Que todo pai esteja presente na Noite de Natal
Este Natal até hoje é inesquecível com todos os seus pormenores fatos. Mesmo que já se passaram várias décadas, esta festa permanecerá sempre inesquecível.
– “Mãe, por que nosso pai não está conosco?” pergunta minha irmãzinha caçula.
-“Sabe, Guita, é porque o pai é tão aplicado que os donos para os quais ele trabalha ainda não o deixaram voltar “Minha mãe tinha dado esta resposta, mais de cem vezes para minha irmãzinha.
Sempre deu esta ou outra resposta semelhante para esta incansável pergunta:
– “Mas o pai pertence a nós. Eles não devem simplesmente segurá-lo para eles”, responde a questionadora.
-“Sim, eles não devem fazer isso, não é mesmo, Guita? É melhor dizermos isto mais uma vez ao Menino Jesus, para dar um jeito nisso.”
“ Sim, mãe! Mãe, a senhora não quer escrever novamente minha carta de desejos ao Menino Jesus?”
– “Você não quer tentar fazer isto sozinha? eu acho que neste ano poderia escrever esta carta pela primeira vez sozinha!”
Guita sacode decididamente a cabeça e diz: – “Para o Menino Jesus se deve escrever muito bem, a carta não pode ter erros”.
– “Bem, Ane também poderia fazer isto.” Disse minha mãe, lançando um olhar para mim.
-“Não é melhor que a senhora mesma escreva?” Disse Guita e puxou a cabeça da mãe para perto de si, dizendo baixinho ao seu ouvido: – “Este ano só tenho um único desejo. E porque é só um, único, o Menino Jesus não pode fazer outra coisa do que….”
Em outros anos, Guita também tinha este mesmo desejo, mas era seguido de uma longa fila de outros desejos. Porém, desta vez, estava escrito somente isso na Cartinha do Menino Jesus:
“Querido Menino Jesus, somente este desejo, por favor, por um grande favor: Manda-nos o pai de volta neste Natal.”
Nós vimos que a mão da mãe estava um pouco trêmula, quando terminou de escrever. Como pode uma criança tão pequena renunciar a tudo e só ter somente tal pedido ao Menino Jesus?
Não sei se foi pela impressão que me causou a carta ou porque eu também tinha este grande desejo, aconteceu que neste tempo de Advento lembrei-me ainda mais de meu pai do que antes. E também me esforcei para recordá-lo bem vivamente, assim como estava em minhas lembranças, como ele vive em meu coração e como o imagino.
Meu pai era bem grande. Eu ainda lembrava muito bem. Ele tinha olhos alegres e ao mesmo tempo tão profundos. Olhos radiosos, brilhantes e felizes. Estes olhos sempre brilhavam de modo especial, quando com sua voz calorosa dizia: “Minha Ane!” E passava a mão sobre o meu cabelo.
Mas, no último ano da guerra, ele ainda foi chamado para servir. Depois, voltou mais duas vezes para casa, e pela última vez foi no Natal de 1944. Na despedida, ele repetiu mais uma vez: “Minha querida Ane!” Tomou minhas pequenas mãos em suas mãos grandes e fortes com firmeza e amor. E depois, ele se inclinou profundamente, porque eu ainda era muito pequena e me abraçou com amor. Isto aconteceu na estação ferroviária, perto do trem. Antes de sair de casa ele tinha permanecido longamente em silêncio junto ao berço da pequena Guita, que naquele tempo ainda nem sabia falar seu nome.
Entretanto, já passou tanto tempo! E agora o Natal estava chegando. Numa das noites de Advento, eu sonhei que o pai tinha chegado em casa e quando entrou na porta, ele era maior do que antigamente. E de novo se inclinou… Interessante, porque ele tinha que se inclinar, se eu agora já estou crescida. E ele disse de novo: “Minha querida Ane”. Quando acordei imaginei como seria se ele realmente voltasse para casa. Então, fiquei triste, pois, me dei conta de que agora já estou com 12 anos e bem maior.
Nove dias antes do Natal, a mãe, de repente, foi chamada ao telefone e eu olhava para ela com muita atenção e interesse. “O que é mãe?” – “A tia Elsa quer vir visitar-nos e eu vou viajar para Munique.” Mas, pensei, por que será que a mãe tem um brilho tão grande nos seus olhos? E quando voltou do telefone, ela estava ainda mais alegre.
Um dia antes do Natal, ela perguntou: “O que vocês diriam, se o Menino Jesus realmente cumprir seu desejo de Natal?” Eu gritei: “Oh, mãe!!!!” E não consegui falar mas nada. Mas, Guita disse com maravilhosa segurança: “Mãe, eu sei. É porque eu só escrevi um único pedido, por isso Ele vai me atender!”
E assim chegou a Noite Santa. Eu fiquei um pouco acanhada e ao mesmo tempo nervosa e alegre, quando tocou o pequeno sino e a mãe abriu a porta da sala cantando. “Ó vinde crianças, ó vinde cantar…” Mas, sua voz estava trêmula e ela não conseguiu continuar o canto.
Realmente ao lado da árvore de Natal estava o papai. Guita logo pulou nos seus braços e gritou: “Papai, papai, papai!” Ela sabia, era ele mesmo. E logo chegou a minha vez. Eu estava em sua frente, com o rosto vermelho e cheio de alegria, mas interiormente tinha receio. De repente, escutei a voz inesquecível ardorosa e o som carinhoso: “Minha Ane!” E ele se inclinou como naquela vez, abraçou-me e contemplou sua pequena filha.
Depois, me conscientizei do porque ele me parecia maior do que antes, e eu também me sentia maior do que na verdade era. Eram as marcas provocadas pelos sofrimentos, de ambos lados, mas, nos seus olhos havia ainda maior bondade, amor e luz…
Agora é Natal! Agora sim, somos felizes, porque ele, o pai, está no meio de nós!
(Traduzida do alemão – Anne H. – Fonte: Secretariado Pe. Kentenich)