Ir. M. Nilza P. da Silva – Chovia muito, quando Pe. José Kentenich colocou a carta sobre o altar, no dia 31 de maio de 1949. As Irmãs de Maria contam que foi difícil chegar ao Santuário, pois, o terreno estava alagado, era preciso pisar na lama e saltar sobre poças d’água. Mas, isso era algo pequeno para aquele a quem Deus deu o carisma de impregnar novamente na Igreja a força do amor. Embora as dificuldades dessa chuva seja nada em analogia com as grandes enchentes atuais, as palavras do Fundador nos convocam: “Quão errado seria ser apenas uma placa de sinalização na estrada… Pertencemos um ao outro agora e na eternidade… a Mãe de Deus cuidará que no futuro formemos realmente uma comunidade guiada por um amor verdadeiro e forte, que tudo supera.”[1]
A hora do amor orgânico é agora
Nas proximidades dos 75 anos desse ato, Deus nos chama para testemunhar concretamente essa “comunidade de amor, realmente verdadeiro e forte”, unindo-nos a cada irmão que sofre. No momento, aos que necessitam de cuidados urgentes, devido as enchentes na Região Sul do Brasil. Tem se publicado muito sobre essa catástrofe, imagens fortes expõem pessoas em situações de grandes sofrimentos, nos fazem questionar sobre o limite ético da imagem e a verdadeira intenção de alguns canais midiáticos. Mas, ao mesmo tempo, tocam o fundo de nossos sentimentos e nos movem para agir. Talvez, sem essa exposição as ajudas não tivessem sido mobilizadas com tanta rapidez.
Pela previsão climática, a tragédia não terminou e ainda haverá muita chuva em toda a região. Esta não é hora de acusações e de exploração das dores para vantagens partidárias, mas, sim de darmos as mãos todos juntos e salvar vidas com nosso pensar, viver, agir e amar orgânico. É desumano quem, nessa hora, se esconde atrás dos “inteligentes e teóricos” discursos, mas, continua em sua comodidade, sem se mover para ajudar os irmãos a sobreviverem.
É hora de demonstrar que o outro realmente importa
Numa reunião de Assessore Católicos da Comunicação, com o Assessor de Comunicação da CNBB, Pe. Arnaldo Rodrigues, os Assessores do Regional Sul apresentaram as necessidades que se verificam agora e um pouco do que é possível prever do que ainda virá. Os especialistas em tragédias climáticas explicam que o mais difícil não é agora, mas, sim, quando todos os deslocados estiverem retornando para seus locais e se derem conta do que e de quem realmente foi levado pelas chuvas. Precisamos dar muito amor e ajuda.
“Aqui na região, em Barão de Cotegipe, a maior perda foi em uma comunidade, totalmente destruída, só sobrou as paredes. Na igreja ficou a imagem do Cristo morto, porque encostou contra a parede e a água não conseguiu puxar para fora. Ontem, eu chorei enquanto celebrava a missa. Barra do Rio Azul está totalmente destruída e o drama é que faz 8 meses que a cidade foi destruída pela água e agora ficou pior ainda,” partilha o pároco Pe. Paulo Bernardi.
Não se pode celebrar um jubileu e ficar indiferente a tanta dor. Além das ajudas financeiras e dos itens básicos de sobrevivência, precisamos levar para os atingidos a certeza de que eles não estão sozinhos, que realmente estamos de mãos dadas com eles. Há também necessidades e confortos que só podem vir do céu. Cada um de nós pode e deve rezar muito por eles, para que sejam confortados emocionalmente, tenham confiança, mantenham-se firmes na fé e recomecem com esperança.
31 de maio é aqui ao seu lado
Sim, haverá uma celebração da Família Internacional no Chile e vai ser lindo. Mas, nada terá sentido se celebrarmos um jubileu presos no passado e desconectados da realidade mais próxima de nós. Nossos irmãos estão precisando de coisas reais e concretas. No momento, o mais urgente é que recebam alimentos, água e medicamentos… e vão continuar a precisar disso quando as grandes mídias mudarem de pautas, porque esta dor já não dará mais cliques nas publicidades. Hoje, há comoção, milhares de locais de arrecadações… Mas, cuidado com os que fazem questão de fazer brilhar o que doam! Infelizmente, há muitos PIX que são falsos, há campanhas desarticuladas e outras coisas que não ajudam, mas, que podem até atrapalhar agora.
A CNBB SUL 3 alerta que há pequenas localidades pouco conhecidas, distantes e isoladas, que não estão recebendo nada. Por isso, o pedido é que enviemos a ajuda pelo Regional da CNBB, pois eles podem dirigir tudo aos párocos, que entregam ao povo que de fato precisa. Para enviar ajuda, os transportes de confiança são os dos Correios. Quer enviar algo? Quer transportar algo? Dirija-se a uma agência de correio e o faça em parceria com eles. As Dioceses precisam também de espaços grandes para acolher as doações. Há cidades em que esses espaços públicos foram destruídos. Os proprietários não precisam gerenciar o recebimento e doação, pois, há equipes para isso. Quem tiver um galpão ou algo semelhante que pode dispor, por favor, entre em contato com a CNBB SUL3.
Informações para ajudas e contato do Regional CNBB SUL 3
Site com informações seguras, atualizado pela Pascom do Regional Sul 3
Muitos Santuários de Schoenstatt são também pontos de arrecadação, informe-se sobre isso com o Assessor de seu local.
Quando vier o depois, ninguém solte a mão
É preciso ir além da tragédia. Estamos no auge da crise, com o emocional à flor da pele, há quem grite, chame, organize, lamente, chore e não deixa ninguém parado. É linda a ação solidária que chega de todo lado. Mas, nós temos que dar um passo além. Sim, se trata de manter vivo, mas, quem está vivo precisa estar bem. Por isso, agora e depois é preciso manter os vínculos, é preciso quem os escute com coração, quem acolha seus medos e fragilidades, abrace com o olhar de ternura, reze junto, ajude a manter a fé e mostre que há esperança.
Ouvido no coração de Deus…
O pulso do tempo bate forte em nosso país, o que Deus quer nos falar? O que aconteceu é um chamado de Deus para uma forma de solidariedade que deveria existir sempre, também anterior e posterior à tragédia. Aqui entra de novo o 31 de maio: O chamado para uma cruzada, na luta para que se gere, em mim e em você, uma mentalidade que se torna ações o que anunciamos, formas de vida em aliança com Deus, com as pessoas, com a natureza.
A solidariedade não pode ser só pontual, mas, ser um estilo de vida, de pensar, de viver, de amar, que se antecipa, para que não ocorram tragédias por culpa humana, que previne, que mostre como Deus deseja os vínculos com a natureza, com as outras pessoas, com as instituições, com Ele mesmo. Um estilo de vínculo que se antecipe com a prevenção e não simplesmente reaja, mediante as consequências de uma tragédia. A propósito, como está com o uso de energia? Com o descarte e aquisição de supérfluos? Com a alimentação sadia? Com o cultivo de árvores e vegetais?
Essa reflexão não é válida somente para esse momento que nos comove, mas, para cada situação e para todas as “pequenas e grandes” tragédias. Há tragédia de todo tipo, também da violência familiar, das drogas que destroem vidas e tantas outras. A compreensão do 31 de maio tem a ver com questões anteriores ao “estouro da bomba”, precisamos tê-las presente e agir desde agora. Esse chamado de Deus é pelo respeito, pela aliança com o Criador e com a sua criação.
Você é o aliado da cruzada, não deixe-o sozinho…
Eu e você estamos sendo convocados ao respeito pela pessoa, pela sua vida, desde a geração natural até a morte natural. Nossa Aliança de Amor com Maria e a atuação dela como Educadora, no Santuário, nos ajuda a nos sensibilizar e respeitar a pessoa e a vida também antes que ela esteja profundamente machucada e numa situação de emergência. Criar e fortalecer vínculos saudáveis, sempre respeitosos, sempre de unidade, em todas as circunstâncias, para que cada um seja tratado e viva com dignidade e possa se tornar uma potência na essência de seu ser semelhante a Deus.
Continue esta reflexão: Que relação há entre o 31 de maio e o momento atual? Converse com seus amigos sobre o tema, tome decisões… para que o 31 de maio não seja memória do passado, mas, seja realmente uma corrente de vida, uma cruzada que une no amor aqui e agora.
Sejamos Missionários da esperança que, em Cristo, transfiguram a realidade.
Texto elaborado com base a reflexão com o Pe. Antonio Bracht
[1] Conferência de 31 de maio de 1949