A imagem de Deus anunciada pelo Pe. José Kentenich
Ir. M. Nilza Pereira da Silva – Há menos de um mês, mais precisamente, no dia do Natal, no Ano da Misericórdia, a Obra Internacional de Schoenstatt celebrou um grande jubileu: 50 anos da liberação do Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, dos 14 anos de exílio, imposto pelo Santo Ofício.
Seu carisma antecedeu a renovação da Igreja, pelo Concílio Vaticano II, pois desde 1912 ele anuncia e organiza a sua fundação com o protagonismo laical, uma espiritualidade profundamente mariana e uma atmosfera familiar, na qual a pessoa do Pai tem a missão de corporificar, tanto quanto possível, a imagem de Deus Pai. Esse carisma aplicado por meio de uma pedagogia própria foi provado pelas autoridades eclesiásticas e o Fundador foi condenado a um exílio, nos EUA, que durou 14 anos.
Nos últimos dias do Concílio Vaticano II, ele é liberado e, após uma audiência com o Papa Paulo VI, no Natal de 1965, ele retorna para Schoenstatt, Alemanha, para continuar a dirigir sua Família. Nos últimos três anos de sua vida – faleceu em 15 de setembro de 1968 – anunciou pelas palavras e pela vida a mais importante mensagem que Deus quis dar para a sua fundação, por meio desses anos de sofrimentos: Deus é um Pai misericordioso e nós somos seus filhos miseráveis.
Por isso, a Família Internacional de Schoenstatt vive esse Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco, como um delicado sinal do amor de Deus que atua em nossa história por meio das autoridades eclesiásticas: podemos celebrar 50 anos do mais belo fruto do exílio do Fundador, bem unidos a corrente de graças que jorram em todo o mundo por este Ano da Misericórdia.
O amor de Deus é um amor justo. Isso é e permanece sendo verdade. Mas, em 13 de março de 1966, Pe. Kentenich afirmou que não corresponde inteiramente à realidade; é uma maneira de pensar humana, que não abrange toda a verdade. E afirmou: “Nesse caso, considero apenas metade do conceito de Pai, de Deus Pai. Como é, então, a nova imagem do Pai? Deus é Pai de misericórdia! O amor paternal justo me ama somente quando o mereço. O amor misericordioso me ama quando reconheço singelamente minhas fraquezas e tenho uma grande confiança.” Pe. Kentenich perseguiu sempre o grande objetivo de transmitir a verdadeira imagem do Pai, tal como a expressou nestas palavras. A ideia do amor paternal e misericordioso de Deus era sua grande mensagem.
Na palestra em 18 de outubro de 1966, apresentou-a mais detalhadamente: “A tempestade que hoje brame, impetuosa, sobre os povos é a expressão do amor paternal de Deus. Porque amor paternal? O homem presunçoso, que julga ser o criador do mundo, deve novamente ajoelhar-se. Deve primeiro tornar-se criança diante de Deus; só então o bom Deus poderá derramar sobre esta pobre, pobre sociedade humana a plenitude do seu amor, do seu amor rico em misericórdia.
Escutemos mais uma vez: a essência de Deus é amor, amor misericordioso… O amor paternal misericordioso é um amor imerecido; ou inteiramente imerecido ou não merecido na medida em que é concedido. Amor misericordioso! Se Deus fosse somente amor justo, deveríamos todos estremecer. O grande segredo de nos transformarmos, de communio peccatorum (comunidade de pecadores) em communio sanctorum (comunidade de santos) consiste em não nos cansarmos de recordar ao bom Deus que ele é Pai.
Vejamos a segunda obra prima que ele exige: precisamos reconhecer nossa fraqueza e miséria. Esta confissão e este reconhecimento tornam-se o grande título de direito para atrairmos sobre nós, de forma sumamente profunda, o amor misericordioso do Pai. Também o podemos fundamentar, de modo convincente, de um ponto de vista dogmático. Mas essa realidade só encontrará ressonância em nosso interior se pudermos vivenciar um amor paternal assim em pessoas humanas. Dilexit me! – Ele me ama! – era uma das palavras fundamentais na vida do Apóstolo Paulo. E a consequência deve ser: Ergo diligo te! (Por isso, eu te amo!) Trata-se de fazer resplandecer no horizonte de nossa vida uma nova imagem de Deus.”
É esta a imagem de Deus que o mundo precisa! É esta a imagem de Deus que o Papa Francisco nos anuncia e testemunha. Sejamos a presença desse amor misericordioso de Deus para com as pessoas. Ao reviver os difíceis anos de exílio do Fundador e a mensagem que ele nos ensinou a extrair dessa provação, nosso coração se abre em preces: “Bendirei eternamente as misericórdias do Senhor…”