Ir. M. Nilza P. da Silva – Esta pergunta é bem frequente, nas proximidades do Advento, por isso, vamos responder aqui. Uma das coisas que traz essa dúvida é o frenesi do comércio, nos quais, desde outubro, já estão enfeitadas com adornos natalinos. Mas, quando é certo montar o presépio? O que a liturgia diz sobre isso?
Vamos à origem do presépio
Neste ano, celebramos 800 anos do primeiro presépio. Em sua Carta Apostólica, O sinal admirável do presépio,[1] o Papa Francisco conta que Francisco de Assis, duas semanas antes do Natal, no ano de 1223, estava na localidade de Gréccio, na Itália, provavelmente, retornando de um encontro com o Papa[2]. Greccio é uma região com muitas grutas. Francisco tinha visitado Belém, na Terra Santa, e certamente lembrou-se com saudades do lugar de nascimento de Jesus.
Então, ele chama João, um habitante do local, e solicita-lhe: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para, de algum modo, ver com os próprios olhos do corpo os incômodos que Ele sofreu, pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro”. João fez do melhor modo que podia, os animais eram reais.
No dia 25 de dezembro, chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de vários lados, vieram também moradores da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. “Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização.”[3]
Team de Celano, o primeiro biógrafo de Francisco de Assis, narra que naquela noite da Natal, “todas a pessoas voltaram para suas casas repletas de alegria.” A partir daí, em cada Natal acontece a montagem do presépio, para ajudar as pessoas a entenderem a grandeza do mistério da encarnação de Deus e, ao mesmo tempo, a trazer para o presente a simplicidade do nascimento de Jesus. O Papa Francisco incentiva: “Quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças…”[4]
A palavra presépio vem do latim praesepium, que é a manjedoura. “Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo6, 51).”[5]
Qual é o dia certo para se montar o presépio?
Como o primeiro presépio foi montado duas semanas antes do Natal, muitos acham que este seja o dia correto. No entanto, não há um dia determinado pela Igreja para isso. Já que o sentido do presépio é ajudar a vivenciar de modo mais próximo o mistério do nascimento de Jesus, é aconselhável que ele seja montado durante o tempo litúrgico do Advento.
“Armar o Presépio em nossas casas ajuda-nos a reviver a história sucedida em Belém. Naturalmente os Evangelhos continuam a ser a fonte, que nos permite conhecer e meditar aquele Acontecimento; mas, a sua representação no Presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais,” escreve o Papa Francisco.[6]
Cada parte do presépio pode ser um canto de louvor e gratidão
Para que sua “construção” tenha efeito pedagógico, pode ser montado em partes. Ex. No primeiro domingo de advento, coloca-se a árvore de Natal, sem enfeites. Cada dia, adiciona-se um adorno nela, dando um significado especial. Por ex. em cada bola a gratidão por algo, em cada símbolo uma alegria ou uma dificuldade vivida no decorrer do ano… Com isso, montar a árvore torna-se um hino de louvor e uma revisão de vida. A árvore e outros símbolos deixam de ser somente um enfeite e se tornam expressão de vida e sinal visível do vínculo com Deus.
As peças do presépio podem ser colocadas de modo gradativo. Isso pode ajudar para que se perceba que o dia de Natal vai se aproximando e é preciso preparar bem o coração. O Menino Jesus é colocado somente na noite do dia 24 de dezembro e os Reis Magos, na epifania. “O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus… Quando se aproxima a festa da Epifania, colocam-se no Presépio as três figuras dos Reis Magos,” ensina o Papa.[7]
Um presépio vivo
Outra experiência que ajuda bastante é sortear as figuras do presépio entre a família ou o grupo. Cada um escolhe uma virtude que a figura representa e tenta destacar essa virtude em sua vida. Ex. A imagem de Maria nos fala da prontidão para fazer a vontade de Deus, então, neste tempo de advento vou ficar atento e dizer sim às solicitações que Deus me faz por meio das pessoas e das circunstâncias. José me lembra a proteção da família, por isso, me educarei para falar somente o positivo sobre as pessoas e silenciar sobre seus limites que me irritam. Assim, cada imagem ganha vida. Se a imagem que cada um pegou for revelada somente na Noite do Natal, fica melhor ainda, porque ajudará a fortalecer a atmosfera de família e a espiritualidade da festa.
Embora, o primeiro presépio tinha somente o burro, o boi e o Menino Jesus, com o tempo, foram se adicionando outros símbolos que ajudam a trazer para o hoje o mistério do amor de Deus. Mas, é preciso cuidar para que os múltiplos símbolos não se sobressaiam mais do que a imagem do Menino Jesus ou tire o foco do sentido pelo qual existe o presépio.
Veja também
O que significam os Símbolos do Natal
Quando se desmonta o presépio?
Leia na íntegra a explicação do Papa Francisco sobre o presépio
– – – – – – – –
[1] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-ap_20191201_admirabile-signum.html
[2] https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-12/presepio-sao-francisco-greccio-belem-livro-frei-enzo-fortunato.html
[3] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-ap_20191201_admirabile-signum.html
[4] Idem
[5] Idem
[6] Idem
[7] Idem