Benção do Santuário “Mari Ecclesiae”
Missa de Envio
Castel Gandolfo, 09 de setembro de 2004
Leituras:
Atos dos Apóstolos 2, 14-21
Lucas 5, 1-11
Com alegrian nos reunimos em torno do altar para celebrar a Eucaristia. Queremos renovar a Nova Aliança, no sangue de Cristo com a felicidade de ter compartilhado uma hora de graça com o sucessor de Pedro, a pedra sobre a qual Cristo construiu sua Igreja. Sua palavra fortalece nossa fé. Seu testemunho de vida no seguimento de Cristo, o Bom Pastor, e no amor da Virgem Maria, ilumina e sustenta nosso próprio seguimento. O reconhecimento que tem dado ao nosso Movimento e a outros movimentos eclesiais, ao considerarmos frutos do Espírito e primavera da Igreja, nos chama a cultivar a fidelidade criadora ao carisma recebido, e a colaborar com a Virgem Maria, cheios de esperança, na missão da Igreja quando desponta a aurora dos novos tempos.
Com o coração agradecido louvamos ao Pai do céu, pelo dom da pessoa e o magistério de João Paulo II, e lhe pedimos que o ilumine e o fortaleça em seu ministério. Devemos também agradecer porque celebramos esta Eucaristia na sede do Movimento Focolares, a Obra de Maria. Sua acolhida fraterna neste dia e os laços de unidade que a Providência Divina tem entrelaçado desde a visita de Chiara a Schoenstatt, em junho de 1999, e são motivos de gratidão e de compromisso.
Viemos, com a felicidade de termos recebido, ontem, a benção do Santuário Matri Ecclesiae. A Família Internacional quis expressar ao Pai Fundador seu reconhecimento e filial gratidão pela passagem de seu octagésimo aniversário, em 16 de novembro de 1965, oferecendo-lhe este inestimável dom. Não queria que fosse um santuário a mais. Com a colocação simbólica de sua primeira pedra, no mesmo dia em que se encerrava o Concílio, em 8 de dezembro de 1965. Sua missão estaria entrelaçada com a animação e a edificação da Igreja, segundo o espírito e as orientações pastorais do Concílio Vaticano II. Construído no centro visível da Igreja, seria também um sinal da aliança da Família de Schoenstatt com o Pastor e Pai da Igreja universal e de sua vontade de viver e dedicar-se, aplicando toda a fecundidade do carisma recebido, para que a Igreja seja alma do mundo e de sua cultura. Seguiram-se 39 anos de longa espera e de árduas negociações. Os sacerdotes diocesanos do Instituto, com sua esperançosa e paciente fidelidade ao encargo recebido do Fundador, tornaram possível que esse sonho se tornasse realidade. Junto a eles, muitas pessoas e ramos de nossa Família mantiveram acesa a chama. A todos eles, nossa especial gratidão.
É impossível esquecer as inflamadas palavras do Pai Fundador, aqui em Roma, naquele dia da Imaculada, quando proclamou a grandeza do ato que teria lugar no terreno escolhido para a construção do santuário.
O profeta tinha seus olhos postos na nova imagem da Igreja, que os padres conciliares haviam elaborado para os novos tempos, desprendendo-a de uma visão estática mostrandoa peregrina, fraterna, impulsionada pelo Espírito Santo, e plena de ardor, para transformar o mundo. Tinha seguido atentamente as assembléias do Concílio, desde o silêncio de Milwaukee e tinha constatado que estavam emergindo os traços dessa Igreja cheia de vida, que escuta, com a liberdade de filhos de Deus ao Senhor da história, atenta ä mudança dos tempos, vistos e compreendidos desde a torre do coração de Deus. Esta Igreja, cujos traços ele mesmo quis moldar na Família de Deus que lhe haviam presenteado e confiado. Estava surpreso porque essa Igreja renovada estava começando a receber o carisma de Schoenstatt como um dom de Deus, liberando-o do exílio, e acolhendo ao movimento como uma jovem forca, uma promessa de futuro para todo o Povo de Deus.
Diante de si, nosso Pai e Profeta tinha a visão da Igreja de “depois de amanhã”, tinha o resultado do grande Concílio, e em seu coração agradecia pelas comunidades que haviam surgido em Schoenstatt. Recordando suas jornadas e seus retiros, frutos do discernimento que havia feito dos sinais dos tempos e das correntes que tentavam renovar a Igreja. Recordando a resposta que estes haviam encontrado em quem havia selado sua aliança de amor no santuário, ousava dizer que nada de substancial havia surgido no Concílio, que não tivesse sido assumido por sua Família, como idéia e como experiência vivida, já antes da Assembléia Episcopal, que seria decisiva para a história da Igreja e para o cumprimento de sua missão no mundo. Era doloroso para ele, que alguns membros da Família não a observaram com profundidade e perderam de vista suas verdadeiras dimensões. Quantas vezes nos recomendou mergulharmos na história de Schoenstatt, para redescobri-la e tê-la como bússola para a travessia até os novos tempos.
Para isso, ao término de sua conferência, quis entregar aos presentes uma lembrança do ato que teria lugar mais adiante. A legenda dizia: “Lembrança da colocação simbólica da primeira pedra do santuário da Mãe Três Vezes Admirável, ä sombra de São Pedro, como sinal da incorporação e identificação ao ato final do Concílio Vaticano II, e com a colocação da primeira pedra de uma grande Igreja, que a Mãe Igreja presenteia ä Mãe da Igreja. Roma, festa da Imaculada, 1965”.
Os anos passaram. Passaram-se muitos anos. Junto a Pedro, pensando em nossas Igrejas particulares e em nós mesmos, nos perguntamos: Compartilhamos plenamente com nosso Pai Fundador seu amor pela Igreja e pela Virgem Maria, seu amor pela Família e pelo tempo que Deus nos presenteou com dom e trabalho? Temos conseguido contagiar as dioceses onde vivemos, as iniciativas evangelizadoras em que participamos, as famílias que formamos, as comunidades as quais pertencemos, com a confiança que o Padre Kentenich depositava na forca do amor materno da Virgem como forca capa de gerar Cristo em nossos corações e no nosso tempo? Os pastores e os consagrados depositam sua confiança no poder transformador de Maria, Mãe da Igreja? Crêem que somos capazes de nos educar e a todoo Povo de Deus, para que este seja pobre, humilde e santo, aberto aos dons do Espírito como em Petencostes; e não se apóie nem no poder, nem no dinheiro e nem ao prestígio, e sim, conforme o modelo de Maria, tão somente em sua Rocha, unicamente em Cristo, seu Esposo e Senhor?
Na sua conferência desse memorável 8 de dezembro, nosso Fundador se referia ä Igreja como uma barca e com essa imagem a descrevia sem amarras junto ao cais, aquém do nosso tempo, e sim navegando, navegando mar adentro, em meio às ondas e tempestades capazes de por em perigo, como se pudesse naufragar.
É uma imagem muito querida, que nos recorda o encontro de Jesus com seus primeiros discípulos, quando jogavam suas redes junto ao lago. Haviam passado toda a noite pescando em vão. Sem pensar em seu próprio cansaço, Pedro o acolheu em sua barca. Afastaram-se um pouco da orla. De lá, o mestre ensinava aos que o seguiam. O assombro de Pedro crescia ao escutar a sabedoria de Jesus e ver a aprovação que recebia dos que acolhiam suas palavras. Depois, agradecido, convidou Pedro a remar lago adentro e lançar as redes. Pedro tinha razões para não passar pela porta que o Senhor lhe abria. Quem melhor do que ele conhecia o lago! Sem dúvida, sua confiança no Senhor, aumentara. Aceitou entrar pela porta que Deus lhe abria. Passaria por ela na mão do mestre: “Em seu nome se encherão as redes”.A resposta não se fez esperar. A barca quase afunda pela quantidade de peixes. Mas, não foi só isso. Naquela manhã, a graça de Deus caíra sobre um terreno preparado pelo próprio Cristo. Pedro pediu ajuda a seu irmão André e aos filhos de Zebedeu, seus companheiros pescadores. Cresceu a comunhão entre eles. Simão Pedro reconheceu sinceramente sua condição de pecador. Também acolheu a vocação de ser pescador de homens. Sem titubear, abandonou tudo e seguiu a Jesus… até morrer por ele, como bispo desta Igreja de Roma.
DUC IN ALTUM! Foram as palavras do Santo Padre ao início do terceiro milênio, quando não faltam os que crêem que tenham passado dias e noites lançando as redes sem pescar nada. Repetiu este convite de Cristo, ao término do grande Ano Santo. Havia se encontrado com milhões de peregrinos que passaram pela Porta Santa, depois de haverem contemplado o rosto de Cristo e o poder de sua graça nos corações dos jovens, dos trabalhadores, dos enfermos, dos sacerdotes, numa palavra, de todos os que crêem NELE e se reconhecem eleitos por Ele.
DUC IN ALTUM! Ao início deste milênio de esperança, capaz de ter vida em abundância e de ser muito fecundo. DUC IN ALTUM!, palavra audaz que nos convida a aceitar o convite de Cristo cada vez que estamos ante uma porta aberta pela sabedoria. Deus quer que nosso tempo se encontre profundamente com Cristo e com Maria, como também com seus inumeráveis discípulos e com famílias e comunidades cristãs, donde resplandecem o amor, a paz e a alegria do Evangelho.
O convite para remar mar adentro, tão própria do envio depois do Jubileu, é um convite que convoca a todos os carismas e todos os movimentos da Igreja para desenvolver a abundância de dons que tem recebido do Espírito Santo, e a colaborar fecundamente entre si. Assim, oPapa nos pede que novamente converjam, como naquele 8 de dezembro de 1965, a vida e os dons que Deus tem dado à nossa Família, com as orientações pastorais que o Concílio e ele haviam entregado ä toda a Igreja, de modo que ela lance suas redes nas águas do terceiro milênio e ocorram novas pescas milagrosas.
O Papa nos pede que nossa relação com Deus não se contente com encontros superficiais e passageiros, sem que ultrapassemos as águas do terceiro milênio, contemplando o rosto de Cristo – do Cristo na glória, na Eucaristia e nos irmãos (NMI 20ss). Rememos, então, mar adentro, colocando tudo de nós para acolher a voz de nosso Fundador que nos propõe viver acolhidos pelo amor e pela presença de Deus em Jesus Cristo, adorando sua determinação, assumindo sua cruz, encontrando-nos com Ele em todas as circunstâncias de nossa vida e deixando-nos guiar pela sua Providência com heróico espírito filial.
O Pai e Fundador nos pedia que nos novos tempos cultivássemos entre nós uma atitude profundamente fraterna, e que os bispos e sacerdotes sejam ao mesmo tempo padres e irmãos, que convoquem à co-responsabilidade.
DUC IN ALTUM! Que este sonho do Concílio marque nossa participação familiar em Schoenstatt e na Igreja. Rezemos e trabalhemos para responder desta forma ao grande desafio que o Papa assinalou no início do novo milênio. Aliados a São Vicente Palloti construamos a Igreja com todas as forcas apostólicas como casa e escola de comunhão, como o Povo da Nova Aliança (NMI 43ss).
Que bela maneira de animar-nos para que vivamos em todas as dimensões de ser uno no coração do Pai.
Pensando na vocação dos batizados e nos novos tempos, o Santo Padre tem exortado a Igreja inteira a não se contentar com uma vida medíocre, e sim a colocar todas as programações pastorais sob o sinal da santidade (NMI 31) Assim, nos convida a amar até o extremo, a gerar na Igreja nova geração de santos. Família de Schoenstatt, vamos remar mar adentro. Não te contentes em avaliar teus ideais pessoais, de estudo e família somente pelo seu valor pedagógico. Nossos ideais são os projetos de santidade pessoal e comunitária que foram gerados no coração de Deus, são promessas da santidade de Deus, assim somos dóceis à ação de Maria desde seus santuários, desta que no precedeu nos caminhos da Providencia e é nossa mãe e educadora.
O Pai Fundador nos pedia para passar pelo mundo como a Virgem Maria, preparandoo para Cristo, e assemelhando-nos a ela em seu amor e fidelidade a todos seus filhos e em sua preocupação pelos mais fracos e aflitos, pelos que não tem mais vinho de esperança. Nos propunha que percorrêssemos o mundo, repartindo amor e alegria.
Também aqui o Papa nos pede que aceleremos o ritmo de nossa travessia: DUC IN ALTUM! Remem mar adentro! Lancem as redes da aliança de amor, sendo solidários com todos os que queiram descobrir nos olhos, no coração e nas mãos do próximo esse amor ativo e concretoa cada ser humano que percebe na Virgem Maria, reflexo e prolongamento da misericórdia, a imaginação e amor forte e solidário de Cristo (NMI 49s).
Assim será cada um de nós, no meio do mundo – em nossas famílias e nos lugares de trabalho e estudo – uma prova viva e fascinante do Evangelho. Assim estaremos configurando as novas culturas como espaços espirituais abertos ao amor, ä solidariedade, ä confiança e ä vida, como culturas de aliança.
Em virtude deste legado espiritual, nosso Santuário Matri Ecclesiae, desde que o Pai e Fundador benzeu sua primeira pedra, ao término do Concílio, passou a ter um caráter simbólico de grande relevância. Convergem os dois grandes amores do Pai e Fundador e de nossa Família: DILEXIT MARIAM e DILEXIT ECCLESIAM. Convergem como um dom, uma missão e uma promessa. Como uma incumbência de Deus e uma promessa a toda Família e a cada um de nós.
A alma do Concilio respira nestes dois amores. Tomam forma neles a fidelidade da Igreja ao Espírito Santo que inspirou o Concílio, e o desejo da Igreja de renovar-se como Esposa fiel do Senhor, contemplando e imitando sua mãe e modelo, a Virgem Maria, companheira e colaboradora permanente e oficial de Cristo na obra da redenção.
Porém, nosso santuário tem que ser muito mais que um símbolo. Como poderia atuar a Santíssima Virgem muito próximo do sucessor de Pedro, impulsionando a renovação da Igreja, se não contar com instrumentos? Assim propôs o Pai Fundador em sua conferência de 8 de dezembro, pensando em Roma. Perguntava: “Qual o significado do nosso pequeno santuário nas cercanias e à sombra da Basílica de São Pedro? Queremos colaborar depois de Roma e em Roma a realizar, também a partir daqui, a missão pós-conciliar da Igreja”.
Assim, nosso santuário será sempre um convite a viver o COR UNUM IN PATRE, com a amplitude do coração de Paulo, que abraçava o mundo inteiro. E assim como se fundem nesta divisa, o amor ao Deus Pai com o amor ao Pai Fundador, a partir do quarto marco de nossa história, expressa também quão fecunda é a confluência da corrente de vida que flui da aliança de amor de toda a Igreja, com quem é seu Pai e Pastor universal. Do nosso amor ao Pai, surge o amor ao Santo Padre: à sua pessoa e missão. Também estas dimensões de nossa aliança são um dom e uma tarefa, especialmente no início do terceiro milênio.
Finalizamos esta meditação, conscientes de termos sido enviados e animados pelo Santo Padre a remar mar adentro, tornando fecundo o tesouro que temos recebido. Amemos a Igreja como o Padre a amou. Amemo-la , onde quer que estejamos, seja o seu rosto atraente e missionário, ou triste. Amemo-la como Igreja santa, santuário vivo de Deus, e como Igreja peregrina;como Igreja sábia e como Esposa de Cristo, que necessita da graça e da verdade de seu Senhor. Amemo-la com nosso Pa,i como Igreja simples e pobre, mas rica em dons e carismas do Espírito que renova todas as coisas. Amemo-la hoje, no início do terceiro milênio, como Família de Deus que convoca a cada um dos seus filhos e filhas a serem portadores de sua missão neste tempo desafiante, que clama por discípulos de Cristo, santos e audazes como a Virgem Maria. Rememos mar adentro como nosso Fundador: com Maria Santíssima, alegres pela esperança e seguros da vitória. Amém.