus. E isto leva a importantes obras apostólicas. Como a Campanha da Mãe Peregrina, o Terço dos Homens, as ermidas e os santuários da Mãe Rainha, as múltiplas ações missionárias e um grande grupo de comunidades que se esforçam para ser testemunhas eloquentes de sua fé e de sua vida animadas pela Aliança de Amor com Maria.
Neste contexto, eu acho que nossas comunidades têm um bom diálogo com o seu Fundador, no entendimento da missão. Percebo que a Família de Schoenstatt não é sobrecarregada pela missão e pelos ideais, mas impulsionada a tornar o que é realizável tão perfeito quanto possível. Sabendo que o perigo de ser esmagado pelo peso da estrutura de Schoenstatt, as exigências, o tamanho da tarefa e os poucos instrumentos para realizá-la é sempre uma certa ameaça, não apenas no Brasil, mas em todos os países onde nosso Movimento está presente.
O que nosso ideal nacional lhe adicionou para viver o ideal Cenáculo?
Esta pergunta toca um tema muito especial e querido para mim. Leva-me a pensar no Pai e Fundador que, quando chegou à América Latina, veio com a ideia, em sua mente e coração, de criar uma Assistência Trinitária, entre os países onde Schoenstatt estava ativo, naquele tempo. Ele pensou que deveríamos criar uma força apostólica, com um triplo selo muito específico: a Assistência Trinitária, dando ao Schoenstatt argentino a missão de proclamar a presença de Deus Pai na vida do povo, à comunidade chilena a tarefa de comunicar o ideal do Cenáculo e ao Schoenstatt brasileiro de anunciar ao mundo o Tabor e o Filho heroico. Na realidade, esta ideia inovadora do Fundador foi guardada um pouco na memória, mas não se fez muito progresso.
Mas, voltando à questão: o que o ideal brasileiro significava para mim em minha vida sacerdotal e pastoral? Bem, era exatamente isso. Ou seja, sentir que o sonho trinitário e apostólico do Pai e Fundador ainda é válido e vivo. Pois, isso significa que do Cenáculo somos enviados para encarnar o ideal da Filialidade e para ser outro Cristo Filho para o povo. No meu caso, isto significa ser enviado como sacerdote para ser outro Cristo (como todos os batizados) que traz conforto, paz e amor a todos os irmãos e irmãs em Cristo, Filho predileto do Pai.
Qual será sua próxima tarefa? O que espera dela?
Minha próxima tarefa no Chile será uma grande mudança. Durante meus 37 anos, como Padre, sempre fui um assessor, tanto para os ramos da juventude como para os ramos adultos. Agora, no futuro, serei responsável pela Equipe de Padres que trabalham no Santuário Nacional de Maipu. Este é um santuário localizado em Santiago, um poderoso símbolo da fé nacional e é dedicado a Nossa Senhora do Carmo. É uma tarefa eminentemente diocesana, a serviço da Igreja em geral.
Para mim será uma grande alegria servir desde um Santuário dedicado a Maria. Haverá a possibilidade de comunicar a mensagem mariana tão própria da Igreja Católica e, especialmente, de nosso carisma específico. Isto envolverá a proclamação das glórias de Maria e seu Filho Jesus Cristo, ao povo que vem ao santuário, com uma fé simples e confiante, a procura de um encontro com aquele Deus misericordioso e próximo, que conhece as necessidades de seus filhos e filhas.
Como seu período aqui no Brasil pode ajudar a realizá-la?
A resposta é positiva. Penso que estes últimos cinco anos, sem sabê-lo conscientemente, foi uma preparação para o novo desafio que se apresenta. A exemplar devoção mariana do povo católico brasileiro também tem sido uma inspiração. Especialmente, se eu avaliar todas as minhas visitas ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, assim como minhas experiências nos Santuários da Mãe e Rainha, em tantos lugares do território nacional. Todas essas experiências me ajudaram a tomar mais consciência do grande valor e da importância da devoção mariana, que se expressa muito claramente na piedade popular, em todas as suas formas. A fé do povo é fiel, forte e resiliente. Isso tem sido uma escola para mim, porque essa não é apenas um folheado superficial, mas, uma parte constitutiva de sua alma católica que permeia sua cultura e todos os seus modos de vida.
Sua última mensagem para a Família de Schoenstatt daqui:
Que sejamos simplesmente fiéis. Que não renunciemos a Schoenstatt. Maria será sempre fiel a nós. Ela não nos cancela, apesar de nossas infidelidades. Tomemos posse de nossa Aliança de Amor para sermos fiéis com criatividade, liberdade e alegria.
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Agradecemos ao Pe. Marcelo e desejamos que a Mãe de Deus retribua tudo o que fez por nossa missão Tabor.
Excelente e fecunda a entrevista com Pe. Marcelo Aravena. Eu já o admirava pelo seu trabalho no Brasil, agora ainda mais por conhecer detalhes de sua missão, de seu empreendedorismo, de sua capacidade de análise dos fatos e de seu imenso amor por Schoenstatt e pela Mãe de Deus. Felicidades em sua nova missão, padre. Deus o abençoe e nossa querida Mãe o proteja. Abraço.