Servir como Cristo
Pe. Nicolás Schwizer – “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo” (Mt 20, 26-27).
Eis aqui um texto que os inimigos da Igreja lembram e comentam apaixonadamente. Cristo não exaltou nunca ao superior, nem ao sacerdote, nem ao chefe. Para Ele, o que faz ser um discípulo seu, não é a autoridade, nem a ciência, sim o serviço. Rejeitou expressamente como uma tentação de Satanás o domínio e o poder absoluto sobre os povos.
Mas todos nós sentimos a tentação de recorrer a esses meios de governo, porque nos parecem muito mais eficazes para conduzir aos homens que a persuasão, a liberdade e o amor. Alguns discípulos desejavam exercer um apostolado a partir de um trono, e Jesus lhes revelou que o exerceriam a partir da cruz.
A igreja tem que converter os homens por meio da manifestação do espírito de Deus e suas invenções desconcertantes. E esses estão expressos nas bem-aventuranças dos pobres, dos misericordiosos e dos perseguidos. Mas nós nos sentimos espontaneamente mais a vontade submetendo-os por meio de uma organização que lhes dispense de escutar o Espírito e lhes obrigue a obedecer aos chefes.
Cristo é o chefe e mestre por excelência. Para saber como deve ser exercida a autoridade na igreja, é preciso ver apenas como Ele usava seus poderes. Para Ele, seu reino era uma sociedade radicalmente diferente dos estados e das nações. Não se impôs aos homens por necessidade, mas por opção de consciência. Seu convite típico apela à liberdade: “Se queres ser meu discípulo…; se queres ser perfeito…; feliz serás se atuas desta maneira!…” A autoridade cristã tem que proceder pelo convencimento, instruindo, iluminando, persuadindo.
Mas, estes exemplos e estas instruções de Jesus estavam francamente em contradição com as ambições naturais de seus discípulos, que repetiram indefinidamente na história da Igreja. Pouco a pouco a noção de serviço foi mudando, enquanto se concedia especial atenção aos títulos, as pompas e a honras.
Entretanto, o mais extraordinário que há na Igreja é que sua fidelidade ao Evangelho lhe obriga a julgar-se e a reformar-se sem cessar. O Concílio Vaticano II lembra as exigências evangélicas de serviço e as confronta com a noção e o funcionamento da autoridade eclesiástica.
Volta-se a descobrir na atualidade que a autoridade na Igreja não é o poder de impor aos membros as decisões de um chefe, mas, a capacidade de promover uma conversão. Não se trata de ordenar ou de banir, mas de apelar à consciência e a convicção. O chefe não é o que dá ordens, mas o que cria uma atmosfera de fé, de amor e de respeito, uma comunhão de idéias e de aspirações.
Jesus não falou que na igreja haveria o perigo de anarquia, mas denunciou abundantemente o perigo de um poder eclesiástico exercido como o poder civil. Jesus não disse que os chefes tem que governar, mas que comportar-se como escravos e servidores; que o verdadeiro chefe é aquele que mais serve aos demais.
Só um espírito evangélico, só o espírito de Jesus pode inspirar aos responsáveis eclesiásticos a forma de cumprir com esta missão. Do bom exercício da autoridade, assim como do bom emprego da riqueza, é necessário dizer com Jesus: “Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível.” (Mt 19,26)
O único trono, o único poder, a única autoridade que Cristo prometeu a seus discípulos, é amar como Ele, beber seu cálice, dar sua vida por amor aos irmãos.
Perguntas para a reflexão
1. Como exerço a autoridade em minha igreja doméstica?
2. Como é minha relação com os sacerdotes, párocos…?
3. Creio que os chefes devem servir, ou isso é uma utopia pra mim?
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