No dia 15 de setembro de 1968 falecia o Pe. José Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt. Cinco dias depois, em 20 de setembro, ele era sepultado, com a presença de uma multidão de filhos espirituais, dos mais diversos países.
A Ir. M. Petra Schnuerer, que foi secretária do fundador por alguns anos e mora, desde essa época, nos Estados Unidos, participou do velório e sepultamento. Ela conta, no vídeo (em espanhol) e no texto abaixo (em português) como recebeu a notícia e como foi vivenciar esse “renascimento pelo Espírito” do Pe. Kentenich:
Lembranças de quando recebeu a notícia
Um dia, domingo, 15 de setembro, especialmente aos domingos eu estava fora, vivendo em Staten Island, na região do Brooklin e Bronx, onde ficavam as pessoas (do Movimento) e dando uma reunião atrás da outra, porque é o dia em que as pessoas estão livres, no domingo. Então não estava em casa
Quando retornei era tarde, depois das dez da noite, alguém me telefonou e a minha superiora, que vivia em Milwaukee, na Casa do Movimento em Wisconsin, ela me dá essa notícia.
Eu não a entendi.Ela disse: “Essa manhã acaba de falecer nosso Pai e Fundador”. Eu não entendia, não compreendia.
… “Estou dizendo que essa manhã, cinco minutos antes das sete, depois da missa com as Irmãs, morreu nosso Pai na Igreja da Adoração”.Bom, uma vez que eu entendi, já se imagina o que se sente e passei toda a noite assim. Era muito duro acreditar que o Pai já não estava, que não poderia vê-lo.
Precisamente três anos antes, 16 de setembro, eu o havia visto pela última vez no aeroporto, ao dizer-lhe adeus, quando embarcou para Roma. Então agora chegava a notícia de que o Pai havia falecido.
Bom, não passou mais que um dia e a Irmã tornou a me chamar e dizer: sabe de uma coisa, tu deverias ir ao enterro. Disse: “Eu?”. Não acreditava nisso, porque somente três poderiam ir: a superiora provincial, sua representante e uma Irmã eleita para isso, uma delegada, em outras palavras. E eu não sou nem uma coisa, nem outra.
“Não, mas acredito que você deveria ir”, foi o que disse a superiora provincial…Bom, decidido, me chamam: prepara-te que será na Alemanha o enterro. Um dia depois eu já estava no avião.
Uma grande dor, mas, também, uma grande alegria
Creio que não é possível contar adequadamente, ou descrever adequadamente as experiências desse dia, porque foram múltiplas. Uma grande dor, mas, também, uma grande alegria. É incrível, não?
Quando chegamos a Schoenstatt, eu corri rápido acima, ao Monte, para ver se era verdade. Eu não podia crer até vê-lo.
Então, entrei na Igreja da Adoração, estavam celebrando a missa, com um silêncio, um silêncio fúnebre, horrível, um silêncio pesado, e a igreja muito cheia. Eu disse: “O que está acontecendo?” “Está tendo a missa”. E, no altar, muitos, muitos sacerdotes. Então tive que lutar um pouco para encontrar uma maneira de avançar mais à frente, até que pudesse ver o ataúde aberto nos degraus do altar.
“Ai Deus meu – pensei – é verdade”.
Então era verdade, era realidade e pouco a pouco entrou em meu coração, em minha cabeça: “Sim, o Pai morreu”.
Bom, então tomei a decisão, e me concederam-na, de ficar ao lado do ataúde todo o tempo, até a hora do enterro. Deram-me um quartinho na Casa Mãe [das Irmãs de Maria], mas eu nunca entrei nesse quartinho.
Quando o céu tocou a terra
Era tão bonito – a palavra “bonito” não é a mais correta – era tão especial, tão fora do comum estar de joelhos, em silêncio, contemplando o rosto do Pe. Kentenich depois de ele ter terminado sua missão. Havia a atmosfera de uma paz diferente. Uma atmosfera que depois, eu dizia, à minha maneira, que o céu havia tocado a terra, e por isso se sentia assim.
E então essa igreja foi se enchendo, hora a hora chegava mais pessoas. Muitos vieram de outros países, eu os havia conhecido quando estive com o Pai, e a reação de todas as pessoas que chegavam ao enterro era a mesma. Um encontro pessoal com o Pai, já transformado, ele estava na eternidade, mas seu corpo, contudo, estava presente e visível, mas com um respeito e uma dedicação, com uma entrega tão bonita. Pessoas da Austrália, da África do Sul…
Era tão impressionante.
Passagem pelo Santuário Original
Nesses dias, na manhã de sexta-feira, disseram: “Por favor, saiam da igreja, a funerária vai carregar o ataúde para iniciar a procissão, a viagem a baixo, para o Santuário Original”. Então todo mundo queria contemplá-lo mais uma vez e durou bastante tempo até que se obedecesse a esse pedido.
Era uma experiência, por assim dizer, muito sobrenatural, experimentar toda essa celebração, as exéquias e a procissão a pé com o ataúde do Monte até o Santuário Original. Depois, uma hora em silêncio completo. O caixão dentro do Santuário Original, a porta aberta e todo mundo – milhares de pessoas do lado de fora. Depois os Irmãos de Maria iniciaram uma linda recitação, com a leitura do Documento de Fundação, com versos que todo mundo repetia – nada era cantado, somente falado. Muito solene e muito bonito, fazendo uso das palavras do Pai, ditas pela primeira vez, neste Santuário, no dia 18 de outubro de 1914 e, agora, pela última vez neste Santuário. Muito bonito.
Rumo à Trindade
Então, outra vez, subimos caminhando para o enterro na mesma igreja, onde está a capela do Fundador. Quando subíamos por ali, a procissão era muito grande, então eu dizia: “ai, que bonita a Família de Schoenstatt, olhem, tantos jovens, tantas Irmãs, isso não terminava”. No caminho para o Monte, as árvores não estavam tão crescidas como agora, era tudo aberto e dava para ver o caminho em curvas. Então pensava: “Vou dizer ao Pai, que bonito isso, ver tantas Irmãs, nunca tinha visto tantas de uma só vez”.
Aí me lembrava: “como vou dizer ao Pai? Estamos em seu enterro”.Bom, muita dor – repito – mas muita alegria. Sentíamos que o tempo havia parado e a eternidade tinha começado, eu não posso descrever melhor. É a eternidade e o tempo unindo-se em um momento. Céus e terra, quando se olhava o rosto do Pai falecido.