Acompanhar, Discernir e Integrar a Fragilidade
Flávia C. Ghelardi* – Este artigo trata do Capítulo VIII da Amoris Laetitia que fala sobre como a Igreja deve cuidar dos seus membros mais fragilizados e que foram feridos pela destruição do vínculo matrimonial ou por uma situação conjugal irregular.
“Igreja deve acompanhar, com atenção e solicitude, os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e extraviado, dando-lhes de novo confiança e esperança, como a luz do farol dum porto ou duma tocha acesa no meio do povo para iluminar aqueles que perderam a rota ou estão no meio da tempestade”. (AL 291)
O casal que vive junto, sem o sacramento do matrimônio
A primeira situação apresentada pelo Papa Francisco é o caso das pessoas que vivem junto, mas não possuem o sacramento do matrimônio e não tem impedimento para recebê-lo. É preciso analisar cada caso, para entender o motivo de não terem recebido o sacramento, que pode ter acontecido por algum tipo de receio com relação ao compromisso a ser assumido, ou preconceito em relação à Igreja, ou ainda por acreditarem que é preciso gastar muito dinheiro para celebrar, com luxo, um casamento na Igreja.
A sugestão é praticar a “lei da gradualidade”, ensinada por S. João Paulo II, que afirma que o ser humano conhece e cumpre o bem moral, de acordo com suas etapas de crescimento na maturidade. Desta forma, aos poucos é preciso ir mostrando a beleza dos ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio para que, conhecendo, possam decidir por assumir em suas vidas esses ensinamentos.
Discernimento sobre as diferentes situações “irregulares”
Aqui o Papa destaca que “o caminho da Igreja é o de não condenar eternamente ninguém. Mas, derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero (…). Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida, incondicional e gratuita.” (AL 296) Assim, em cada situação concreta é necessária uma atenção ao modo que as pessoas vivem e sofrem a sua situação particular e ajudar a cada um a encontrar sua maneira de participar na atividade da Igreja.
Ele faz um alerta muito importante: se a pessoa ostenta um pecado objetivo, sem arrependimento e como se esse pecado fizesse parte do ideal cristão ou se a pessoa quer impor algo diferente do que a Igreja ensina, obviamente não pode dar catequese ou pregar, pois há algo que o separa da comunidade (AL 297). Essa pessoa necessita ouvir novamente o anúncio do Evangelho e o convite à conversão.
Os divorciados que vivem em segunda união
No caso dos divorciados que contraíram uma segunda união, existe uma série de situações que precisam ser analisadas para ver como a Igreja pode ajudar essas pessoas, especialmente no caso da educação dos filhos. De qualquer forma é preciso deixar claro que não é esse o ideal que o Evangelho propõe para o matrimônio e a família (AL 298).
“Os sacerdotes têm o dever de acompanhar as pessoas interessadas pelo caminho do discernimento segundo a doutrina da Igreja e as orientações do bispo. Neste processo, será útil fazer um exame de consciência, através de momentos de reflexão e arrependimento. Os divorciados novamente casados deveriam questionar-se como se comportaram com os seus filhos, quando a união conjugal entrou em crise; se houve tentativas de reconciliação; como é a situação do cônjuge abandonado; que consequências têm a nova relação sobre o resto da família e a comunidade dos fiéis; que exemplo ela oferece aos jovens que se devem preparar para o matrimônio. Uma reflexão sincera pode reforçar a confiança na misericórdia de Deus que não é negada a ninguém. Trata-se dum itinerário de acompanhamento e discernimento que orienta estes fiéis na tomada de consciência da sua situação diante de Deus.” (AL 300)
Informação importante:
É importante deixar bem claro que não houve nenhuma mudança no entendimento da Igreja sobre a indissolubilidade do sacramento do matrimônio e nem um “relaxamento” de ordem moral para permitir uma segunda união. O que o Santo Padre fez foi orientar sobre uma nova forma de abordar esse assunto tão delicado e, infelizmente, tão comum em nossa sociedade, para que as pessoas que vivem essa realidade possam ver na Igreja um farol que ilumina as suas vidas e procurar junto com o sacerdote um caminho de vida plenamente cristã de acordo com sua realidade.
No próximo artigo continuaremos tratando dessas situações difíceis oriundas da fragilidade humana e que afetam diretamente a família, com os ensinamentos do Papa Francisco na exortação apostólica Amoris Laetitia.
Você pode ler aqui todos os outros artigos já publicados, com a síntese desse documento tão importante.
Este artigo faz parte da série de artigos que sintetizam a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia do Santo Padre, o Papa Francisco
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt