“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 3-12).
Pe. Nicolás Schwizer – As bem-aventuranças de Jesus nos apresentam o programa do Reino de Deus. São como as condições para a entrada nesse Reino novo, que Cristo inaugura já na terra. Principalmente a primeira, a da pobreza, é muito decisiva para ser um cristão autêntico.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.
Não há entrada para nós no Reino de Deus, se não somos pobres em espírito. Porque a pobreza é a primeira condição para ser acessível, permeável a Deus. Ela é o ponto de partida da vida cristã. Se não somos pobres espiritualmente, não estamos na fé.
Sabemos que a pobreza da alma não é uma questão de dinheiro, mas uma questão do coração. O fato de não possuir dinheiro, não é por si só uma virtude. Pode não se possuir nem um centavo, mas ter a atitude do rico. Pode-se também – se bem que raramente – possuir muitos bens e ter a atitude do pobre.
A pobreza evangélica é uma atitude espiritual e todos nós somos convidados a ela prescindindo de nossos bolsos.
Qual é, então, a atitude de pobreza espiritual?
O pobre está disposto a se deixar colocar em dúvida, se deixar questionar por Deus, sempre de novo. Ele aceita deixar-se arremessar de suas posições, de suas estruturas, de seus princípios, de tudo o que lhe é próprio. Felizes os que estão convencidos de que ninguém é dono de si mesmo e que Deus pode pedir tudo.
Só o pobre sai de si mesmo, se põe a caminho. É o que não se resigna a estar tranquilo, o que aceita ser incomodado pela palavra de Deus. Por isso, Abraão foi o primeiro pobre, o primeiro fiel à voz de Deus, quando Deus lhe disse: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar”. (Gên 12, 1)
Abraão escutou a Palavra de Deus, creu nela, abandonou seu país, o lugar cômodo onde vivia, deixou seus bens, seus hábitos, seu passado e se pôs a caminho. E partiu, “não sabendo para onde ia” (Hb 11, 8) – “sinal infalível de que estava no bom caminho”, como indica São Gregório de Nicéia, um dos Padres da Igreja.
O pobre percebe que depende totalmente de Deus. Sabe de sua limitação humana. No fundo, cada homem, talvez sem sabê-lo, é um pobre.
E a pobreza material é bem-aventurada porque é o sinal visível de uma pobreza muito mais profunda e universal: nossa pobreza moral, nossa fé miserável, nosso amor raquítico. Todos nós somos pobres diante de Deus, com nossa culpa, nossa miséria, nossa deficiência, mas nem todos nós reconhecemos isso diante dele.
Só aquele que conhece e reconhece sua debilidade e pequenez diante de Deus, coloca toda sua confiança nele, espera tudo dele, busca sua proteção poderosa, nessa atitude de pobreza espiritual, se esvazia de si mesmo. E porque está aberto e disponível para Deus, há lugar para a ação divina. É o que nos promete o profeta Sofonias na primeira leitura: “E deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres. E no nome do Senhor porá sua esperança o resto de Israel”.
E quando imaginamos que já não temos necessidade de Deus, quando estamos satisfeitos com nós mesmos, com nossos conhecimentos, com nossas práticas religiosas, que não desejamos nada mais, quando não esperamos já nada de Deus – então somos ricos. Creio que não há pecado maior que o de não esperar nada de Deus. Porque se não esperamos nada de Deus, é que já não cremos Nele, é que já não o amamos.
Perguntas para a reflexão:
1. O que espero de Deus?
2. O que entendo por pobreza espiritual?
3. Considero-me um bem-aventurado?
Se desejar escrever, comentar o texto ou dar seu testemunho escreva para: pn.reflexiones@gmail.com