Schoenstatt: terra da liberdade.
Karen Bueno – “O mais precioso que o homem possui é a liberdade. Com amor sincero e ardente, ofereço essa liberdade para que o bom Deus conceda à Família, por todos os tempos, o espírito da liberdade dos filhos de Deus que anseio com tanto ardor.
Antes de iniciar sua Paixão, Jesus rezou: ‘Ninguém me tira a vida… eu a dou porque quero’.
Eu também faço assim: Ninguém me tira a liberdade. Eu a entrego livremente… entrego-a porque Deus assim o deseja… E meu alimento, minha tarefa predileta é fazer a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua Obra”[1].
Este é o primeiro 20 de janeiro do novo século de Schoenstatt, pela primeira vez relembramos o 2º Marco Histórico da Obra. A data festiva do Movimento Apostólico recorda uma profunda gratidão ao Fundador, Pe. Kentenich, por sua entrega total pela liberdade interior dos filhos de Schoenstatt.
Livre em algemas
Com a grande influencia do Movimento Apostólico de Schoenstatt em toda a Alemanha, Pe. Kentenich é visto como uma ameaça ao Estado durante o governo nazista no país. A personalidade forte, livre e de liderança, assusta os dirigentes do partido nacional-socialista. No dia 20 de setembro de 1941, ele é preso e interrogado pela Gestapo (polícia nazista). Sem nenhuma explicação, decidem enviar o Fundador de Schoenstatt para o campo de concentração, depois de um exame médico que o indicou apto para o trabalho forçado.
O exame era superficial. Pe. Kentenich tinha apenas um pulmão e isso não foi constatado. Com muita luta, a Família de Schoenstatt consegue um médico nazista que aceita fazer uma nova avaliação e provar sua debilidade, com possibilidade de livrá-lo da condenação. Mas, para que o novo exame aconteça, é preciso uma declaração preenchida e assinada pelo prisioneiro, Pe. Kentenich, que deveria ser entregue até às 17 horas, do dia 20 de janeiro de 1942. Pe. José Kentenich não é favorável a essa intervenção humana para sua liberdade. Para ele, o mais importante era saber e realizar a vontade de Deus.
A percepção do desejo de Deus Pai lhe indica que não deve assinar o documento. Pe. Kentenich, então, abre mão de sua liberdade física para conquistar a liberdade interior da Família de Schoenstatt, sendo condenado ao campo de concentração de Dachau/Alemanha. “Foi um passo no escuro, um passo muito sério, sabendo que o campo de concentração significava quase que morte certa”, afirma Pe. Ottomar Schneider.
A liberdade, segundo o Fundador
Pe. Ottomar explica o que é liberdade segundo a ótica do Pe. Kentenich: “A minha natureza tende à liberdade de fazer o que eu quero, o que eu gosto. Nosso Fundador define como verdadeira liberdade fazer o que Deus quer”. E isso não é fácil: “Eu preciso estar sempre me perguntando o que Deus quer de fato. Às vezes, custa entender o que ele nos diz por meio dos acontecimentos. Deus nos fala na linguagem do dia-a-dia, e é essencial ouvi-lo”.
Liberdade é algo tão importante para o Pe. Kentenich que no Hino da Minha Terra – texto escrito no campo de concentração – ele define Schoenstatt como terra da liberdade: “Conhece a terra, igual ao céu, o reino da liberdade, ardentemente almejado […]?” (RC 602).
“O 20 de Janeiro é justamente esse ponto em que eu não tomo as decisões segundo as minhas compreensões puramente humanas, mas busco no interior o que é melhor e o que Deus quer, mesmo que custe grandes sofrimentos, grandes lutas. É sempre dar o passo do natural para o sobrenatural, essa é a chave deste dia”, diz Pe. Ottomar Schneider.
“Liberdade de espírito supõe fidelidade”
Na audiência com a Família de Schoenstatt, reunida no dia 25 de outubro de 2014, o Papa Francisco aconselha: “Liberdade de espírito supõe fidelidade. Supõem oração. E como te ocorre fazer isso? Quando alguém não ora, não tem essa liberdade. Ou seja, quem reza tem liberdade de espírito. É capaz de fazer ‘barbaridades’, no bom sentido da palavra”.
Uma dica valiosa: oração. Pe. Kentenich chegou ao grau de entrega total ao Pai ouvindo sua voz, rezando muito. Por quatro semanas ele ficou preso em uma cela solitária no porão do edifício de um antigo banco. “Os cofres do banco foram usados como celas e, como tais, eram muito escuras e úmidas, com o mínimo de ventilação […] As celas eram tão pequenas (1,5 m²) que as pessoas não podiam ficar totalmente de pé e era-lhes forçoso ficarem de cócoras ou sentadas no solo úmido”[2]. Nessa ocasião o Fundador aproveita os dias para estar mais próximo de Deus, rezar e cantar – cantava todas as músicas religiosas que recordava. A decisão de não assinar o pedido de um novo exame médico foi tomada em seguida de uma santa missa.
Sua prisão no Campo de Concentração foi um tempo de muitas graças para toda a Família de Schoenstatt, que ele continuou a dirigir, mesmo correndo risco de vida. Depois de três anos, em 20 de maio de 1945, Pe. Kentenich retorna para Schoenstatt. Deus aceitou o seu sacrifício e fez florescer toda a sua fundação.
Todo esse esforço do Pe. Kentenich traz graças atuais. Os filhos de Schoenstatt do novo século ainda experimentam as bênçãos do 20 de Janeiro de 1942, de todo empenho do Pe. Kentenich pela liberdade interior da Família. “Cabe a cada um conquistar essa liberdade no dia-a-dia. Tem que subir lentamente os degraus da confiança heroica no Pai, até chegar à plena liberdade”, comenta Pe. Ottomar.
Segundo o Padre de Schoenstatt, com o 20 de Janeiro a “Aliança de Amor foi elevada a um grau maior”. A essa Aliança, à toda história de luta do Pe. Kentenich, a Família de Schoenstatt deve fidelidade. E somente conquistando essa liberdade, tão almejada pelo Fundador, que é possível, como diz o Papa, realizar “barbaridades” no bom sentido da palavra.
Referências
[1] Novena: Livre em Algemas, pág. 5
[2] Novena: Livre em Algemas, pág. 4