Daniel e Miriam Bueno* – Em nossa trajetória, como casal, sempre imaginamos uma família grande, repleta de amor e brincadeiras. Nossa expectativa era de cinco filhos, que preencheriam nossas vidas com alegria e muitas graças. Contudo, os desígnios do bom Deus reservavam surpresas, desafios e, principalmente, a compreensão de que o número certo de filhos não estava sob nosso controle, mas, nas mãos Dele.
Nossas duas primeiras gestações trouxeram consigo a dor da perda, desafiando nossos planos e colocando nossas expectativas em um grande turbilhão de sentimentos, principalmente o da incapacidade de gerarmos filhos. O reconhecimento de nossa pequenez diante dessa situação nos fez refletir e buscar respostas na nossa fé.
Teologia do Corpo e paternidade responsável
Ao longo de nossa vida matrimonial, descobrimos a Teologia do Corpo, de São João Paulo II, que se tornou um guia valioso para a nossa vida familiar e, principalmente, como casal. A Teologia do Corpo e a visão da Igreja sobre a Paternidade Responsável iluminaram nossa compreensão sobre o papel da família na sociedade e a importância da fidelidade aos votos matrimoniais. A ideia de que Deus é quem define o número certo de filhos passou a fazer sentido, ancorada na convicção de que nossas escolhas deveriam estar alinhadas com os desígnios da Divina Providência, que depois dessas dolorosas perdas, nos presenteou três lindas e especiais filhas.
Em todas as situações de nossa vida como casal, das mais desafiadoras ou nas fases mais tranquilas, a recusa à contracepção tornou-se um pilar central em nossa vida familiar. A contracepção, muitas vezes vista como a opção responsável para o planejamento familiar, revela-se, na visão da Igreja, como uma escolha equivocada e prejudicial. A liberdade sexual, entendida como a capacidade de dizer “sim” ou “não”, é fundamental para a vivência plena do amor conjugal.
O respeito à vida
Nesse sentido, a contracepção é interpretada como uma negação da entrega total, fiel e livre entre os cônjuges. O ato sexual de todo casal, que vive o Sacramento, representa a união de Cristo com sua Igreja e, por isso, o uso de contraceptivos é percebido como uma contradição a essa união, agindo como algo que ataca essencialmente a verdade, excluindo a potencialidade da vida e a participação do Espírito Santo na união matrimonial.
No entanto, é importante termos a distinção entre métodos naturais e artificiais como um ponto crucial dessa reflexão. A Igreja não opõe “natural” e “artificial”, mas rejeita a contracepção em si, independente do meio utilizado. A ênfase recai sobre a busca de uma Paternidade Responsável, onde a abertura à vida é uma escolha consciente e alinhada com a vontade de Deus em nossas vidas.
Essa postura da Igreja encontra eco na compreensão de que a inteligência humana deve ser usada em conformidade com a ordem estabelecida por Deus. O respeito à vida, desde a concepção, é central nesse debate, destacando que a contracepção vai contra o plano divino para a sexualidade humana.
O Planejamento Natural da Família
Sabemos que cada casal tem sua história e suas situações particulares e isso nos faz pensar: Em quais situações poderíamos encontrar motivos justos para o uso de um planejamento natural da família?
Diante das perguntas que possamos ter sobre esses motivos justos para adiar uma gravidez, encontramos orientação no Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica. A paternidade responsável e generosa, humana e cristã é destacada como um caminho para a vivência plena da vida de um casal. A percepção dos filhos como colaboradores para a família, em vez de fardos, emerge como uma mudança de paradigma necessária nos tempos de hoje, não é verdade?
O “Planejamento Natural da Família” surge como uma alternativa que respeita a ordem natural e a vontade de Deus. A Igreja reconhece que muitos casais têm motivos legítimos para adiar a concepção, como preocupações financeiras, condições de saúde ou circunstâncias sociais. No entanto, a abertura ao dom da vida deve permanecer como princípio orientador, e o uso dos métodos naturais é incentivado como uma prática que respeita a integridade do ato sexual. (Veja o método Billings)
A compreensão da Paternidade Responsável à luz da fé não implica em julgamento, mas na busca pela misericórdia divina. A reconciliação sacramental é uma fonte de graça para aqueles que reconhecem desvios em sua prática matrimonial. A Igreja acolhe toda pessoa que busca a verdade e a correção de suas escolhas, oferecendo um caminho de cura e restauração.
Ao experimentarmos a dor da perda gestacional e o desafio de aceitar que o número certo de filhos não estava sob nosso controle, encontramos na fé uma bússola que nos guiou. O entendimento de que Deus é o autor da vida e que nossas escolhas devem refletir Sua vontade transformou nossa perspectiva sobre a paternidade e maternidade responsáveis e em contrapartida as abundantes graças que Deus nos presenteia todos os dias.
Fazemos um convite!
Se aprofunde na Teologia do Corpo, nos ensinamentos e nos documentos da Igreja sobre o matrimônio e a sexualidade. O discernimento, feito em oração e com orientação da verdade, é essencial para compreender os planos de Deus para a família.
O caminho à paternidade responsável é desafiador, mas rico em aprendizado e crescimento. A Teologia do Corpo de São João Paulo II, nos ensina que o ato conjugal é sagrado, chamando os cônjuges a serem cocriadores com Deus na geração de novas vidas. Ao vivermos em conformidade com essa visão, encontramos a verdadeira realização e felicidade em nossa vocação matrimonial.
Com isso, reconhecemos que o número certo de filhos não está definido por padrões pré-estabelecidos, mas sim nas mãos de Deus! A abertura à vida, a busca pela Paternidade Responsável e o discernimento em oração serão sempre elementos fundamentais para compreender e abraçar os planos de Deus para a nossa vida matrimonial.
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Referência bibliográfica: Boas Novas Sobre Sexo e Casamento – Respostas Para as Suas Principais Dúvidas Sobre o Ensinamento Católico | Christopher West.
* Daniel e Miriam pertencem ao Instituto de Famílias de Schoenstatt.