Ter uma visão sadia das dificuldades para identificar-se com Cristo e com o próximo
Ana Cláudia Pereira* – No dia 11 de fevereiro, a Igreja volta ao olhar aos doentes, para rezar por eles, partilhar de suas dores e estimular iniciativas que possam aliviar sua condição. Trata-se do Dia Mundial do Enfermo, instituído por São João Paulo II em 1992, aludindo à festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.
O Papa Francisco recorda que “a doença faz parte de nossa experiência humana” [1]. Por consequência, o sofrimento também é inerente à vida. Cedo ou tarde, deparamo-nos com ele. Além das dores físicas (em geral, próprias da enfermidade), também podemos experimentar o sofrimento psicológico ou moral.
Uma visão sadia
No livro Santidade de Todos os Dias [2], o tema do sofrimento é abordado na segunda parte, que discorre sobre a “vinculação à obra”: “por obra, ele [o cristão] entende o que se refere a todas as atividades do seu campo profissional, ao uso das coisas e ao sofrimento”.
Portanto, a perspectiva acerca do sofrimento é sadia. Ao colocá-lo ao lado do trabalho e das demais criaturas, indica-se que deve ser visto com naturalidade. Ao mesmo tempo, não deve ser negligenciado, pois a cruz sempre ocupa um lugar de grande relevância na vida do cristão: “antes de tudo, ele [o cristão] tem a coragem e a sinceridade de reconhecer um sofrimento, como sofrimento”.
A honestidade para admitir o sofrimento é o primeiro passo para vivê-lo de maneira equilibrada, evitando a presunção de se querer “suportar insensivelmente a dor”, por um lado, e a tentação de “queixar-se por qualquer insignificância e esmolar a compaixão dos outros”, no outro extremo.
Fonte de bênçãos
Quando as dificuldades são encaradas de modo sadio, elas se convertem em uma fonte de bênçãos, porque permitem uma identificação com o próprio Cristo: “Jesus também sentiu amargamente o sofrimento, quando no Monte das Oliveiras bradou cheio de aflição: ‘Pai, afasta de mim este cálice! […]”.
Ao experimentar a dor, surge a oportunidade de aprofundarmos a consciência de que, como membros da Igreja, temos um papel importante a desempenhar: “somos todos membros de seu corpo, uma vez que nos tornamos filhos de Deus. Por isso, é conveniente que supramos em nosso corpo o que falta à Paixão do Senhor. A Igreja deve assemelhar-se a Cristo, seu Esposo, que salvou o mundo por sua Paixão”.
Em segundo lugar, cada contrariedade ou angústia nos “aproxima muito humanamente a todos os que têm de suportar uma cruz”. Por experiência, pode-se atestar que, quando alguém passa por dificuldades, compreende melhor as pessoas à sua volta e sente-se animado ajudá-las em seus fardos.
Desse modo, cabe a nós cultivar uma visão saudável do sofrimento, a fim de convertê-lo em um dom para nós mesmos – aproximando-nos de Cristo –, e também para o próximo, a Igreja e toda a humanidade.
Referências:
[1] FRANCISCO, Papa. Mensagem de Sua Santidade Papa Francisco para o XXXI Dia Mundial do Doente. 2023.
[2] KENTENICH, J.; NAILIS, M. A. Santidade de Todos os Dias. Santa Maria: Pallotti, 1986.
*Ana Cláudia Pereira é schoenstattiana e colaboradora da Comunicação Oficial