Lançamento do filme sobre o Pe. José Kentenich: “Einer muss vorgehen”, lançado no Brasil com o título “Alguém deve ir à frente”
Trad. Ir. M.Isabel Machado – Ir. Francine-Marie Cooper estuda design de comunicação, na Universidade de Ciências Aplicadas de Aachen/Alemanha, e fez um filme para o 50º aniversário da morte do Pe. José Kentenich.
O título de seu filme é “Alguém deve ir à frente”. O que a senhora quis dizer com isso?
Ir. Francine-Marie: Numa vida tão profunda e repleta, como a do Pe. Kentenich, não é fácil escolher um único aspecto. No pensamento de “Pioneiro” – que, aliás, o próprio Pe. Kentenich utilizou – encontrei uma boa imagem do que ele experimentou em sua vida e, conscientemente, colocou em movimento.
Ele viveu em um tempo marcado pela agitação, também na Igreja. O homem do século XX buscava autodeterminação, liberdade, autenticidade… Pe. Kentenich não viu isso como algo negativo, pelo contrário. Como estudante, ele mesmo havia experimentado as lutas do homem moderno e encontrou uma resposta na pessoa da Mãe de Deus, Maria. No relacionamento com ela, em Aliança com ela, ele descobriu um novo caminho para as pessoas de nosso tempo, uma caminhada diária de fé. Ele nos precedeu: Deus o usou como um “Pioneiro”. Primeiro, ele percorrei esse caminho e, assim, ele pode abrir caminhos para outros. Em sua educação e em sua fundação, ele seguiu caminhos que antes eram desconhecidos na Igreja. Penso, por exemplo, na fundação das primeiras comunidades de Schoenstatt, como institutos seculares, antes que houvesse qualquer lugar jurídico para elas na Igreja.
Seja na infância, ou mais tarde como professor e diretor espiritual, seja no conflito com o nacional-socialismo ou mesmo nas dificuldades com a Igreja, o que o levou ao seu exílio em Milwaukee/EUA: Ele sempre permaneceu fiel à sua missão e seguiu, corajosamente, o caminho de Deus.
Com certeza, escolher quais aspectos mostrar em uma vida tão dinâmica é também uma grande responsabilidade. A senhora ficou preocupada com isso?
Sim, a vida do Pe. Kentenich oferece uma riqueza enorme para ser pesquisada. Na fase de elaborar o projeto do filme, isso já me deu muito trabalho. Em um momento, durante o processo, meu professor me fez perceber que com esse filme eu iria influenciar como outras pessoas iriam ver o Pe. Kentenich. Em si, isso é claro, porque, com todo tipo de interpretação criativa de uma pessoa ou outra coisa, se influencia a forma como o público passa a ver essa imagem. Por isso, essa afirmação me tocou profundamente. Mas, devo dizer que, justamente nessa situação, pude novamente aprender com o Pe. Kentenich. O segredo de sua paz interior em todas as situações foi a Aliança de Amor.
Desde o início do trabalho, eu também disse a Nossa Senhora: Atrevo-me a assumir este projeto, mas você tem a responsabilidade que fique bom. E ela realmente cuidou… O “fio vermelho” do filme ficou claro, muito rápido: “Ele abre novos caminhos”. Contudo, eu não sabia como exata-mente seria isso. Há tantos aspectos que foram formados por décadas, conceitos e conteúdos que, no início, não são tão fáceis de entender.
Minha própria experiência me ajudou nestas reflexões, para explicar Schoenstatt aos outros. Procurei sempre seguir o caminho que o próprio Pe. Kentenich trilhou, começando com sua experiência de consagração a Maria, no orfanato, passando por suas dúvidas e dificuldades, na juventude, até as observações que ele fez no Seminário: como também seus alunos, pela vinculação a Maria, tiveram respostas para as questões da vida.
Seu caminho é para mim a chave para entender Schoenstatt e a Aliança de Amor. Trata-se de um relacionamento muito pessoal, uma união que valoriza e leva a sério a pessoa. Resumindo: eu queria mostrar como o Pe. Kentenich chegou à Aliança de Amor, em 18 de outubro de 1914, e como essa Aliança cunhou a sua vida.
A mim interessava a propagação de Schoenstatt e como o Padre Kentenich usava todas as oportunidades para cumprir sua missão, quer ele estivesse ele em Schoenstatt, em Dachau ou no exílio. Também era importante para mim que sua atuação não terminou em 15 de setembro de 1968. Quase no final do filme há um testemunho do Pe. Menningen, que colaborou (fielmente) com o Pe. Kentenich. Ele explica: O Pai e Fundador continua a viver em nosso meio! Essa também é a nossa experiência, como Família de Schoenstatt, e a minha experiência pessoal.
A qual gênero pertence o filme? Qual público a senhora quer atingir com ele?
O filme é um “docudrama”: um documentário composto de material original da época, de relatos de testemunhas oculares e material de gravação, mas, também contém cenas interpretadas por atores. O filme deve ser fácil de entender, ser informativo e ágil. Foi feito, principalmente, para a Casa Padre Kentenich e destina-se a ser uma introdução às visitas na casa, para as pessoas que chegam e, talvez, nem sequer saibam algo sobre Schoenstatt. O público alvo secundário são também os schoenstattianos que querem se aprofundar mais na vida do nosso Fundador.
O que a tocou particularmente durante a produção do filme?
Tocou-me, especialmente, o entusiasmo dos participantes, tanta benevolência e disponibilidade – isso realmente me tocou. Especialmente no que dizia respeito aos schoenstattianos, pude sentir: este não é meu projeto, mas, é um projeto da Família de Schoenstatt, um presente para nosso Fundador neste ano comemorativo. Para as cenas da Fundação e das salas de aula, encontramos os atores na Juventude Masculina de Schoenstatt. Mas, a maioria dos atores não conhecia Schoenstatt antes e se introduziram maravilhosamente em seus papéis.
Meu professor de cinema, desde o início, achou emocionante a vida do Pe. Kentenich. Ele havia me dito anteriormente que não tinha fé. Foi uma experiência para mim como, ao longo do tempo, ele encontrou seu caminho para o Pe. Kentenich. No final do projeto, ele me disse que tinha muito em comum com esse homem. Há muitas coisas no filme que ele mesmo experimentou ou que se tornaram importantes para sua vida. Ele disse que, com isso, conheceu um novo lado da Igreja. Até agora a Igreja tem sido, para ele, principalmente uma espécie de “aparelho de controle”, no qual se diz de cima o que se deve fazer e o que deixar de fazer. Era novo para o meu professor a Igreja que olha para a pessoa, para o individual, para aquilo que está nele e o que ele tem para dar.
O ator que interpretou o Pe. Kentenich, em Dachau, era meu professor. Ao elaborar as cenas de Dachau, imediatamente ele me veio à mente, porque combinava com a sua aparência. Ele aceitou imediatamente. Depois que ele se informou, pelas redes sociais, quem era o Pe. Kentenich, ele me escreveu em um e-mail: “O Pe. Kentenich era uma pessoa muito boa, foi o que pesquisei. Meu papel é importante para mim. ” E durante as filmagens, ele enfatizou que era uma honra para ele poder desempenhar esse papel.
Na sua experiência atual, Pe. Kentenich ainda pode ser entendido hoje, nesse tempo em que os conceitos da fé tendem a desmoronar?
Sim! Para mim, isso foi confirmado por este filme. É claro que há muito conteúdo que, talvez, pareça ser muito piedoso. Mas, o que está por trás disso é uma experiência de vida. Estou falando de uma pessoa que tinha uma preocupação – crescer na fé, também na fé no bem e no grande que existe no ser humano. Deus foi o objetivo de sua vida. Não um “deus em geral”, mas um Deus muito pessoal, um Pai. Ele queria trazer essa realidade para mais perto das pessoas. Na minha opinião, a mensagem de Schoenstatt responde ao anseio original do ser humano, de ser amado e de encontrar alguém que necessita dele. A liberdade e o respeito que Deus tem pela liberdade do homem desempenham um papel importante aqui.
Qual é a mensagem do seu filme?
Talvez a melhor maneira de expressar isso seja com uma declaração da Irmã M. Petra, que por algum tempo foi secretária do Pe. Kentenich durante seu exílio. Ela lhe disse que ele não era um schoenstattiano. Claro, ele ficou um pouco surpreso com isso. Sua resposta: “O senhor não é um schoenstattiano, o senhor é Schoenstatt“. Não se pode pensar a história de Schoenstatt sem o Fundador. Isso é verdade também hoje. Uma linda palavra do meu professor acerta bem nesse ponto: Ele me disse que durante o filme surgiram algumas perguntas para ele. Ele teria se perguntado como a obra continuava e se o Fundador teria um sucessor. Mas, depois, ele percebeu que o Fundador não partiu, de um modo diferente, ele continua a conduzir a sua obra. Esta a-firmação de uma pessoa que não finge acreditar em algo me deixou muito feliz! Se as pessoas puderem levar isso como reconhecimento, então, o filme valeu a pena. Minha intenção é ajudar as pessoas a entrarem em contato com o Pe. Kentenich. Isso só é possível se você acreditar: Ele está presente, ele se interessa por mim.
Sob seu ponto de vista, o que o Padre Kentenich tem a nos dizer hoje?
O central para mim é a Aliança de Amor. Pe. Kentenich diz: “É possível alicerçar toda a vida na Aliança de Amor!”. É uma questão do coração, quem possui o coração de uma pessoa possui a pessoa inteira. Trata-se do reconhecimento e da experiência da dignidade humana. Deus não nos força a fazer nada. Ele nos oferece uma Aliança. Ele quer trabalhar conosco e por meio de nós. Para Ele não é importante apenas que nos ajoelhemos piedosamente na Igreja, mas que construamos juntos com Ele um mundo melhor, ali no lugar em que vivemos, com nosso caminho individual, com nossas habilidades e possibilidades.
Esta é uma extraordinária vocação! Não é suficiente que a minha fé tenha algo a me dizer só no domingo, no horário da Missa. Deus quer nos encontrar o tempo todo e Ele precisa de nós o tempo todo, Ele continua escrevendo a história por meio de nós.
Numa época em que a fé, em muitos lugares, se tornou uma espécie de leite desnatado, é preciso a “nata” de uma profunda experiência de Deus. O sentimento não é antiquado, convicção não é algo “empoeirado”. A Aliança de Amor é uma “Mestra” maravilhosa para a autenticidade.
- O filme “ “Alguém deve ir à frente” foi lançado no dia 15 de setembro de 2018, às 14h30min, no auditório da Casa Pe. Kentenich, em Schoenstatt/Alemanha.
Foto: schoenstatt.de