A genialidade da Filialidade heroica
Ir. M. Patrícia Lemes – Vivenciamos os 75 anos do 3º Marco Histórico de nossa Obra de Schoenstatt, o 31 de maio, como costumamos chamá-lo. Nesse dia, nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, depôs sobre o Altar, do Santuário recém construído em Bellavista/Chile, a primeira parte da carta resposta à Dom Bernhard Stein, bispo auxiliar da Dioc. de Treves, na Alemanha, que ao final de sua visita canônica à Schoenstatt não só teceu elogios ao Movimento como também fez críticas a algumas aplicações e costumes pedagógicos, especialmente no que diz respeito à relação entre o Fundador e as Irmãs de Maria.
Esta carta resposta, para Pe. Kentenich, não se tratava “simplesmente de defender Schoenstatt”, mas de esclarecer, de forma científica, o carisma e a missão de Schoenstatt para a Igreja, especialmente a Igreja na Alemanha, a separação mecanicista entre causas primárias e secundárias no nível psicológico da vida.
A Epistola Perlonga (longa carta) como ficou conhecida, foi escrita em cinco partes, destas, três partes foram redigidas em Londrina e Jacarezinho, no Paraná. Justamente um dos temas mais abordados pelo nosso Pai e Fundador se refere à filialidade, parte essencial de nossa espiritualidade. Para fundamentar sua explanação ele recorreu aos escritos e experiências vividas de santos como Francisco de Sales, Inácio de Loyola, Dom Bosco, Pallotti, Bernardo de Claraval, Gregório e Leão Magno entre outros.
Abrange as correntes filosóficas, espirituais e pedagógicas do seu tempo e traz exemplos de Tagore, Bossuet, Pestallozzi. Apresenta com clareza a influência maléfica da filosofia existencialista, citando Sartre e o bolchevismo soviético de Marx. Em todas as suas explanações Pe. José Kentenich revela-nos ser um profundo conhecedor da alma e da sociedade humana e um entusiasmado e destemido profeta de Deus.
Na 5ª e última parte da Epistola Perlonga, nosso Pai e Fundador apresenta, de modo profundo, a filialidade. Ele chama a filialidade de “chave mágica”, capaz de abrir a alma e torná-la receptiva a tudo o que é grandioso e divino, capaz de “produzir” o milagre do novo homem na nova comunidade. Frente às polarizações políticas e governamentais de seu tempo, ele propõe o homem novo, que vive a filialidade heroica e no lugar do individualismo egoísta e destrutivo, propõe um espírito comunitário, que une e vincula interiormente, além disso, é solidário.
Pe. Kentenich vai mais além e apresenta, em lugar do conceito materialista do trabalho, o ideal nitidamente católico do trabalho, como seu poder de formação criativa. Ele afirma, com São Francisco de Sales, que a filialidade heroica é uma síntese admirável da mais alta espiritualidade e de uma humanidade cativante e nobre.
Tudo o que vivenciamos em dificuldades em nossa época, é um apelo de Deus para a vivência de nossa filialidade. Pe. Kentenich, na Epistola Perlonga aponta que
“Deus escreve com garras de leão. Só Ele pode escrever assim: com clareza, com força, com emoção, incitando os seus, com grande força e seriedade, a sair da prisão de uma burguesia dada à negociata e a covardia, e a entrar na no mundo da filialidade heroica. Quer que se entreguem totalmente a Ele, seguindo o exemplo do seu Filho…Caso contrário, não poderá dispor deles sem restrições…Porque não serão capazes de o compreender plenamente, nem de interpretar e aplicar corretamente a lei da porta aberta…”
O lema deste ano, da Família de Schoenstatt no Brasil: “Missionários da esperança, em Cristo, transfiguremos a realidade!” nos convoca a viver profundamente esta filialidade, não apenas madura, mas, heroica. Isto é, com uma profunda fé na Providência Divina, que está por trás de todos os acontecimentos que nos cercam, e nos pede uma resposta filial.
Ser filho Tabor em Cristo é estarmos dispostos a ir ao encontro dos desejos de Deus e ser para nossos irmãos e irmãs, em contraposição aos profetas da desolação e do desespero, profetas e missionários da esperança, sob o olhar de nossa Mãe e Educadora no Santuário!