Em breve, Pe. Marcelo Adriano Cervi, atual reitor do Santuário da Mãe e Rainha, Mater Ecclesiae, em Roma, retorna ao Brasil. Nesta entrevista, ele nos conta sobre suas experiências e expectativas.
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Quantos anos o senhor serviu a Igreja e Schoenstatt como reitor no Santuário Mater Ecclesiae?
Com a graça de Deus pude estar oito anos em Roma, a serviço do Santuário Matri Ecclesiae e do Centro Internacional de Schoenstatt, de 22 de janeiro de 2017 e, se Deus quiser, até 25 de janeiro de 2025. Foi um presente da Providência Divina; foram anos muito fecundos, de bastante aprendizado e muita cooperação em várias frentes.
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De que forma a sua experiencia com o Movimento Apostólico de Schoenstatt no Brasil lhe ajudou nessa tarefa?
A experiência que fiz com a Obra de Schoenstatt no Brasil foi bastante rica e trouxe isso na bagagem, ao desembarcar em Roma. Como padre diocesano trabalhei bastante com a Campanha da Mãe Peregrina (CPMS) nas paróquias por onde passei. Isso foi fundamental para entender Schoenstatt na Itália, bem alicerçado na CPMS, que vai se esparramando pelas paróquias, por toda a península.
Minha experiência, como assistente da União Feminina de Schoenstatt e a União das Mães, prepararam-me para um contexto cultural (não muito diferente do nosso), no qual o gênero feminino, apesar de ainda pouco valorizado, é o motor das atividades paroquiais.
Quando estava no Brasil, como membro do Instituto de Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt, fui o primeiro superior da Região “Nuevo Belém”, que abrande a Argentina, Brasil, Chile, Equador e Peru. Tudo isso me ajudou a viver um universo intercontinental e intercultural, a ter abertura ao diferente, capacidade para o diálogo e o interesse pela cultura e a mentalidade dos demais, sem sobrepor a própria.
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Qual é a missão do Santuário de Schoenstatt em Roma?
O Santuário Matri Ecclesiae e a Domus Pater Kentenich (Casa de Retiros) são o presente que a Família Internacional de Schoenstatt deu ao Pe. Kentenich, quando ele celebrou seus 80 anos, aqui em Roma, 16/11/1965, no contexto da volta do exílio. A missão do Santuário está relacionada com a pertença e a colaboração carismática da Obra de Schoenstatt na Igreja.
O nome do Santuário, dado pelo Fundador, “Matri Ecclesiae”, pode ser interpretado de duas formas, segundo a declinação latina: um Santuário da Mãe da Igreja ou um Santuário para a Mãe Igreja. Dom Ignázio Sanna, arcebispo emérito de Oristano/Itália, atual presidente da Pontifícia Academia de Teologia, em Roma e membro do meu Instituto, sempre diz que a nossa missão aqui é “levar Schoenstatt para o coração da Igreja e levar a Igreja para o coração de Schoenstatt.”
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O que o senhor traz desses anos em Roma, para o Brasil?
Sem dúvida, as malas voltam muito mais cheias do que quando parti. Das inúmeras graças que a Providência me proporcionou, destaco cinco:
Experiência espiritual: Este tempo foi um tempo de forte experiência de Deus. Aprendi a confiar mais na sua bondade e na sua condução providencial da vida quotidiana. Vivi cada dia o Santuário como lugar de entrega e de gratidão.
Experiência de vida: O contato diário com pessoas de outros países e estilos de vida me alargou os horizontes no sentido de uma compreensão bem mais ampla da vida e da diversidade de culturas e manifestações da única fé em Cristo.
Experiência pastoral: Ninguém consegue e nem pode ser protagonista quando o projeto é de Jesus e o campo de atuação é o Povo de Deus e a sociedade em geral. Estamos aprendendo cada vez mais a trabalhar em equipe e em redes de equipes e a falar de corresponsabilidade.
Experiência acadêmica: Pude concluir um doutorado em teologia na Universidade Gregoriana sobre “A dimensão carismática da Igreja” estudando a fundo o Concílio Vaticano II. Tive também a graça de realizar três cursos importantes que desejo compartilhar.
Experiência no Movimento: Por trabalhar com pessoas de todos os Institutos e Uniões e colaborar com vários projetos e apostolados, alguns dos quais de nível internacional, compreendi melhor o carisma dado por Deus ao Pe. Kentenich e a própria estrutura de Schoenstatt.
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Quais foram seus maiores desafios?
O maior desafio: Encarar uma realidade sociocultural-eclesial totalmente nova e fazer uma imersão total com o espírito de quem veio mais para compartilhar do que para ensinar.
Aprender novas línguas e a respeitar ritmos e costumes muito diferentes. Tive contato diário com três estilos de vida: alemão, italiano e brasileiro. Sinceramente, penso que o brasileiro consegue fazer a síntese entre os outros dois e isso me ajudou.
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Quais foram as suas maiores alegrias?
Nem arrisco falar, pois foram muito maiores que as dificuldades e desafios. Mas, se posso falar de uma alegria, é relacionada com o cumprimento da promessa feita, pelos representantes da Obra Internacional de Schoenstatt, ao nosso Pai Fundador, Pe. Kentenich: Construir um Santuário e um Centro Internacional em Roma. Fazer parte do cumprimento dessa promessa foi uma alegria muito forte e intimamente vivida, que me vincula ainda mais com o Fundador.
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O senhor deixa o Santuário nas vésperas da coroação. Não poderia ser depois?
Infelizmente não poderia esperar. Mas, continuo coordenando a Equipe responsável pela celebração da coroação. Pela possibilidade de trabalho online, minha ausência física não influencia negativamente na preparação direta. Se Deus quiser, estarei na coroação.
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Como volta para o Brasil?
Volto com o coração sereno e alegre por ter contribuído com a missão de Schoenstatt a nível internacional, num Santuário de projeção mundial. Feliz e realizado por ter colaborado, ainda que de forma discreta e muito pequena, com a implantação de Schoenstatt num país tão querido para mim que é a Itália, onde estão minhas raízes familiares, participando assim do que o Pe. Kentenich chama de “corrente de retorno”, que significa os missionários brasileiros retribuir um pouco do muito que recebemos dos missionários europeus, no passado.
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O que espera de seu retorno ao Brasil?
Se tenho um desejo, é aquele de colocar a serviço da Igreja na minha Diocese de origem e no Movimento (de Schoenstatt) no Brasil as grandes graças, os dons e as experiências recebidas ao longo desses oito anos. Na Diocese fui chamado a colaborar, como vigário paroquial, com o Pároco da Paróquia do Senhor Bom Jesus, em Monte Alto/SP, e atuar na formação dos diáconos permanentes, no Arquivo Diocesano e no acompanhamento de alguns processos da Assembleia Pastoral Diocesana que acontecerá em 2025. No Instituto, permaneço como membro da Direção Geral e a partir de janeiro, como formador Terciado Perpétuo na Regio “Nuevo Belén” (América do Sul). O principal encargo nesse momento será simplesmente “chegar” e pouco a pouco somar forças na tarefa, que não é pouca.