Padre Nicolás Schwizer – Os reis magos que vieram de longe para ver o Menino, o Rei recém-nascido, salientaram o fato de que Deus tinha vindo para todo o mundo. Ele se manifesta ao mundo por meio de três representantes, mostrando-se aos três reis. O Evangelho constata que, antes de todos, são os pagãos aqueles que se interessam pelo nascimento do Messias; e vão ao seu encontro.
Por outro lado, os que por sua profissão deveriam estar conscientes desse nascimento – os escribas e sacerdotes – deveriam saber onde o Messias nasceria. Seu conhecimento é claro e determinante; porém, não têm fé e não se preocupam em ir ao encontro do Menino. Herodes até pretendia ir, porém já sabemos qual era sua intenção.
Os judeus, que conheciam as profecias por meio de seus estudos, não reconheceram o Messias. Essa falta de fé despoja-os de todos os seus direitos. Ao contrário, as nações que não sabiam nada a respeito das profecias entram com tudo na fé.
Muitos pequenos sinais chamam a atenção dos três reis: o anseio dos povos pelo Salvador. Uma estrela que eles interpretam como algo significativo nesse contexto. Nesses pequenos sinais, acreditam entender o chamado de Deus. Têm a audácia de confiarem-se na guia da estrela, na condução de Deus.
Novamente, nós também temos que nos decidir. Hoje em dia, estamos diante de uma alternativa de rejeitar a Jesus, como os judeus, ou confiar e crer n’Ele como os três reis. Porque Deus está próximo de cada um de nós na Epifania permanente. Ele se manifesta a nós e, cada dia, revela-se onde quer que estejamos, por meio dos acontecimentos e exigências da vida; dos exemplos e palavras dos irmãos, das intuições e inspirações do próprio coração.
E nós? Sabemos ver a Deus em nossa vida de cada dia?
A liturgia é uma epifania de Deus a cada um de nós, quando participamos dela com o coração aberto. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8), nos diz o Senhor. Poder ver a Deus depende de nossa atitude interior: de nossa abertura, disponibilidade, pureza de coração.
Já nos tempos de Jesus, quando Ele falava, eram possíveis duas atitudes, que permanecem até hoje:
Os de coração duros assistiam à pregação do Senhor como espectadores indiferentes, fechados, reticentes. Quando Jesus terminava de falar, permaneciam com nada, talvez apenas com algumas objeções e críticas.
Talvez, tampouco nós entendamos tudo da leitura do evangelho ou da homilia que o explica. Com certeza, ali acontece uma Epifania de Deus: “Quem a vós escuta, a mim me escuta” (Lc 10,16), afirma o Senhor aos seus discípulos.
Os outros, os de corações puros, se deixam instruir, formar, transformar pelas palavras de Jesus. O Senhor lhes falava quem era Deus e quem eram eles; como Deus os tratava e como eles O tratavam. Os que eram de Deus escutavam, entusiasmados, a palavra de Deus e tratavam de realizá-la em sua vida de cada dia.
Queridos irmãos, cada Eucaristia é uma Epifania de Deus. Jesus se nos revela por meio de sua palavra, por meio de seu corpo e sangue, por meio da comunidade que está reunida em seu Nome. Entretanto, não é Epifania para os que participam passivamente da liturgia; é Epifania apenas para os que têm coração puro e aberto; apenas para os que comprometem com Deus e com os irmãos.
Nossa comunidade é e deve ser uma Epifania de Deus. Por meio de nossa alegria, do amor e respeito mútuo, o espírito de unidade e solidariedade, Deus quer manifestar-se ao mundo que nos rodeia. Deus e a Santíssima Virgem querem prolongarem-se em nós, fazendo-nos presentes, mediante nosso testemunho.