Neste domingo dedicado às vocações leigas, acompanhe a entrevista com o casal João Caetano e Maria Inês Faro, do Instituto de Famílias de Schoenstatt, que são os representantes da nossa Obra de Schoenstatt no Conselho Nacional para o Laicato:
A Igreja fala muito de protagonismo leigo. Como isso tem se desenvolvido nesses últimos tempos em nossa Igreja?
Bem, vamos falar a partir de nossa experiência pessoal – e pode até ser que nossa visão não seja a mais correta, ou a mais completa, mas, de qualquer modo, é como gostaríamos de responder a essa pergunta. Somos nascidos final de década de 50 e inícios década de 60. Então, estamos falando de Concilio Vaticano II e os conturbados e revolucionários anos 60. Lembramos de uma Igreja em que as funções eram muito bem definidas: o Bispo era a autoridade suprema na diocese, o padre a autoridade suprema na paróquia, dividindo influência e prestígio com o prefeito e o Juiz da cidade (quando não tinha juiz, valia o delegado de polícia). Havia uma visão muito forte de poder (ou de autoridade), e isso valia para o bem ou para o mal. Minhas primeiras memórias de criança na Igreja me trazem sons em latim, respostas decoradas, padre celebrando de frente para o altar e costas para o povo. As mulheres ficavam rezando o terço e os homens mais fora da igreja do que dentro. O pároco organizava tudo, os fiéis executavam as tarefas. Mas os tempos começaram a mudar a partir do Concílio: missas celebradas na língua do país, o celebrante de frente para os fiéis, os leigos fazendo as leituras, reunindo-se em grupo durante a semana para preparar o comentário da missa do domingo, a catequese renovada, a preocupação de preparar o jovem para dar passos mais seguros e conscientes na fé, cursos de noivos, cursos de crisma, os jovens cantando na Igreja com seus ritmos alegres, o crescimento do sentimento de pertença à comunidade. Cada vez mais a gente cresce na consciência: eu sou Igreja, não são as paredes que é a Igreja, e onde eu estou e vivo, aí está e vive a Igreja. Vieram os vários conselhos que enriquecem a vida da Igreja, como o Conselho da Pastoral, Conselho Econômico Paroquial, e tudo isso, de uma certa forma, tem a ver com o protagonismo leigo. No início dos anos 60, seria impensável ter uma pessoa ajudando no altar. Seria considerado até falta de respeito. Hoje, o que seria das paróquias se não houve os Ministros Extraordinários da Eucaristia? Os coroinhas e acólitos? Então, percebe-se claramente a Igreja viva, em movimento, aberta à participação de todos, cada um na sua função, cada um na sua vocação. Isso nos recorda a comparação que São Paulo utiliza para explicar essa verdade: “Porque, como o corpo é um todo tendo muito membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros” (I Cor 12, 12-13, 27). Isso parece óbvio hoje, mas nem sempre foi assim. Hoje percebemos mais claramente nosso lugar na Igreja e a importância da nossa participação, como cristãos leigos, tão importantes quanto os cristãos ordenados (bispos, presbíteros, diáconos) e os cristãos religiosos (membros de Ordens ou Congregações).
O que, para os senhores, é o protagonismo do leigo?
Vamos começar tentando entender a palavra “protagonismo”. Essa palavra vem do grego “prôtos”, que significa primeiro ou principal, e “agonía”, que significa luta ou esforço. Logo, podemos dizer que protagonista é a pessoa que desempenha ou ocupa o primeiro lugar ou o papel principal, e que se esforça para isso. De uma maneira muito simples, poderíamos dizer que o protagonismo do leigo está muito ligado a essa tomada de consciência que o leigo passou a ter da sua verdadeira função na Igreja, que não é apenas a de ser um mero espectador dos acontecimentos, mas um ator da história. Evidentemente, sabendo-se colocar no seu devido lugar, sem querer ser mais importante ou assumir tarefas que não lhe caberiam na comunidade, que seriam funções de um padre ou de uma religiosa. O Documento de Santo Domingo vai falar de tarefas intra-eclesiais e atividades extra-eclesiais. Os Bispos reconhecem como sinal dos tempos a presença de grande número de fiéis leigos comprometidos na Igreja, exercendo variados ministérios, serviços e funções nas comunidades e nos movimentos de nossas paróquias. Prometem continuar fomentando as experiências que oferecem ampla margem de participação aos fiéis leigos e respondem às necessidades de muitas comunidades que, sem essa valiosa colaboração, ficariam privadas do acompanhamento na catequese, na oração e na animação de seus compromissos sociais e caritativos. Falar de protagonismo do leigo na Igreja também é recordar que há situações em que o leigo pode e deve atuar melhor do que um sacerdote. Como levar o Evangelho às empresas, às escolas, ao mundo político ou econômico, às famílias? Sem dúvidas, eis aí uma tarefa a ser assumida por cristãos leigos. São os cristãos leigos que podem levar Cristo ao mundo do trabalho, da política, da economia, da ciência, da arte, da literatura e dos meios de comunicação social.
Que contribuições podemos dar à Igreja por meio de nossa estrutura laical enquanto Movimento?
Partindo do que encontramos no Documento de Santo Domingo, parece-nos que o Movimento já realiza um grande trabalho em que o protagonismo dos leigos fica evidente. O Movimento, por ter uma estrutura federativa, favorece a participação e fomenta a corresponsabilidade de todos para se alcançar os objetivos propostos. O Pai e Fundador sempre incentivou a autonomia, nos queria ensinar a pensar e a tomar atitudes assumindo as consequências de nossas próprias atitudes. O Movimento quer formar personalidades livres e que busquem a santidade cotidiana. Em outras palavras: o Movimento incentiva o protagonismo, não no sentido de fazer a pessoa achar que ela é a mais importante, mas no sentido de ajudar a pessoa a entender que aquilo que ela pensa e faz é necessário para a construção do todo. Pensemos nos nossos grupos de jovens, de famílias, de mães, de profissionais, da Mãe Peregrina. Quantas lideranças o Movimento vai formando e colocando à disposição da Igreja, e não somente nos âmbitos paroquiais?! A meta do Movimento não é apenas formar cristãos conscientes para a Igreja, mas também formar cidadãos para o país. Nos nossos grupos isso também é um objetivo a ser alcançado. Quando ampliamos o foco e olhamos a Campanha da Mãe Peregrina, vemos como atinge milhões de pessoas nesse Brasil, fomentando a união entre as pessoas, as obras de caridade, a organização em busca de ideais comuns. Isso tudo nos mostra contribuições do Movimento formando leigos conscientes no âmbito da Igreja e pessoas que gestam valores sendo sal e luz no meio da sociedade.
Em que poderíamos ainda melhorar e aprofundar, em sua opinião, na atuação dos leigos schoenstattianos?
Trabalhando para aprofundar sempre mais a consciência de que nosso caminho para o céu exige que façamos a nossa parte para construir um mundo melhor já aqui. A busca da fidelidade à Aliança de Amor, não como algo que faço para eu ser melhor, para eu ser santo, para eu ser mais perfeito, mas como participação na construção de um mundo mais justo. Se eu for melhor, por causa da minha fidelidade à Aliança de Amor, então o mundo será melhor. Entender o quanto é importante atuar para melhorar as realidades que nos cercam, não somente as realidades “religiosas”, mas aquilo que está no dia a dia: fazer bem o que me cabe na sociedade, cumprir com as minhas obrigações, cultivar o amor à pátria, assumir funções políticas onde isso for possível, ser bom patrão ou ser bom empregado, formar famílias equilibradas, ser bons pais e mães, ser bons filhos e filhos, seu um estudante aplicado, etc. Num sermão de missa de um desses últimos domingos, ao falar do Reino de Deus o padre disse uma palavra muito simples, mas que tocou muito meu coração: o Reino de Deus se constrói através das nossas atitudes, com escolhas. E viver Schoenstatt também é isso: é deixar despertar o herói que está adormecido em nossos corações e que deseja incendiar o mundo com a fé, a esperança e o amor que brotam da Mãe e de Jesus a partir do Santuário.
Publicado em 2022
Um assunto de extrema importância para a igreja hj. Muito bem colocado. Vieram se juntar à Dr.ª Geni Maria nesta tarefa? Todo o tempo que ela já está representando o mov. de Schonstatt nos enriqueceu e enriquece nossa vida espiritual, sem alardes, sem status, assim como é próprio de liderança por carisma. Sejam bem-vindos! Sempre é bom não estar sozinhos nesta representação. Assim os leigos vão ocupando seu espaço que lhes é devido na igreja.