Homilia do Pe. José Kentenich por ocasião da renovação da liturgia, pelo Concilio Vaticano II
Caros ouvintes! Como sabemos, hoje entra em vigor as modificações litúrgicas da missa. Como não temos ainda o texto (alemão) devemos por hora contentar-nos com o que for possível. Se externamente não podemos adotar todas as modificações (por não terem ainda o texto), penso que devemos por tanto mais acento no sentido, na finalidade das modificações, assim que a possamos atingir o mais perfeitamente possível.
A comunidade participa do que acontece no altar
Conhecemos esse fim e o sentido. Já falamos sobre a participação ativa da santa missa, a fim de aprofundá-la. Isso que dizer: o sentido das inovações previstas é tornar mais fácil a participação ativa na santa missa. E em que consiste o central na liturgia da santa missa? Já falamos sobre isso: trata-se da atualização incruenta do mistério da salvação do Gólgota. Nesse fato misterioso da salvação devemos participar intimamente – isto é o principal.
Com isso não queremos dizer que a participação externa seja secundária. Nós sabemos: aonde vai a alma, está o espírito, aí amanhã ou depois também se introduzem as formas expressivas. Se participamos intimamente da obra da salvação, isso aparecerá ou deverá aparecer também, de alguma forma, em nossas expressões e atos externos. Conhecemos a relação interna entre atitude anímica e externa, ação externa. O espírito – devemos dizer – cria uma forma. Porém, também o contrário: as formas externas tornam mais fácil apossar-nos do espírito.
Sem dúvida, só se as formas externas forem concebidas animadas pelo espírito serão praticadas com espírito. Quão verdade seja isso, nós o dissemos e indicamos no último domingo, quando olhamos na história da liturgia. Percebemos que a santa missa com o tempo se tornou uma missa clerical, o sacerdote lá na frente, no altar, colocou os atos, e nós, como comunidade no corpo da igreja, ficávamos sem atuação. Não havia nenhuma relação. Pela reforma, hoje, se quer que o altar e o corpo da Igreja formem de novo um conjunto só. A comunidade deve participar no que se passa lá na frente, no altar.
Assim dependem mutuamente: o interno e o externo. Sem dúvida, isso nós o dissemos: se nós apenas ou exclusivamente nos contentamos com as inovações dos atos externos, então introduzimos só exercícios externos, sem que se consiga renovar o espírito, do qual procedem os atos. O ideal, caros ouvintes, está em que ambos constituam uma harmonia, uma unidade: o ato externo, a ação conjunta que se passa diante de si, e a vida interna, a convivência.
Maria, modelo de participação litúrgica
No domingo passado nós olhamos o exemplo da Mãe de Deus, como co-participante no grande mistério da redenção. Como a Bendita entre as mulheres, esteve aos pés da cruz, e participou vitalmente de tudo que lá se passou, assim igualmente devemos nós participar na repetição incruenta do sacrifício da cruz, na missa.
Como se ofereceu a Mãe de Deus aos pés da cruz? Podemos salientar três momentos:
1º) Ela fora um testemunho de fé do que o Salvador fizera;
2º) uma co-ofertante heroica e
3º) uma co-oferta.
Será que, nesse entremeio, tivemos a oportunidade para experimentar o que tudo isso significa, e o que nós devemos fazer para que essa tríplice participação ativa e íntima se torne realidade na nossa própria vida?
Sermos capazes de tornar Cristo presente em toda parte
Porém, penso, devia se ir mais ao fundo, no que temos dito sobre o fim e o sentido do Concilio Vaticano. Ainda recordamos: devemos pelo Concilio Vaticano nos tornar capazes e maduros para tornar Cristo e a Igreja presentes em meio aos nossos tempos em transformação, por toda a parte – não só aqui na igreja, não só em nossa família, senão por toda a parte, onde vamos e estamos. Devemos, por nosso ser, tornar a Igreja presente em toda a parte. Cristo em nós, Cristo vivo em nós, esse é o grande fim que o Concilio persegue.
E o que compete às mudanças litúrgicas, nesse sentido? Por elas devemos tornar-nos aptos de tornar real essa atualização o mais perfeitamente possível em toda parte onde formos e estivermos.
A santa missa deve continuar na vida
Então, vem por si a pergunta: é suficiente quando nós participamos na Santa Missa, assim como vimos e aprendemos da querida Mãe de Deus sob a cruz? Nossa resposta é essa: se nossa participação na Santa Missa é um ato isolado, separado dos demais atos do dia, não podemos esperar que as reformas litúrgicas operem de modo eficiente. Do que vem isso? O que é o mais importante, o mais valioso nas reformas litúrgicas? Dito simplesmente: a Santa Missa deve se tornar o ponto de partida, o ponto central e o ponto final da obra do dia. A atmosfera que se vive então na Santa Missa, a atitude que a Santa Missa nos quer doar, devem, com o tempo, impulsionar todo o nosso dia. Com isso está diante de nós o fim da educação litúrgica, da educação para o sacrifício da missa.
Se quero tornar mais compreensível o que com isso disse, em forma geral, substancial, creio que nos devemos impregnar profundamente de três princípios fundamentais, tão profundamente, de modo a se tornar o conteúdo de nossa própria vida.
Quais são esses três princípios?
1º princípio fundamental: todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha (I Cor 11, 26).
2º princípio: de missa para missa.
3º princípio: a missa do dia deve tornar-se a missa da vida.
1º Princípio
São Paulo no-lo ditou e desejou impregnasse nosso coração e sentidos. Sempre que participais da missa, deveis anunciar a morte do Senhor. Isso significa duas coisas:
a) Durante a Santa Missa devemos tornar realidade os três momentos que consideramos no exemplo da Mãe de Deus:
– Está cheia de fé ao pé da cruz, isto é, por nossa atitude de fé, por nossa participação intima no que se passa no altar, anunciar a morte do Senhor.
– Não deixamos o Salvador se oferecer sozinho, nós o oferecemos junto com ele, assim como a Mãe de Deus o fez.
– Ao mesmo tempo, nós nos oferecemos a nós mesmos juntos com sua oferta na Santa Missa.
b) Mas, só isso ainda não é suficiente. Se eu durante a missa me deixo pregar na cruz com o Salvador, devo também durante todo o dia permanecer preso na cruz. Não apenas durante a Santa Missa, porém também durante todo o dia, sou testemunha fiel: não só co-ofertante, senão ainda co-oferta: com o Salvador ofereço o sacrifício ao Pai.
Para ir aos detalhes, eu devo sofrer física ou espiritualmente: sinto o peso dos anos, sinto o limite de minhas forças humanas – eu anuncio a morte do Senhor! Quanto teve que suportar o Salvador em suas dores corporais! Eu anuncio a morte do Salvador quando suporto minhas dores físicas, como fez o Salvador, e como Ele hoje faria se estivesse em meu lugar. Ou pensemos no sacrifício do coração: quantos sacrifícios do coração devemos diariamente suportar, quantas coisas caras, quantas pessoas queridas a quem devo renunciar.
Em tudo queremos anunciar a morte do Senhor. O coração do Salvador pulsa de dor de novo em nosso coração, eu sofro tudo, profunda e intimamente vinculado com o coração transpassado do Salvador.
Porém, também nossa inteligência deve pender da cruz. Deus nos fala na liturgia da Santa Missa, na Sagrada Escritura, e de fato fala como o Deus da vida, que tem em suas mãos a história do mundo, como também os mínimos acontecimentos da minha vida pessoal. E esse Deus vivo é exigente! Ele não só quer que suportemos tudo silenciosamente. Mas, Ele nos coloca fins claros, quer que sejam conquistados! Principalmente hoje, quando o demônio celebra vitórias, tem em suas mãos as rédeas da história do mundo, enquanto os instrumentos de Cristo e da Mãe de Deus sonham, dormem e não sabem que tarefas o Deus da vida lhes coloca na vida diária. Devemos fazer o que Deus quer de nós, inclinar nossa inteligência à luz da fé, à luz da fé prática na Divina Providência.
Caros ouvintes, será que entendemos agora o primeiro princípio? Todas as vezes que comerdes deste Pão e beberdes deste Cálice, isto é, celebrardes a Santa Missa, deveis anunciar a morte do Senhor pelos sentimentos do vosso coração e por vossas ações externas. Agora entendemos talvez melhor a outra palavra do apóstolo Paulo:
“morro diariamente” (I Cor 15,31).
Não deve ser diferente conosco: diariamente me deixo crucificar com o Salvador, e diariamente deixo pregar-me em minha cruz. Assim entendemos também um provérbio do cristianismo primitivo: “do altar para a arena”. Aplicado a nós, a mim, isso significa: do altar para a arena da minha vida prática. E agora me devo perguntar: sou eu dona de casa – qual é a minha arena? Sou estudante – qual é a minha arena? Encontro-me eu onde quer que seja – qual é a minha arena? Se separo minha arena diária do altar, então amanhã ou depois minha vida não mais será a arena de Deus: tornar-se-á a arena do mundo e, finalmente, a arena do demônio.
2º Princípio: de missa para missa
Segundo esse princípio, minha vida torna-se dividida em muitas partes. A menor parte para nós é o tempo de uma missa para outra. No autêntico modo de pensar cristão, isso quer dizer: se eu participo diariamente da Santa Missa, então toda a ação diária se concentra no presente. Hoje quer Cristo morrer em mim! Hoje! Não amanhã, nem depois de amanhã. Essa é, não raro, uma das mais sérias tentações do demônio: pintar-nos de modo difícil e impossível uma vida toda vivida dentro dum profundo nível religioso e moral. A resposta para tais imaginações é: hoje, só hoje, só por 24 horas, eu tenho a responsabilidade! Só no espaço de uma para outra missa. Cada manhã na Santa Missa eu recebo as graças que necessito para lançar-me na arena da minha vida. A cada dia basta o seu cuidado (Mt 6,34), igualmente a cada dia basta as suas graças.
Sentimos nós como, desse modo, pela Santa Missa, vista e vivida de modo correto, toda a ação diária é tirada do indiferentismo e introduzida na vida misteriosa de Cristo? Assim compreendemos que nós, mais cedo ou mais tarde, possamos repetir com São Paulo: “Cristo vive em mim” (Gal 2,20), Cristo ora em mim, Cristo sofre em mim, tudo faz Cristo em mim, durante o dia. E as graças que necessito para cumprir todos os desejos de Cristo, recebo-as cada manhã na Santa Missa.
Se eu penso assim, se assim vivo a minha vida, então pressentimos que profundo significado ela adquire; não só participo da missa quando a não participação seria pecado grave, mas pressinto o quão valioso é tornar o altar o centro de minha vida.
E agora o
3º Princípio: A missa do dia deve se tornar a missa da vida.
O que quer dizer isso? Todas as ações do meu dia devem ser uma contínua repetição do ofertório, consagração e comunhão.
Eu ofereço o quê? Pelas circunstâncias em que me encontro, Deus indica-me o que devo oferecer: as tantas dificuldades na família, no trabalho, na vida social, na vida pessoal. Eu as ofereço e, por isso, repito o ofertório em minha vida. Na patena, isto é, por Cristo, eu ofereço ao Pai as pequenas ofertas. Cristo as oferece comigo, Ele em mim e eu n’Ele.
Consagração! É evidente por si: se eu vivo minha vida desse modo sobrenatural, como ofertório com Cristo, então serei também transformado em Cristo, e, como fruto dessa transformação com e em Cristo, meu coração se torna unido, sempre mais, ao Pai do Céu. Então, pode soar o “Ite, Missa est” – Ide, a missa terminou – porém, só a missa da manhã, a missa do altar. Começa a missa da vida, e durante o dia, até à santa missa do próximo dia, devem ser repetidos de novo o ofertório, a consagração e a comunhão.
Caros ouvintes, se nós vemos assim todos esses conjuntos, se nós tomamos e realizamos em nós a renovação litúrgica, então, tornamos a Igreja presente, sempre e por toda a parte onde estivermos e formos. Então, somos apóstolos, missionários, quer estejamos a sós em nosso quarto ou junto com nossa família em casa, no trabalho ou em meio dos divertimentos que a vida moderna nos oferece. Em todas as situações vale sempre o mesmo: a missa do dia deve se tornar a missa da vida! Sempre de novo vale a palavra: de uma missa para outra! E: deveis anunciar a morte do Senhor.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém!
Publicado em: 14 de jul de 2022
Ótimo o texto sobre a confiança do Pai Fundador e que aos nossos olhos nada aconteceu. Desmistifica a simples visão de que conseguiu tudo porque nasceu santo.
Mais uma vez o Pai nos ensina que confiar é nossa “obrigação” de filhos que esperam e creem na bondade amorosa e vitoriosa dos pais.
A família de Schoenstatt sabe que pedimos … e, como Deus é pai, Deus é bom e bom é tudo o que Ele faz…. no tempo divino o melhor acontece para os filhos.