Como são distribuídas as leituras bíblicas na liturgia da Igreja? Nesse mês da Bíblia, somos convidados a nos aprofundar na Palavra
Pe. Marcelo Cervi – Quando participamos da Santa Missa, escutamos a proclamação de vários trechos das Sagradas Escrituras. Nos dias de semana temos, pelo menos, três leituras bíblicas: uma do Antigo Testamento (AT) ou do Novo Testamento (NT), um salmo ou cântico bíblico e um trecho do Evangelho. Nos domingos e dias santos, acrescenta-se, depois do salmo, mais uma leitura, em geral do Novo Testamento, aumentando para quatro o número de textos bíblicos. Dessa forma, quem vai diariamente à Missa acaba lendo ou escutando, em pouco tempo, a maior parte da Bíblia.
Foi o Concílio Vaticano II quem pediu, na Constituição “Sacrosanctum Concilium” (SC) que, nas celebrações litúrgicas, houvesse “uma leitura da Sagrada Escritura mais abundante, variada e apropriada” (SC 35) e que, através da Mesa da Palavra de Deus, “os tesouros bíblicos sejam mais largamente abertos, de tal forma que, dentro de um ciclo de tempo estabelecido se leiam ao povo as partes mais importantes da Sagrada Escritura” (SC 51).
Se for à missa todos os dias, lerá grande parte da bíblia em três anos
Para essa finalidade, foram confeccionados os chamados “Lecionários”, ou seja, livros litúrgicos que organizam as leituras bíblicas e as enquadram dentro de esquemas que favorecem que praticamente quase a totalidade da Bíblia seja lida no arco de três anos. O modo de distribuição dos textos e do número de leituras não é aleatório, mas tem uma intenção pedagógica: apresentar os fatos e as palavras mais importantes da história da salvação de modo contínuo nas celebrações litúrgicas (ver Introdução Geral ao Lecionário, n.º 61). A escolha das leituras se baseia em dois critérios: o da concordância temática entre as leituras do Antigo e do Novo Testamento; e o critério da leitura contínua ou semicontínua.
A Palavra de Deus é una
No primeiro caso, harmoniza-se a leitura do Antigo ou Novo Testamento com o Evangelho, buscando certa harmonia temática e procurando fazer com que os fiéis percebam a unidade entre eles, para compreender como a Palavra de Deus é una e encontra plena realização no Evangelho. Essa harmonização se inspira no próprio Novo Testamento, como quando o Senhor Jesus, em certas pregações e milagres, cita episódios do Antigo Testamento (Jonas, Naamã, algum profeta ou salmo) ou o Apóstolo Paulo fala como se cumprem nas comunidades as figuras do Antigo Testamento. Segundo esse primeiro critério, muito usado na distribuição das leituras das Solenidades, Festas e maioria dos domingos do Tempo Comum, a leitura do Antigo Testamento “bate” com a leitura do Evangelho.
Mas essa conveniência não pareceu que devesse ser sempre seguida, para não condicionar muito a leitura bíblica. Assim, nos dias de semana e na segunda leitura dos domingos – para que a comunidade cristã entrasse mais profundamente em contato com a mensagem bíblica – preferiu-se a leitura continuada ou semicontinuada de um livro do Antigo Testamento, de uma carta paulina ou de um Evangelho. Além disso, de acordo com a tradição litúrgica, alguns livros bíblicos foram reservados para determinados tempos do ano, como os Atos dos Apóstolos no Tempo Pascal, o evangelho de São João nas últimas semanas da quaresma e no Tempo Pascal, o profeta Isaías no Tempo do Advento.
Indicação para leitura
Quem desejar compreender melhor os critérios de distribuição geral das leituras na Missa e aprofundar o sentido da leitura bíblica ao longo do Ano Litúrgico, pode valer-se da “Introdução Geral do Lecionário Romano” (Ordo Lectionum Missae [Elenco das Leituras da Missa]). Além dessa introdução, outros dois livros parecem ser muito oportunos:
a) J. Aldazábal, A Mesa da Palavra I: elenco das leituras da Missa; texto e comentários; São Paulo, Paulinas, 2007;
b) P. Farnés, A Mesa da Palavra II: leitura da Bíblia no Ano Litúrgico, São Paulo, Paulinas, 2007.
Trata-se de um assunto importante e que nos ajuda a perceber mais e melhor o sentido da proclamação da Palavra da Celebração Eucarística.