Pe. Antonio Bracht* – Para falar de esperança, convém começar com um olhar para a realidade à nossa volta. Olhar para a sociedade, os fenômenos que nos impressionam, as tendências que apontam para a transformação, por vezes silenciosa, outras vezes mais ruidosa.
Nesse olhar, vamos constatar que a esperança, em grande parte, desapareceu. As pessoas têm grandes expectativas, quando não, profunda ansiedade. Deseducadas pelos potentes meios eletrônicos, que permitem obter coisas imediatamente, sem conhecer os caminhos e os processos, pelos quais essas coisas são produzidas e colocadas tão rapidamente em suas mãos, se frustram quando assim não acontece.
Perdeu-se a capacidade de esperar uma coisa surgir, lentamente, crescer, se formar, para poder usufruir dela.
A Esperança e o tempo
A esperança é justamente a atitude que permite as coisas acontecerem no seu tempo e nos insere de forma construtiva nesse ritmo. Além disso, precisamos considerar que as expectativas são voltadas para metas desse mundo, coisas materiais, respostas a demandas localizadas.
A esperança, no entanto, é uma expectativa voltada para as coisas de Deus, para as últimas realidades, para o mais significativo e não sempre imediato. Para aquilo que é mais decisivo na nossa vida e nos situa, em relação à vida, no sentido mais pleno, na perspectiva da eternidade.
A esperança está ligada a Cristo, a sua ação salvífica, a sua ressurreição – penhor de vida eterna.
Essa breve descrição da realidade nos faz perceber que as pessoas longe de Deus, sem referência a Cristo na sua vida, muitas vezes escravas do seu pecado, não conseguem vivenciar a esperança.
Não raro, os próprios discípulos do Senhor vivem presos às realidades terrenas, cultivando aparências, sem força para sair das amarras do pecado. Vamos encontrá-los sem esperança, e sem serenidade, sem a confiança, que lhes daria força para enfrentar os desafios.
O que fazer para que possam ter esperança?
Para responder a essa questão, considerando a realidade como a vemos, percebemos que a esperança tem muito a ver com a misericórdia. Para viver esperança, temos que acreditar na misericórdia de Deus. Deus é o Deus da misericórdia, Ele a revelou em Cristo e, por Cristo, a oferece a cada um e a todos.
Com a misericórdia, com o perdão, Deus não quer apenas despertar em nós o anseio por algo melhor, imediato, um bem-estar. Ele quer despertar em nós o anseio por essa realidade mais profunda, mais abrangente, da vida mais plena, que só Ele pode nos conceder.
Acreditar na misericórdia
Essa é a primeira conexão entre esperança e misericórdia. Há também outras.Precisamos buscar a misericórdia, para viver a esperança. O perdão, que pacifica o coração, é a base da esperança. Finalmente, eu preciso usar de misericórdia. O misericordioso é alguém que desperta esperança em outros. No Evangelho de Mateus lemos: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!” (Mt 5, 7) Poderíamos acrescentar: porque viverão na esperança!
O misericordioso desperta no outro o anseio. O anseio por algo diferente, algo grande, por uma vida nova.
Despertar a esperança nos corações
Neste ano santo, somos convidados a voltar-nos para o Deus Santo, o Deus da misericórdia, para voltar a acreditar na sua misericórdia, para buscar a misericórdia e para usar de misericórdia, despertando nos corações a esperança. Esse é o sentido do peregrinar a lugares santos, e nesses lugares obter a indulgência.
A indulgência é a remissão das penas do pecado perdoado. É justamente um sinal dessa misericórdia que apaga tudo, apaga as consequências do pecado, renova completamente a vida.
Quem acredita na indulgência, acredita na misericórdia. Quem busca a indulgência, busca a misericórdia. E a indulgência pode ser aplicada para outros, para aqueles que mais precisam da misericórdia. O rito da indulgência não é simplesmente um rito, para nossa proteção, para tranquilizar os nossos medos. É abrir o coração para a misericórdia.
Ver também:
O que são a indulgência plenária e como recebê-la
Os santuários da Mãe e Rainha, indulgenciados pelo Ano Santo
Maria, Mãe da Santa esperança
Cristo não veio para organizar a contabilidade dos nossos pecados, veio para abrir o nosso coração para a transformação e a vida nova, usando de misericórdia para conosco. Tanto quis facilitar para nós este acesso, que nos deu por mãe a sua Mãe. Ela, a quem a Igreja, com razão, invoca como Mãe da Misericórdia e Mãe da Santa Esperança, é um grande sinal de esperança.
Vivendo o ano santo, nesta relação com o Deus da misericórdia, aprenderemos – como gosta de dizer o papa Francisco – a esperanciar e nos tornaremos sinais de esperança para o mundo!
*Pe. Antonio Bracht é Diretor Nacional do Movimento Apostólico de Schoenstatt no Brasil