A participação humana no plano da redenção
Karen Bueno / Ir. M. Nilza P. da Silva – O dicionário Aurélio define a palavra ‘capital’ como aquilo que é o principal, o essencial. Define também como o lugar principal para onde se convergem as coisas importantes do qual estas divergem. E define ainda como bem capaz de produzir renda. Tudo isso ajuda a entender o que o Pe. Kentenich define como Capital de Graças, no sentido schoenstattiano da palavra. Ele usa essa expressão, mas lhe dá um novo significado, tornando um conceito, que é humano, em algo divino.
O capital é comparado, em Schoenstatt, com um centro para onde converge todo mérito pelo esforço da autoeducação e da oferta de sacrifícios e alegrias a Deus, pelas mãos da Mãe e Rainha. Unido aos sacrifícios de Cristo, essas ofertas se tornam graças que jorram abundantemente do Santuário. Isto é, ofertas ao capital de graças são presentes de amor entregues à Nossa Senhora, a fim de que Ela os distribua àqueles que necessitam. Capital de Graças é o nome dado a esse processo de contribuir para que, por meio do Santuário, as graças da redenção continuem atuantes na atualidade.
Trata-se da entrega dos méritos de minhas boas obras nas mãos de Maria, para que, pelo Santuário, ela os entregue àqueles que mais precisam. “O mérito pertence, em primeiro lugar, à graça de Deus; em segundo lugar, à cooperação do homem,” assim lemos no Catecismo da Igreja Católica:
“Os méritos das nossas boas obras são dons da bondade divina, A graça precedeu; agora restitui-se o que é devido. Os méritos são dons de Deus. Uma vez que, na ordem da graça, a iniciativa pertence a Deus, ninguém pode merecer a graça primeira, que está na origem da conversão, do perdão e da justificação. Sob a moção do Espírito Santo e da caridade, podemos, depois, merecer para nós mesmos e para outros, as graças úteis para a santificação e para o aumento da graça e da caridade, bem como para a obtenção da vida eterna.”
Dádiva de Cristo
Segundo o livro Introdução em Schoenstatt (p.33), a graça é algo que está acima da natureza humana. Somente Cristo pode merecer graça, e isso Ele o fez na cruz. Por todo sofrimento que passou em sua Paixão e morte, e também pela ressurreição, Jesus conquistou uma infinidade de graças para toda humanidade, um tesouro que representa a salvação dos povos. Esse tesouro no céu Ele confiou à Igreja, para que ela o distribua na terra por meio dos sacramentos.
Contudo, a cooperação humana é necessária para que essas graças fluam e encontrem acesso em todos os corações humanos. Em Schoenstatt, os dons imperfeitos de cada um são oferecidos a Maria e, somados aos seus dons perfeitos, Ela os oferece a Deus, gerando uma fonte de graças a jorrar do Santuário.
Nada sem vós, nada sem nós!
O lema da Obra de Schoenstatt, “Nada sem nós, nada sem nós”, indica para essa realidade. Desde 18 de outubro de 1914, esta é a condição que Deus inspira ao Pe. Kentenich para que a antiga Capelinha de São Miguel se tornasse Santuário da Mãe e Rainha. As contribuições ao Capital de Graças fazem parte inseparável da Aliança de Amor e sem elas não há o processo de atuação da Mãe de Deus nesse lugar.
Para que ela aceite o convite e faça dessa Capelinha um Santuário de graças, lugar especial de sua atuação como Educadora, Deus inspira ao Pe. Kentenich o que remete ao ocorrido nas Bodas de Caná (João 2, 1-11). Ali, Jesus realiza o seu primeiro milagre, mediante a súplica de sua Mãe e a colaboração humana. Ela pede que os servos cumpram o que diz o Mestre e, a pedido dele, os servos enchem a talha de água. Jesus não precisa da água na talha. Ele é Deus e pode fazer tudo do nada. Mas, Deus que que os serventes contribuam com ele e lhes pede que façam a sua parte, colocando água nas talhas. Quando eles o fazem, então, acontece o milagre da graça, para que a festa do amor não termine. Assim, em Schoenstatt, a Mãe de Deus suscita nos corações o desejo de colocar em prática, desde as pequenas coisas, os ensinamentos de Jesus. Aqueles que selam a Aliança de Amor, a convidam a distribuir graças do Santuário, se comprometem a “encher as talhas” para que Jesus faça acontecer o milagre.
No Santuário, a Trindade Santa é quem presenteia as graças
Como em Caná, o milagre depende, em última análise, da ação de Cristo. Mas, ele coloca como condição para isso a mediação de sua Mãe e a contribuição humana. Esse processo de atuação divina em aliança com a atuação humana continua a acontecer há mais de cem anos, no Santuário da Mãe e Rainha: Deus realiza milagres da graça a partir dali, quando a Mãe intercede e os servos (nós, os contraentes da Aliança de Amor) levamos nossas contribuições de amor. Então, a Mãe apresenta a Cristo as nossas contribuições e, unidas ao seu Sacrifício, nossas ofertas retornam em forma de graças, distribuídas abundantemente nos Santuários de Schoenstatt. Como diz Santo Agostinho: “Deus que nos criou sem nós, não quer nos salvar sem a nossa colaboração.”
Minha participação humana no plano da redenção
Voltando a fazer uma analogia com a definição do capital como um bem, quando alguém tem um determinado valor e quer investi-lo melhor, leva esse valor a um banco, para que seja aplicado e se tornem um bem maior. Assim se faz com as ofertas ao Capital de Graças, elas são depositadas “no banco da Mãe de Deus”. Esse “banco” é o sacrifício de Cristo, com seu méritos infinitos. A Mãe de Deus recebe as minhas entregas e apresenta a Ele, como os servos apresentaram a água na talha. Mas, como é esse ‘capital espiritual’? Aqui não se fala em algo concreto, mas em pequenos sacrifícios de amor que se oferece à Maria. Trata-se da prática das pequenas virtudes e do empenho na auto educação, meu esforço para viver bem o meu batismo.
Alguns pequenos exemplos práticos de oferta ao Capital de Graças:
– Há muitos anos tenho o vício de fumar cigarros, então, por amor à Mãe e para minha autoeducação, para melhorar a saúde, vou largando do vício pouco a pouco. (Esforço de autodomínio)
– Sempre quando combino alguma atividade, chego atrasado, logo, vou oferecer o sacrifício da pontualidade, me esforçando para cumprir o horário. (Respeito ao tempo do próximo e virtude da pontualidade)
– Tenho preguiça de rezar, então me proponho a reservar determinado tempo para isso por dia, e vou aumentando conforme o tempo. (Andar na presença de Deus, segundo pede Jesus)
– Não me dou bem com determinada pessoa, mesmo assim tento ser educado com ela e não fazer comentários maldosos a seu respeito com as outras pessoas. (Amor ao próximo, como Jesus me ama)
Santidade no dia a dia
O dia a dia é repleto de oportunidades, grandes e pequenas, para praticar os ensinamentos de Jesus. Os sacrifícios involuntários também podem ser oferecidos à MTA, como, por exemplo, as dores de uma enfermidade ou a perda de um ente querido. O esforço em ser uma pessoa melhor nessas circunstâncias, não reclamando, sendo um refúgio para outros, é acolhido com bom grado pela Mãe Três Vezes Admirável.
O livro Mensagem da Aliança de Amor (p. 46) define Capital de Graças por “todos os méritos que ganhamos pela oração e sacrifícios, pelo esforço na santificação pessoal, colocados nas mãos da Mãe e Rainha de Schoenstatt”. E ainda “uma enérgica autoeducação colocada a serviço do apostolado, no sentido das palavras de Jesus em sua oração sacerdotal: ‘eu me santifico por eles’ (Pe. Kentenich)”. Mas, posso oferecer também a minha alegria, o sucesso obtido e tudo o que faz parte de minha vida.
Uma riqueza para muitos
Quando se coloca uma oferta como Capital de Graças, não se sabe onde nem a quem esta graça será presenteada, essa é a grande caracterização do amor desinteressado proposto pela pedagogia de Schoenstatt. Todos podem desfrutar das graças da Mãe de Deus. Mas, também é possível oferecer sacrifícios em nome de determinada pessoa ou circunstâncias, por exemplo: quero que meu filho melhore de algum problema de saúde, então me prontifico a oferecer algum sacrifício em seu favor; está chegando a data do casamento de alguma pessoa querida, por isso me disponho a oferecer Capital de Graças, para que ali surja uma santa família. Isso não significa e não pode ser um “negociar” com Deus. Não se trata de um “toma lá, dá cá”. Mas, pensemos: Se estou pedindo confiante por essa intenção, a Mãe de Deus vai interceder e Deus vai me conceder (se não como pedi, de outro modo melhor), pelos méritos que alguém depositou no Capital de Graças. Logo, em confiança e gratidão, eu também ofereço algo, para que quando outra pessoa pedir, a Mãe tenha esses meus méritos para oferecer.
É que rezamos no credo: Creio na Comunhão dos Santos. Lemos no Catecismo da Igreja Católica, 947:
“Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros […]. E assim, deve-se acreditar que existe uma comunhão de bens na Igreja.”
No ‘banco da Mãe de Deus’ todos podem ‘depositar’ e ‘sacar’. Sempre que alguém precisa de uma graça, é dali que Maria retira suas dádivas. Por isso é importante que “não haja desequilíbrio entre contribuições ao Capital de Graças e os presentes que Maria oferece”. Deus sempre presenteia de graça, o dom é gratuito e tudo vem do amor dele para conosco. Mas, como dissemos, ele quer nossa participação. Então, embora saibamos que ele não precisa, por amor filial, oferecemos sempre mais presentes à Nossa Senhora, especialmente o empenho pela autoeducação. Naturalmente, que cada graça tem um valor muito acima do que qualquer contribuição. Mas, é preciso cuidar que a talha esteja sempre repleta de água, para que não cesse o milagre da transformação.
Pe. José Kentenich ensina a olhar as coisas com profundidade, a compreender que a vida cria vínculos. Como indivíduo, cada ser humano é responsável pelo próximo. Deus criou as pessoas como seres comunitários, que necessitam umas das outras e podem ajudar-se mutuamente. Aí está o aspecto missionário do Capital de Graças – pela entrega desinteressada, servir ao próximo por meio dos sacrifícios pessoais.
Capital de Graças: fundamento de nossa espiritualidade
Sem as ofertas ao Capital de Graças, Schoenstatt não existe, não há Santuários, a Aliança de Amor se rompe. Essa é uma realidade que está inscrita desde a fundação da Obra, faz parte do ‘contrato de amor’ que os jovens e o Fundador estabelecem com Nossa Senhora.
A fundação do Movimento Apostólico de Schoenstatt é marcada por um compromisso mútuo de responsabilidade. Ao contrário do que aconteceu em Fátima, Aparecida, Lourdes ou em outros lugares santos, Nossa Senhora não apareceu em Schoenstatt. Sua presença nos Santuários, como Mãe Três Vezes Admirável, é resultado da Aliança de Amor, do convite que o Fundador e os jovens fizeram à Maria para que viesse morar na capelinha e de lá distribuísse dons e graças para muitos. De sua parte, aqueles que a convidaram garantiriam o esforço em viver a santificação na vida diária, oferecendo muitas contribuições ao Capital de Graças.
Maria, a Mãe e Rainha de Schoenstatt, está no Santuário. Sua presença é real e quase palpável. Ela, de fato, aceitou o convite dos congregados e tornou vivo o ‘contrato de amor’ que propuseram. Para que ela permaneça ali, acolhendo os filhos, e também para que continue a realizar milagres na vida das milhares de pessoas que visita, por meio de sua imagem peregrina, é necessária nossa fidelidade à Aliança de Amor, que requer cumprir as exigências da Aliança, entre elas, muitas ofertas ao Capital de Graças.
Dar tudo pela causa
O Movimento Apostólico de Schoenstatt frutificou e gerou vida somente pelas incontáveis contribuições ao Capital de Graças que os primeiros congregados ofereceram. Nos campos de batalha da primeira e da segunda guerra mundial, se auto educaram, se sacrificaram por amor e muitos deram a própria vida. Hoje, no segundo século, cada schoenstattiano é convidado a também oferecer contribuições ao Capital de Graças, a dar a vida por uma grande causa.
A Mãe e Rainha é fiel à Aliança de Amor, ela cumpre o seu papel de Educadora diariamente, e espera que cada um que selou a Aliança também lhe seja fiel. O segundo século de Schoenstatt, a continuação desta história de Aliança, depende do quanto cada um está disposto a oferecer. Os primeiros sacrificaram a vida no campo de batalha. Hoje, a guerra é e diferente, os desafios são outros, mas as ofertas podem ser tão grandiosas como a dos primeiros heróis. Quais serão os novos heróis desta geração?
Você já colocou hoje a sua parte de água na talha?
Bom dia. É bom sabermos nós que somos do movimento THMR para orientar os outros irmãos de outros grupos motivando a efetuarem o rito. Belém, PA- Coordenador da Paróquia Sta. Teresinha do Menino Jesus no Bairro do Tenoné