Flávia C. Ghelardi* – Passaremos a refletir sobre o Capítulo IX da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, o último desse lindo material, onde o Papa fornece orientações muito práticas sobre a espiritualidade conjugal e familiar.
Espiritualidade da comunhão sobrenatural
A Santíssima Trindade está presente no seio da família, vivendo intimamente no amor conjugal e participando de todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. Assim, a espiritualidade do amor familiar é feita de milhares de gestos reais e concretos. A graça específica que o casal recebe no dia do sacramento do matrimônio é a graça da santificação do seu vínculo, assim “a espiritualidade matrimonial é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor divino”. (AL 315)
Além disso, essa comunhão familiar bem vivida é um caminho de santificação na vida comum e ainda um meio para união íntima com Deus. Aquelas pessoas que tem desejos espirituais profundos precisam enxergar que a sua família não os afasta do crescimento na vida do Espírito, mas é um percurso de que o Senhor Se serve para os levar às alturas da união mística (AL 316)
Unidos em oração à luz da Páscoa
Se a família consegue concentrar-se em Cristo, Ele unifica e ilumina toda a vida familiar. Os sofrimentos do dia a dia, unidos à cruz de Jesus, são transformados em oferta de amor. (AL 317). A oração em família é um meio privilegiado de manter essa unidade e a família deve se esforçar para participar juntos da Santa Missa dominical. O alimento da Eucaristia é força e estímulo para viver cada dia a aliança matrimonial como igreja doméstica. (AL 318)
Espiritualidade do amor exclusivo e libertador
No matrimónio, vive-se também o sentido de pertencer completamente a uma única pessoa. Os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos, e assim refletem a fidelidade de Deus. (AL 319) Cada cônjuge deve renovar diariamente essa decisão de fidelidade, não importa o que aconteça durante o dia, sempre contando com a ajuda divina, e assim, um é para o outro, instrumento e sinal da proximidade do Senhor.
O Papa explica que chega um momento em que o amor do casal atinge a máxima libertação, que é quando cada um descobre que o outro não é seu, mas tem um proprietário muito mais importante, o seu único Senhor. (AL 320) Assim, aprende que o cônjuge jamais conseguirá satisfazer completamente suas exigências. Esse anseio só pode ser preenchido por Deus, na eternidade. Por isso é importante cada um, individualmente, possuir um momento de intimidade com o Senhor, para encontrar, no amor de Deus, o sentido da própria existência.
Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo
Ajudar-nos mutuamente como membros de uma família, cuidando, apoiando, estimulado, é uma forma de viver a espiritualidade familiar. A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus, e cada um é para o outro uma permanente provocação do Espírito (AL 321). Um reflete para o outro o amor divino e o Santo Padre nos diz que querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só.
Devemos contemplar cada ente querido com os olhos de Deus e reconhecer Cristo nele. Esperar da pessoa algo indefinível e imprevisível, aquilo que Deus sonhou para a sua existência, e proporcionar os meios para que ela atinja esse ideal. Na vida cotidiana da família recordamos que a pessoa que vive conosco merece tudo, pois tem uma dignidade infinita por ser objeto do amor imenso do Pai. (AL 323)
Nossa família participa na maternidade da Igreja
Por fim, somos estimulados a sair ao encontro dos mais necessitados, exercendo a hospitalidade em nossos lares, dessa forma é símbolo, testemunho e participação da maternidade da Igreja.
O Papa Francisco encerra essa exortação dizendo que nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. Há um apelo constante que provém da comunhão plena da Trindade, da união estupenda entre Cristo e a sua Igreja, daquela comunidade tão bela que é a família de Nazaré e da fraternidade sem mácula que existe entre os Santos do céu. (AL 325) E nos estimula: Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida.
Este é o último artigo síntese. Agradecemos a Flávia por esse serviço prestado a Obra de Famílias e a todos os casais que, pelo trabalho dela, podem conhecer e refletir sobre os ensinamentos da Igreja a respeito da graça e beleza da família.
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Este artigo faz parte da série de artigos que sintetizam a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia do Santo Padre, o Papa Francisco
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt