A febre do momento é o filme da Disney: Divertida Mente 2. O lançamento nas férias, muito bem planejado pelo marketing em parceria com várias empresas que tem como público alvo a Geração Z, tem lotado as salas de cinema, é o filme de maior arrecadação financeira no Brasil e já arrebatou bilhões de dólares para os cofres norte americanos (meta alcançada). É importante estudar e ver o filme dentro dessa realidade. Mas, este texto quer convidá-lo a olhar outro ângulo.
O tema da hora é: Emoções, ou mais diretamente, a ansiedade. Há, no entanto, os que sentem que assistir o filme, rir e chorar, identificar-se com esta ou aquela situação, já é o suficiente para serem autoridade no controle das emoções. Será mesmo? Será que basta levar os filhos para ver o filme e depois não aprofundar o tema em casa? Gostou do filme? E como você trabalha suas emoções? Vejamos uma reflexão:
Pe. Carlos Padilla* – “Divertida Mente 2” mostra algumas emoções que vivem em minha alma. Um deles é bastante conhecido: a ansiedade. Ele entra na minha vida com um monte de malas, simbolizando a “bagagem” emocional que traz consigo: preocupações e medos que tenho que aprender a administrar.
Ela olha para frente e fica angustiada ao ver todas as coisas ruins que podem acontecer. Algo sempre pode dar errado. Por isso, essa emoção tenta controlar a situação, abrindo mão até de valores que podem ser importantes na minha vida. Diante de todos os possíveis infortúnios que se avizinham no futuro, algo deve ser feito. A ansiedade pelo que está por vir me leva a ficar preocupado, pensando em como resolver o que no momento não tem solução. Qual é a única coisa que posso resolver agora? É a questão chave para evitar viver ancorados num futuro provável que pode nunca acontecer.
A ansiedade explica sua missão na vida: “Meu trabalho é protegê-la das coisas que ela não pode ver. “Eu planejo o futuro.” Conviver com a ansiedade me leva a viver em uma tensão contínua, um estresse que não para. Há tantas coisas que podem dar errado na minha vida. Há tantos imponderáveis, tantos imprevistos. Como posso garantir uma vida feliz?
A ansiedade tira minha felicidade
É exatamente isso que reflete a emoção da alegria: “Talvez seja isso que acontece quando você cresce. “Você sente menos alegria.” É verdade que quando envelheço perco a alegria? A criança confia, não pensa no futuro, vive ancorada no presente que parece eterno. Ele não se chateia, não sofre analisando os prós e os contras de possíveis decisões. Ele não vê os caminhos que se abrem diante de seus olhos. A criança se deixa levar, confia plenamente nos adultos que decidem por ela. Ele não precisa arriscar nada, ele se deixa levar. Mas, quando você cresce, os problemas começam. É preciso tomar decisões que afetarão meu futuro. E diante dessas decisões a ansiedade cresce…
Não posso controlar o futuro da minha vida. Não posso perder minha identidade tentando ser como os outros. Vivo num mundo muito exigente em que me comparo com os outros. Quero ser como os outros, ter seus sucessos e alcançar suas conquistas. Não consigo e fico angustiado. Comentários de ansiedade: “Queríamos causar uma boa primeira impressão”. A vontade de ser aceito num lugar, num ambiente, leva-me a viver numa situação contínua de stress. Nunca viverei de acordo com o que os outros esperam de mim ou com o que eu espero de mim mesmo. As expectativas para a minha vida são excessivas e fico frustrado quando não respondo adequadamente. Não quero abrir mão do controle. Não quero deixar minha vida seguir confiando.
Ler também:
Na escuridão: Confiança!
Preciso ser como uma criança e confiar plenamente
Gostaria de ser assim e confiar mais nos planos de Deus. A ansiedade gera muitas doenças e me faz viver infeliz a vida inteira. A ansiedade não pode dominar minha alma. Existem outras emoções que preciso reconhecer e não reprimir. Aceito os medos, deixo a tristeza às vezes me invadir, reconheço que sinto inveja. São emoções que reprimo na tentativa de ser aceita por todos. A segurança não me será dada pelos outros com a sua aceitação, vai muito mais longe. Minha autoconfiança tem a ver com meu valor. Eu valho a pena, tenho um valor imenso… Minha identidade é feita da minha história, do meu passado, da minha herança familiar, das minhas boas e más experiências…
Sou quem sou e ninguém pode tirar a beleza da minha vida
Confio naquele amor de Deus que me ama na minha verdade nua e crua. Eu sou quem sou e ninguém pode tirar a beleza da minha vida. Confio naquele amor de Deus que me ama na minha verdade nua e crua. Eu sou quem sou e ninguém pode tirar a beleza da minha vida.
Há experiências que me causaram dor
Emoções negativas podem ser reprimidas em minha alma. Escondo as memórias negativas, bloqueio-as. No filme “Divertida Mente 2” ele comenta sobre o medo: “Somos emoções reprimidas!” O filme explora como emoções originais, como alegria, tristeza, raiva e medo, ficam literalmente trancadas em um recipiente de vidro quando novas emoções assumem o controle da vida do adolescente. Reprimir emoções é muito comum em minha alma. As coisas que sofri, as coisas que acontecem comigo, me machucam. Aquelas experiências que me machucaram me machucam e eu as reprimo, realmente as esqueço para sobreviver. É um ato de sobrevivência. Não há mal algum nesse mecanismo de defesa… Mas, o passado sempre volta por alguma fresta.,, O lado ruim de reprimir emoções é que mais cedo ou mais tarde elas ressurgem em minha consciência.
Pe. Kentenich diz: “O ser humano tem a capacidade de desenvolver as suas emoções. Caso contrário, bloqueará e reprimirá esses afetos, que, por sua vez, não aceitam a repressão e se esforçam para se libertar, gerando um estado de inquietação e ansiedade.“1
Olhar cara a cara os sentimentos que me perturbam. Pegue-os nas mãos e sinta-os. Aceite o medo, como aquela realidade que sempre nos acompanha. Dê lugar à ansiedade que é como um peso imenso que fica preso no meu peito. Ou aquele ressentimento que luta muito para ser superado. Ou o sentimento de culpa que é real e tenho que aceitar. São emoções que machucam. Meu desejo de sobreviver me leva a mandar embora o que me machuca. Querendo que desapareça para sempre. Mas, o passado sempre faz parte de mim… Preciso aceitar as coisas como elas são. Reconheça meus erros. Todas as minhas ações tiveram consequências e tenho que aceitar isso… Reprimir nunca é o caminho certo.
Pe. Kentenich dava grande valor ao amadurecimento da alma: “Na medida em que o ser humano amadurece, amadurece também na sua capacidade de aceitar as desilusões, as desilusões e precisamente de amadurecer por causa delas. É por isso que é ainda mais importante que as desilusões se tornem pontes importantes que conduzem a Deus.”2
Não posso desistir da minha verdade. Deus me ama e permitiu coisas em minha vida que me fizeram sofrer. Essas decepções, esses sofrimentos podem ser uma ponte para Deus. Ele está na minha vida também naqueles momentos em que eu não entendia nada, quando apenas sofri. Deus não se esquece de mim… Saber o que acontece comigo é uma etapa do meu processo de amadurecimento. A vida tem luzes e sombras, não existe só luz. Fingir que tudo é luminoso me leva a um beco sem saída. Às vezes mostro apenas a parte brilhante do meu caminho. Quero que os outros me admirem pela beleza que há em mim, pelas coisas lindas que também vejo. Mas não é a única coisa lá. Existem maravilhosos lagos azuis e também pântanos fedorentos… nem tudo é branco, nem tudo é preto também.
Mesmo quando meu próprio pecado me escandaliza, sou mais do que meu pecado. Sou mais do que meus sentimentos negativos, mais do que meu ódio. Em cada pessoa existe luz e escuridão, beleza e feiúra. Aceitá-lo em minha vida é o caminho para crescer de forma saudável. É assim que quero amadurecer. Deus sabe que posso acabar aceitando minha vida em sua verdade mais íntima. Não sou apenas esses belos pensamentos e essas experiências do céu. Deus me criou frágil, limitado. Minhas decisões nem sempre foram corretas. Nem sempre fiz o bem que queria nem consegui realizar todos os bons sonhos que nutria na alma. Caí, pequei, me desviei do caminho, voltei. Os sentimentos ruins se misturaram com os bons, me machucando.
Nem tudo em mim está acabado, estou a caminho, percorro um longo caminho no qual encontro o Deus da minha vida que vem para me salvar, para me curar. É por isso que não quero reprimir nada. Quero entregar tudo a Deus e que Ele me dê Sua paz.
* Pe. Carlos Padilla pertence ao Instituto dos Padres de Schoenstatt, na Espanha
- José Kentenich, Pedagogía de los ideales
- José Kentenich, King, Herbert. King Nº 4: El Vivir y Pensar Orgánicos
Fonte: Homilias Pe. Padilla
É bem interessante saber um pouco da história que a ansiedade nós prejudica
Muito bom esse filme