Ir. M. Nilza P. da Silva/Diógenes Lawand – História e Memória não são sinônimos. Mas, uma ajuda a outra. Vamos tratar das Festas Juninas sob esses dois aspectos.
História: assim tudo começou
Alguns estudiosos apresentam que a origem das Festas Juninas remonta a um tempo anterior da era cristã, quando no hemisfério norte, no dia 21 de junho inicia o verão, pelo solstício. Isto é, nesse dia a Terra recebe a maior quantidade de raios solares e são, consequentemente, o dia mais longo e a noite mais curta do ano. Isso ocorre porque a Terra atinge uma inclinação de aproximadamente 23,5º em relação ao Sol e recebe os raios solares diretamente sobre a linha dos trópicos.
Os historiadores narram que em torno a essa data, os povos pagãos europeus faziam o culto aos deuses da natureza, das plantações, colheitas etc. No dia 24 de junho, festejavam o renascer da natureza, usando alimentos diretos das plantações, pedindo a proteção dos deuses para suas plantações. Quando foram cristianizados, os missionários não cancelaram essas festas, mas as revestiram com elementos cristãos, unindo-as aos santos desse período, no calendário da Igreja: Santo Antonio, São João e São Pedro.
Assim chegou ao Brasil
Quando portugueses e espanhóis começaram a colonizar o Brasil, trouxeram também suas tradições, crenças e culturas. As festas juninas foram trazidas e cultivadas entre nós, pelos portugueses. Primeiro, conhecida como festa joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para festa junina, em referência ao mês de junho. Os jesuítas trouxeram o costume de se acender uma fogueira, na noite de 23 para 24 de junho.
Com o tempo, essa festa ganha aspectos das várias culturas de outros povos que habitam o Brasil, especialmente dos africanos e dos indígenas. A alimentação a base de milho e amendoim, como canjica, pamonha, pé de moleque, além de bebidas como o quentão são uma herança legada pelos indígenas, o forrobodó africano (espécie de dança de arrasta-pé), se tornou o forró nordestino e gêneros similares, como o xaxado e baião.
A quadrilha teve origem em Paris, na França. A “quadrille”, nascida no século XVIII, era bastante apreciada pela aristocracia, foi trazida para o Brasil, por volta de 1830, recebendo modificações e ajustes. As palavras “anarriê”, “alavantú” e “balancê” são adaptações de termos franceses.
Os pesquisadores afirmam ainda que as roupas utilizadas na festa de São João são heranças da colonização europeia, adaptadas no Brasil. Os chapéus de palha, por exemplo, eram utilizados pelos camponeses, quando festejavam suas colheitas, e assumidos pelos agricultores brasileiros.
Memória: quem não se lembra?
Tudo na Festa Junina é um convite à alegria e às memórias de nossa infância. A família Perides Lawand traz algumas recordações, com quais muitos se identificam:
“Lembro-me que, quando era criança, morávamos na Rua Coronel Luiz Americano e as famílias se reuniam no mês de junho e festejávamos os três santos,” escreve Diógenes Lawand. “Cada dia, três famílias eram os anfitriões e preparavam uma iguaria junina e recebiam a toda vizinhança. Eu juntava algumas madeiras, para contribuir na fogueira feita na rua, que era de terra. As biribinhas eram uma grande diversão.
Era também uma festa da família escolar: todas as crianças na escola brincavam, dançavam e cantavam. Era muito bom! Dançávamos a quadrilha com nossos colegas de classe e depois entrávamos em outras turmas, para continuar a dança.
A festa junina na paróquia já tinha a conotação de unir a família paroquial e aconteciam sempre após a santa missa. Muitos ajudavam a preparar os quitutes e o cardápio junino, pois, tinha também como ênfase angariar fundos para ajudar a Igreja e a Comunidade Paroquial. Reinava muita alegria. Depois vieram as Festas Juninas nas escolas dos filhos, como uma ótima oportunidade de juntarmos toda a família. Fazíamos as bandeirinhas, com papel de seda, e balões para enfeitar as escolas.
As Festas Juninas me levam ao passado, me fazem reviver uma história antiga de tradições… gosto de sentir o clima do “caipira”, do campo, clima de quermesse. Eu gosto muito! Gosto muito das músicas caipiras, músicas regionais e tradicionais. Essa festa tem também um gostinho do primeiro olhar de amor, ao lembrar da mensagem pelo correio elegante, como esse da foto. A pessoa não se identificou e não tive como continuar, mas, guardo esse correio elegante até hoje.”
Cultura do Encontro e fortalecimento dos vínculos
Em todas as atividades na preparação e realização da festa junina estão muito presentes a força e a alegria gerada pelos vínculos. “Entendemos por ‘vínculo’ o laço de amor que brota do interior da pessoa, que é, portanto, livre e que a leva a estabelecer uma relação pessoal permanente, cheia de afeto com o mundo natural e sobrenatural.”[1]
Com isso, sabemos porque as festas juninas vividas na infância marcam a nossa vida toda, pois ficam gravadas em nossa memória emocional. O sentimento de pertença a uma comunidade é fortalecido, pode trazer frutos de transformação social e de um relacionamento mais pessoal com Deus.
“Festa Junina é Festa: do Encontro (a família inclusive os avós estão juntos), de vínculos e de partilha (armar barracas, ensaiar as danças, fazer bolo, etc). É uma Celebração do fruto da terra e do trabalho — isto é, da criação de Deus e do nosso papel nessa criação. Utilizamos o alimento tirado da terra (milho, por exemplo) e o trabalho do homem (fazer pamonha, por exemplo),” finaliza Lawand.
É possível divertir-se sem malícias, rir muito de piadas sem conteúdos sensuais ou preconceituosos, partilhar com desinteresse e dançar até cansar, com ritmos e passos que não remetam ao desejo sexual. Quando nos divertimos dessa forma, também teremos mais disposição para a oração…. e mais ainda: divertir-se assim glorifica a Deus. Quem não se lembra que o primeiro milagre de Jesus aconteceu em meio a diversão de uma festa de casamento? Vamos festejar, com alegria, amor e espírito de família.
Fonte
https://jornaldaparaiba.com.br/cultura/festa-de-sao-joao/
https://brasilescola.uol.com.br/detalhes-festa-junina/origem-festa-sao-joao.htm
[1] 150 perguntas sobre Schoenstatt, p. 43