Hoje seguimos percorrendo um dia na vida de Jesus:
«A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los. É tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu em frente da casa. Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era» (Mc 1, 30-34).
Pe. Carlos Padilla Esteban – Jesus cura a muitos. Cura a sogra de Pedro. Impressiona-me a sua forma de curar, que fala sobre a delicadeza de Deus. Jesus se aproxima, inclina-se, a pega pela mão. Ele poderia fazer isso à distância – ele pode fazer tudo. Nesse gesto está seu amor humano. Ele sabe que nós, homens, necessitamos de carícias, que nos toquem, que nos beijem, que nos abracem – Jesus também precisa disso. Precisamos que Deus toque nossas feridas com suas mãos, bem perto de nós, aos nosso lado.
Jesus se deixa tocar. Jesus toca. Coloca-se ao lado, a levanta. E ela começa a servi-los, torna-a capaz de amar de novo, de se levantar. A primeira coisa que ela faz, depois de estar enferma, é servir aos outros. A força curativa de Jesus a levanta, dá a ela um novo coração. Jesus nos cura e nos liberta, isso nos dá força para amar e servir. Jesus, ao libertar o coração doente, o capacita para viver a vida com paixão, intensamente. […]
Às vezes podemos viver cumprindo obrigações, nos atendo aos limites, amando com um conta-gotas. Medimos, calculamos, contabilizamos… E não nos abrimos para a generosidade. Outro dia, uma pessoa me falava sobre sua mãe recentemente falecida, me dizia que impressionava a sua generosidade. Que ela dava tudo, que sempre ficava em segundo plano, por último; que entregava as mãos cheias, sem calcular as consequências, sem esperar algo em troca. Fiquei impressionado com a descrição: “Queria sem limites e sem limites se doava a si mesma e tudo o que possuía”. É assim que eu gostaria de viver.
Tantas vezes não olho para o ideal e me conformo com o mínimo. O Pe. Kentenich dizia: “O ideal ilumina o âmbito das obrigações, nos permite desenvolver de forma mais fácil e adequada o âmbito das obrigações e, além disso, ajuda-nos a fazer, de forma heroica, mais do que o obrigatório e a dar todas as forças da nossa vida àqueles que Deus nos deu e confiou” [1].
Fazer mais do que o obrigatório. Jesus fez mais do que o obrigatório? Jesus nunca poupou esforços. Ele não buscou comodidade. Quando ele se retirava ao silêncio, se retirava para orar, para encher o leito de seu oceano. Ele queria ficar sozinho com seu Pai. Ela precisava descansar Nele. E tirou um tempo de seu sono, não tempo dos outros, não tempo de curar ou de estar com os seus. Esse tempo de solidão em que a alma respira, onde ele repousa no regaço de seu Pai, onde se sente filho amado. De sua oração, Jesus colhe forças para amar. […]
A Igreja é missionária. Sonhamos com uma Igreja em saída. O Papa Francisco nos disse: “Uma Igreja que não sai é uma Igreja ‘de gente requintada’. Um movimento eclesial que não sai em missão é um movimento ‘de gente requintada’. E, no máximo, em vez de ir buscar ovelhas para trazer, ou ajudar a dar testemunho, se dedica ao pequeno grupo, a pentear ovelhas. São cabeleireiros espirituais. Isso não é bom. Ou seja, sair, sair de nós mesmos. Uma Igreja ou um movimento, uma comunidade fechada, adoece. Tem todas as doenças de estar fechados. Um movimento, uma Igreja, uma comunidade que sai, se equivoca, se equivoca. Mas é tão bonito pedir perdão quando uma pessoa se engana. Assim, não tenham medo de sair em missão” [2].
Não podemos calar sobre o que carregamos dentro de nós. Queremos sair em missão, ir a tantos lugares que nunca ouviram falar de Deus. Hoje ouvimos: «Pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o evangelho! Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado» (1Cor 9, 16-17).
Somos anunciadores. Não podemos deixar de contar o que aconteceu conosco, de anunciar a alegria do Evangelho. É preciso coragem para sair e deixar Cafarnaum. O conforto pode nos impedir de sair de onde estamos. Podemos nos acostumar com as nossas coisas e não sair. Pode nos faltar espírito de luta e entrega, força para nos colocarmos a caminho e romper nossos limites. Precisamos do Espírito Santo para sair. Ser um sinal de contradição é desafiador, difícil para quem tem uma missão. Ser politicamente correto é mais atrativo. Ser aceito por todos é o que queremos. Quando não estamos incomodando, todos nos procuram. Mas, queremos ser capazes de romper nosso conforto e sair. Uma missionária, ao falar sobre o vírus Ebola, disse: “Quantas vezes você vê a necessidade dos demais e se esquece de si mesma”. Vemos a necessidade dos outros e esquecemos o que precisamos. Assim nasce o missionário. Ele sai porque vê a necessidade ao seu redor. É o caminho da missão. Vale a pena deixar tudo e partir.
Leituras deste domingo:
1ª Leitura – Jó 7, 1-4.6-7
Salmo – Sl 146
2ª Leitura – 1Cor 9, 16-19 22-23
Evangelho – Mc 1, 29-39
[1] J. Kentenich, Textos pedagógicos
[2] Papa Francisco. Encontro com a Família Internacional de Schoenstatt, 26 de outubro de 2014
Homilia para o 5º Domingo do Tempo Comum, Ano B, 8 de fevereiro de 2015. Original em espanhol. A versão publicada foi reduzida, leia o texto integral clicando aqui.