Há paz na alma daqueles que têm Jesus como Rei de suas vidas
Pe. Carlos Padilla – Hoje celebramos a festa de Cristo Rei, que foi instaurada pelo Papa Pio XI em 11 de março de 1925, em um mundo secularizado, a fim de ressaltar a beleza de Cristo. O Papa quis motivar os católicos a reconhecerem em público que aquele que governa este mundo é Cristo e que só quando ele reina nossa vida tem verdadeiro sentido. Disse Bento XVI na motivação para a Jornada Mundial da Juventude de 2011: “O relativismo que se tem difundido, para o qual tudo dá no mesmo e não existe verdade alguma, nem um ponto de referência absoluto, não gera verdadeira liberdade, mas instabilidade, desconcerto e um conformismo com as modas do momento”. Quando reconhecemos a Cristo como Rei, colocamos as coisas em seu devido lugar. Quando nos ajoelhamos ante Deus, ante Cristo, ante Maria, já não temos que nos ajoelhar ante os homens.
Lamentavelmente a sociedade em que vivemos perde seu centro e tem outros reis. Cristo já não é seu rei, nem Maria é sua Rainha. Há outros reis feitos de fama e dinheiro, de beleza física, luxo e honrarias, de lama e tempo esquecido. Há reis que nos fazem pensar que o sentido de nossa vida consiste em reinar, em ter poder temporal, em governar e mandar. Essa é a realeza a que estamos acostumados e a que aspiramos sempre.
Outro dia um homem que estava muito enfermo, quando recebeu a Unção dos Enfermos, comentou comovido: “É incrível que o mesmo óleo com o que se unge aos reis todo poderosos seja o óleo com o qual se unge nossas enfermidades. Somos ungidos como Cristo, no alto da cruz”. Eu mesmo me comovi ao pensar na beleza desse óleo que iria refletir na dureza da enfermidade o amor de Cristo; Ele, crucificado e abandoado na impotência de um madeiro, despojado de todo seu poder, foi ungido como rei sendo seu rosto desprezível. Não reconhecido pelos homens, sua realeza crucificada brilha hoje.
Um rei diferente
Tampouco hoje é fácil crer que Cristo é o Rei do mundo. Quando observamos o rumo que leva a sociedade em que vivemos, torna-se difícil descobrir as pegadas de seu reinado. A grande tentação do cristão ao longo da história tem sido comparar o reino deste mundo e o reino de Cristo. Queremos um rei que reine como estamos acostumados aqui na terra. Um rei com poder que estabeleça as leis e os costumes que desejamos.
O Pe. José Kentenich dizia: “Consagra vossos filhos a Deus, mas não peçais que os livre da cruz. O filho de Deus amadurece por meio da cruz”. São palavras duras que não estamos acostumados a viver. Geralmente pedimos que Deus nos livre da cruz, do sofrimento e do sacrifício. Pedimos para descer do madeiro quando estamos sofrendo demais e pensamos que não seremos capazes de suportar. Não toleramos que aqueles que tanto amamos sofram sem podermos fazer nada para aliviar sua dor. Não entendemos a enfermidade, a morte, a pobreza ou a injustiça.
Aos pés da cruz muitos zombaram da impotência de Cristo, porque esperavam outro rei, queriam um rei poderoso e livre. Contudo, Ele não se afastou do sofrimento, não renunciou ao caminho da salvação. Não manifestou seu poder de forma admirável, não se deslumbrou com seus poderes, não se fez forte para humilhar aos que pretendiam prendê-lo. A impotência de Deus era ofensiva. Seu silêncio era um desprezo. Sua paz, um grito contra nossa violência.
Pe. Kentenich dizia: “Um homem que ama, que coloca seu amor no coração de Deus, de certo modo participa da imensa riqueza do amor de Deus. Se existe algo que não empobrece é amar, é presentear o calor do coração”. Cristo é o homem mais pobre na cruz, mas seu amor o faz o mais rico dos homens. Nós estamos chamados a viver essa pobreza e essa riqueza de amor. Estamos chamados a amar estando crucificados, sem afastar-nos da dor que toca nossa vida. O amor que brota da dor é um amor puro e redimido, um amor nobre, uma amor que salva.
Seu reinado leva à paz
Quando Cristo reina nos corações nasce a paz. Uma paz distinta que não nasce da conciliação. Uma paz que não é engano, senão a paz que brota da beleza desse Cristo crucificado. A paz que brota da cruz é uma paz diferente, uma paz que desconcerta. Não é a paz do êxito, nem do trabalho bem feito que recolhe seus fruto. É uma paz inexplicável porque brota das cinzas da morte e da dureza do fracasso. É uma paz que respinga como graça do coração de Cristo aberto na cruz.
Muitas vezes pensamos que teremos a paz quando não tivermos preocupações, ou quando não houver problemas nem dificuldades. Pensamos em uma paz que é calor ou negligência. É o contrário da paz que nos presenteia Cristo crucificado. Sua paz não brota do calor, senão do amor mais radical e incandescente. É a paz que surge quando já não temos nada que defender, quando perdemos todas nossas prisões e escravidões. É a paz dos que confiam nesse Deus que faz surgir a vida da morte.
Texto traduzido parcialmente,disponível em padrecarlospadilla.com