O que é necessário a uma pessoa para significar algo para os outros?
Ir. M. Dioneia Lawand – “Diante de mim está a imagem de uma mulher com um rosto acolhedor, com olhos brilhantes e um sorriso otimista – diz uma jovem estudante. Ela me parece serena, desprendida, livre. Um reluzir que chega até por uma foto, um reluzir que me torna curiosa por saber algo sobre seu caminho.” [1]
Outra jovem testemunha: “Meu primeiro pensamento foi: aqui está, diante de mim, uma pessoa que irradia o amor, a bondade e a beleza de Deus. Eis aqui o homem novo, que é natural e sobrenatural ao mesmo tempo. […] Em mim se despertou, fortemente, o anseio de poder pertencer a esta comunidade. Também eu queria me tornar tal pessoa: alegre, tranquila e profunda.” [2]
Quem é esta mulher, pela qual Cristo deixa brilhar sua luz?
Ir. M. Emílie Engel, uma das cofundadoras do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt. Nela experimenta-se uma personalidade de mulher que desdobrou os valores femininos. Sua profunda religiosidade, seu vigor e seu coração bondoso concederam-lhe forças, mesmo muito enferma, para dirigir a maior Província do Instituto numa cadeira de rodas.
Em Ir. M. Emilie, assim como em tantas outras personalidades, pode-se comprovar a eficácia da ascese e da pedagogia de Schoenstatt na formação da mulher.
Isso não aconteceu “da noite para o dia”
Aos seis anos de idade, Emilie começa a sofrer crises de angústia, que ela mesma chama de início da “via-sacra de sua vida.” [3] Enxergava a Deus como uma figura autoritária, um juiz severo e sem piedade. Somente anos mais tarde, após participar de um congresso para mulheres [4] em Schoenstatt, com o auxílio da pedagogia do Pe. José Kentenich, abre-se o caminho para a liberdade interior de Emilie.
O medo e as angústias que essa jovem experimentou por tanto tempo e que, segundo o Pe. Kentenich, estavam interiormente enraizados e generalizados à maneira de um câncer e pareciam impossíveis de expirar [5], na vivência da profunda filialidade, transformaram-se em grande serenidade e segurança, de tal modo, que ela se doava profundamente aos outros. Suas palavras comprovam esta realidade:
“Se Deus é todo amor e nos revela seu amor através das pessoas, então, isso também quer dizer para mim: ser inteiramente AMOR!” [6]
“À medida que somos filhas da confiança, em tempos difíceis, podemos ser para os outros o bastão, o arrimo, a luz e o sol.” [7]
Ir. M. Emilie sofria sob muitos e dolorosos limites. Mas, sob a condução pedagógica do Pe. José Kentenich, foi-lhe concedido experimentar a mais bela verdade sobre o bom Deus: Ele é um Pai misericordioso! A conhecida fraqueza, as faltas e as misérias pessoais despertam, acima de tudo, o poder e a riqueza do amor de Deus.
Por meio do carisma pedagógico de Schoenstatt, Ir. M. Emilie encontrou o segredo da santidade. Sabia, como genuína filha da divina Providência, “colocar a escada da fé” e ver, numa clara luz, os acenos de Deus por trás dos acontecimentos. Ela aprendeu a considerar as próprias misérias como misericórdias divinas.
Uma autêntica líder schoenstattiana
Ir. M. Emilie tornou-se uma líder extraordinária, fez parte da primeira Direção Geral do Instituto das Irmãs de Maria, foi Mestra de Noviças e a primeira Superiora Provincial da maior província de Irmãs do Instituto.
Durante os anos do exílio do Fundador, com ânimo, ousadia e sem vacilar, Ir. M. Emilie toma iniciativas, onde as considera corretas e necessárias, para defender o Fundador e o Instituto das Irmãs de Maria.
Manifesta suas convicções com respeito e clareza, sem intimidar-se de qualquer modo ao defender a verdade, a honra e a justiça, seja em forma oral ou escrita, frente às mais altas autoridades eclesiásticas. Também anima outros a atuarem com a mesma intrepidez. Em 1954, Ir. M. Emilie viaja a Roma com a finalidade de evitar influências externas no Capítulo Geral de sua comunidade, que estava por acontecer, e solicitar, nas instâncias correspondentes, a garantia na liberdade de eleição da nova Direção Geral. [8] Seu pedido é atendido pelo Vaticano e a liberdade e autonomia das Irmãs de Maria são respeitadas.
Em 20 de novembro de 1955, Ir. M. Emilie Engel morre com fama de santidade.
Seu processo de beatificação foi então aberto e caminha com rapidez. Em 10 de maio de 2012, o Papa Bento XVI, aprovou o decreto de reconhecimento de suas virtudes heroicas, declarando-a venerável por toda a Igreja. Confia-se que, num futuro não tão distante, poderá ser apresentada a primeira Irmã de Maria beatificada. O caminho que a levou a tal altura é semelhante ao de Santa Teresinha: a infância espiritual que, em Schoenstatt, se denomina “filialidade”.
“As dificuldades da Obra nascente impulsionaram a evolução da saúde psíquica de Ir. M. Emilie até levá-la à posse de um elevado grau de liberdade própria dos filhos de Deus. Ela morreu, como é reconhecido publicamente, em fama de santidade”, disse o Pe. José Kentenich. [9]
Pedagogia comprovada
Algo impossível de se explicar segundo as leis naturais é a vida de Ir. M. Emilie. Se ela tivesse ficado à mercê de si mesma, se não tivesse seguido sua vocação, provavelmente sua vida teria sido um fracasso. Porém, em Schoenstatt, ela encontrou um lar e um caminho de libertação interior. Descobriu ali um mistério que transformou a sua vida para sempre. A partir de Schoenstatt e da condução do Pe. José Kentenich, acontece um milagre em Ir. M. Emilie: aos poucos, tudo o que era fraqueza em sua personalidade se torna ponto de irrupção da graça! Entendeu e experimentou que Deus é Pai, que é amor, que Ele pode e quer realizar grandes obras por meio dos pequenos! Sua profunda vivência de limitação desemboca no oceano do amor e da misericórdia do Pai.
“Sua vida e sua aspiração santas foram, sobretudo, obra da graça, mas também fruto plenamente maduro de nossos princípios pedagógicos.” [10]
A santidade foi o objetivo da vida de Ir. M. Emilie Engel desde o começo.
O Pe. Kentenich comprometeu-se perante ela e seu pai (Sr. Amoldo Engel) a conduzi-la a este cume. E foi fiel à sua palavra.
Pouco antes de sua morte, na carta de despedida à sua Província, Ir. M. Emilie Engel escreve: “Não esqueçamos nunca o que devemos ao Senhor Padre (ao Pe. Kentenich) [11]. Guardemos fidelidade a ele e sigamos em suas pegadas os caminhos da Providência Divina. Muitas coisas da atual situação da Família só vamos compreender à luz da eternidade.” [12]
Seu testamento: “Por toda a eternidade quero cantar hinos de louvor ao amor misericordioso do Pai e da Mãe de Deus e ser um sacrifício de louvor. Não posso enviar nenhuma saudação ao Senhor Padre, mas estarei junto dele da eternidade e mostrar-me-ei grata tanto quanto o bom Deus me permitir.” [13]
Sua vida é um facho de luz na escuridão do mundo atual. Uma luz que indica o caminho da santidade filial, uma luz que enaltece e comprova a espiritualidade e a pedagogia de Schoenstatt, uma luz que faz brilhar ainda mais a vida íntegra e coerente do Pe. José Kentenich.
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Referências
[1] Novena Ir. M. Emilie Engel – Missão para os homens de hoje.
[2] Novena Ir. M. Emilie Engel – Missão para os homens de hoje, p.25.
[3] WOLFF, Margareta. Meu sim é para sempre, p. 23.
[4] Congresso realizado de 4 a 8 de junho de 1922
[5] KENTENICH, José apud WOLFF, Margarete Emilie Engel: Zeugnisse-Briefe- Tagebuchnotizen, p. 76.
[6] Novena Ir. M. Emilie Engel – Missão para os homens de hoje, p. 44
[7] Novena Ir. M. Emilie Engel – Missão para os homens de hoje, p. 39
[8] WOLFF, Margareta. Meu sim é para sempre, p. 225.
[9] WOLFF, Margareta. Meu sim é para sempre, p. 258.
[10] KENTENICH, José; apud WOLFF, Margareta: Meu sim é para sempre.
[11] Senhor Padre é a expressão com a qual tratavam o Pe. José Kentenich
[12] ENGEL, Emilie, apud WOLFF, Margareta: Meu sim é para sempre, p.251.
[13] ENGEL, Emilie, apud WOLFF, Margareta: Meu sim é para sempre, p.259.
Publicado em 2020