“Pai, tu és a límpida fonte de paz, o vínculo que une todos os povos, o poder que vence a discórdia, a luz que ilumina e aquece” (Rumo ao Céu, 136)
Karen Bueno / Ir. M. Nilza P. Silva – Precisamos construir novamente a paz, todos juntos. Pata isso é preciso cultivar a paz por pequenos e grandes gestos, em resposta à cultura de morte gerada pela violência. Tenho que ser protagonista da paz aqui e agora, no lugar onde estou.
Por onde começar?
Quem conhece a história de Schoenstatt sabe que o Movimento surgiu e cresceu em meio à guerra, em meio a um cenário de armas, bombas e explosões por todo lado. É nessa fase caótica da história que a Mãe de Deus promove a paz, utilizando seus jovens congregados marianos. Eles não podiam parar a guerra, nem fugir para um território pacífico, eram obrigados a lutar e, mesmo assim, foram protagonistas de uma cultura de paz entre o seu batalhão por meio de pequenos gestos. Era o caso de José Engling. Um de seus maiores adversários não era o exército inimigo, mas o temperamento explosivo. Em sua biografia conta-se que certa vez lhe roubaram a espada e, como conclusão, armou-se uma briga entre ele e outro soldado no alojamento. Quando José se encontrou sozinho e teve condições de raciocinar mais serenamente, perguntou-se: “Eu agi bem?” Sabia que não era errado exigir a espada de volta, mas, era necessário fazer todo aquele escarcéu? Sentia-se culpado. Não encontrou paz, até procurar o colega e lhe pedir desculpas, fazendo as pazes. Como esse, seguiram-se muitos outros episódios, em que a paz era cultivada nas pequenas situações corriqueiras.
É essencial buscar a paz na família.
O Pe. José Kentenich gostava de contar histórias e, sobre esse tema, ele comenta o poder do silêncio como instrumento de paz: “Já devem ter ouvido falar muitas vezes do religioso São Vicente Ferrer. Certo dia ele foi procurado por uma mulher, cuja queixa principal era contra o marido… Como era ele? Irascível, arrebatado… Vicente Ferrer era um confessor inteligente e disse-lhe: “Vá ali ao convento e pede uma garrafa da água do poço. Tem que ser água do poço do convento. Depois faze o seguinte: Quando o marido chegar em casa gritando até não poder mais, bebe um gole da água e conserva-a na boca até ele parar de gritar”. Qual foi o efeito? Daquele dia em diante deixou de haver brigas. As pessoas da vizinhança começaram a dizer que queriam a água milagrosa de São Vicente. Tinha que ser a água do poço? Não tinha nada a ver, não era necessário ir buscá-la no convento, ele disse isso para dar um toque de mistério. Qual era o verdadeiro remédio? O silêncio da mulher”.
Vale apontar que o Pe. Kentenich não está falando sobre um silêncio de submissão e seu conselho, que vale tanto para o homem como para a mulher, é de uma atitude de humildade que contribui em qualquer relacionamento: esperar os “ânimos esfriarem” para ter um diálogo mais equilibrado. Por meio de gestos simples a paz vai se construindo dia a dia e refletindo-se mundo afora, nas complexas situações.
Essa Quaresma é também um tempo para reavaliar a paz interior e a relação consigo próprio. Somente assim se pode irradiar esse dom ao mundo, transmitindo amor, paz e alegria.
Onde encontrar a paz
Nas mais difíceis situações de violência, às quais estamos expostos neste mundo, podemos lembrar o papel da Mãe de Deus como Vencedora e recordar que em seu coração sempre se encontra a paz: “Teu coração sagrado é para o mundo refúgio de paz, sinal de eleição e porta do céu” (Rumo ao Céu, 541). Como os congregados herois, não há como fugir do atual “campo de batalha”. Mas, como eles fizeram, podemos buscar refúgio no coração da Mãe de Deus e confiar em sua ajuda. Ser sempre instrumentos de paz, para se formar aqui uma nova terra mariana.
“José Engling e seus companheiros, ao alcance dos tiros, estavam estendidos por terra. Ao redor ouvia-se o assobio ligeiro e vibrante das granadas. Muitos daqueles ‘pequenos monstros’ caíam bem rentes e os estilhaços zuniam por cima, como um bando de perdizes ao levantarem o voo. De repente, um estrondo maior. Uma granada explodira ao lado de José que, sentindo-se tão próximo da morte, faz um ato de contrição perfeita e recomenda-se a Maria. Como num lampejo, se esboça em sua mente a imagem da Capelinha de Schoenstatt, inundando-o de paz”.
Encontrando a paz e o abrigo, no coração de Maria, tornemo-nos instrumentos de paz no campo de batalha de nosso dia a dia, uma paz que nasce da justiça, da misericórdia, da paz de quem se empenha para conhecer e realizar a vontade de Deus que nos ama e fala conosco em cada situação.
Referências
– Herói de Duas Espadas. Olivo Cesca. 3ª edição
– Às Segundas-Feiras ao Anoitecer – Diálogos com famílias, vol 3. Pe. José Kentenich. Sociedade Mãe e Rainha. Santa Maria/RS: 2010.
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