“Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum” (At 2, 44)
Pe. Vendemir Meister – Bonito escutar a primeira leitura da liturgia deste domingo, onde vemos a alegria daquelas primeiras pessoas que acreditaram na ressurreição. Como houve uma mudança na vida dessas pessoas que descobriram o Salvador e começaram a alimentar o sentido de suas vidas também com a fé?! Houve uma mudança de atitude na vida delas. Imperava a alegria, o gosto de escutar algo de Deus, lembrar algo dos acontecimentos que tinham ocorrido com aquela pessoa que marcou suas vidas. Essa alegria levou-os a partilhar as vidas, não somente elas, mas também os seus bens. O vínculo que crescia entre eles levou a aproximar suas vidas, suas histórias, seus contos. Isso nos quer relatar os escritos. Algo que aconteceu e transformou a vida deles.
Creio que esse acontecimento é um chamado para as nossas comunidades. Talvez, antes delas, para cada um de nós. Somos nós que escutamos a Boa Nova. Ela tem que fazer acontecer em minha vida. Quantas vezes pegamos livros de autoajuda, os lemos e, por fim, queremos que nossas vidas se transformem? Leio porque quero uma vida nova, uma vida diferente, uma vida que faça a DIFERENÇA de ser vivida. Mas, na maioria das vezes, não quero fazer esforço algum para essa mudança. Que gostoso foi a leitura… Mas agora, tomar uma atitude diante de minha vida diária, é mais difícil. Lembremos um ditado do filósofo Sócrates: “Uma vida sem sacrifício não é digna de ser vivida”. Temos medo do sacrifício. Coisas boas que, às vezes, eu faço e gosto de fazer, é sacrifício para outro. Então, vale a pena se sacrificar por aquelas coisas que eu gosto de fazer, pois elas dão sentido a minha vida. E gostar de fazer; tudo se aprende. O gosto se aprende.
Temos que aprender com a primeira comunidade a formar comunidade. Às vezes, queremos viver nossa fé escondida entre quatro paredes, temos medo de partilhar, de criar vínculos. O bonito das primeiras comunidades era esse vínculo que se produzia por meio da fé, eles chegavam até a partilhar seus bens. O que se produzia a partir dos ensinamentos atraía a outros que também queriam participar das coisas lindas que viam. Por isso, buscavam o batismo. Queriam participar da vitalidade daquele grupo.
Quanta vitalidade nos falta! Primeiro em cada um de nós; depois, nas nossas comunidades. Comunidades que não são interessantes. Que não são atrativas. Que não são participativas. Que não abrem espaço para os novos. Que não têm a capacidade de partilhar, de envolver e envolver-se. A vida é bela quando se participa. Não devo ficar esperando pelos outros. Começa por mim.
Recordando um clássico
No filme “A Bela e a Fera”, o enredo acontece em uma pequena aldeia da França, onde vive Bela, uma jovem inteligente, mas considerada estranha pelos moradores da localidade. Ela mora também com o pai, Maurice, um inventor tido como louco pela comunidade. Bela é cortejada por Gaston, que deseja se casar com a moça, mas, apesar de todas as jovens do lugarejo se encantarem pelo rapaz, a protagonista não o suporta, pois vê nele uma pessoa primitiva.
Quando o pai de Bela parte em viagem, ele se perde na floresta e é atacado por lobos. Desesperado, Maurice procura abrigo em um castelo, onde acaba se tornando prisioneiro da Fera, o senhor do castelo. A ‘Fera’ é, na verdade, um príncipe amaldiçoado que se tornou um monstro e o feitiço lançado sobre ele só poderá ser quebrado se o príncipe amar verdadeiramente a alguém, recebendo também o amor dessa pessoa em troca.
Quando Bela sente que algo aconteceu ao seu pai, vai à procura dele. Ela chega ao castelo e lá faz um acordo com a Fera: se seu pai fosse libertado, seria sua prisioneira para sempre. A Fera concorda e todos os “moradores” do castelo – os funcionários que foram transformados em objetos falantes – sentem que essa pode ser a chance do feitiço ser quebrado. Mas isso só acontecerá se a Fera e se Bela se amarem mutuamente. Para dificultar o contexto, há um prazo a ser cumprido. Recordando o final da clássica história, a Fera, alguém que não suporta demonstrações de carinho e de amor, é tocada pela amabilidade e ternura de Bela, pois se deixa amar e ser transformado pela jovem.
A alegria da partilha
Esse filme nos mostra, no enredo, que uma pessoa pode portar uma grande mudança quando está convencida da alegria da partilha. Nos cativa a levar nossa força interior, que o Espírito Santo alimenta em cada um de nós, para a patilha em comum. Melhor ainda quando essa partilha acontece num ambiente de fé. Assim, entendo o que comenta uma parte da segunda leitura da liturgia de hoje: “É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo”.
Bonito é ter, na partilha da fé, a experiência do Cristo Ressuscitado, como tiveram os apóstolos depois de passados alguns dias da morte e ressurreição de Jesus. Recebem a paz do Senhor, o ‘Shalom’. Tem um sentido muito mais profundo do que comumente atribuímos à palavra “paz”. Aquele que diz ‘Shalom’, deseja não somente uma paz interior, mas também uma paz exterior entre os homens; deseja a possibilidade de riqueza também material. Que você seja feliz também com aquelas coisas que você possui.
O Salvador Ressuscitado deseja tudo isso aos seus. Ele quer o bem daqueles que o amam. Ele sopra a força do Espírito, ele dá a plenitude de vida, mas não elimina as dificuldades. Temos que tirar de nosso conceito a ideia de que a plenitude de vida está isenta de desafios. A vida sempre terá seus desafios, pois, seguir construindo o Reino do Ressuscitado aqui entre nós requer desafios, mas nem por isso não terei uma vida em abundância no Senhor.
Uma certeza é viva: Ele ressuscitou!
Muitas vezes vou encontrar também aqueles que não acreditam. Aqueles que, mesmo vendo um tijolo, questionam se realmente é um tijolo. Não vamos nos entediar com esses. Vamos dar nosso testemunho de alegria. De alegria que o Senhor fez a diferença em minha vida. O restante cabe deixar que o Espírito do Senhor atue. Cada um tem seu tempo com o Senhor. Tomé também teve o seu.
A única de quem não pairou dúvida alguma foi Maria, a Mãe de Jesus. Seu coração exultava mais que de qualquer outro sobre a presença do Ressuscitado entre eles. Ela via como Deus conduzia os acontecimentos com ternura. Como ele dava novamente a conhecer seu Filho, mas agora como Ressuscitado.
Peçamos, por intercessão da Virgem Maria, que o Senhor nos presenteie com uma Fé Mariana, onde não paira dúvida alguma sobre a Ressurreição do Senhor; só assim poderemos viver essa grande alegria que é a festa da nossa Salvação e do infinito amor e misericórdia do Pai.