4 de outubro: há 100 anos ele entregava sua vida no campo de batalha
Karen Bueno – “Você não pode se esconder quando nasceu para brilhar”… No início de 2018, período de transição entre um ano e outro, diversas pessoas se emocionaram com a história de Auggie Pullman no filme “Extraordinário”, lançado nos cinemas. “Deveríamos ser lembrados pelas coisas que fazemos. Elas importam mais que tudo. Mais do que aquilo que dizemos ou que nossa aparência. As coisas que fazemos sobrevivem a nós”, escreve o autor do livro que inspirou o filme, narrando a história do menino, de dez anos, que nasceu com uma deformação facial e lida com os desafios de sentir-se aceito como qualquer outra criança.
Da ficção para o que é real, palpável e inspirador, neste ano a Família de Schoenstatt recorda com carinho a vida de um “jovem heroi extraordinário”: José Engling. Também tomado por certas limitações físicas, Engling é o exemplo concreto do que a fidelidade, a autoeducação, a filialidade podem fazer. A Aliança de Amor é a grande marca da sua vida.
José Luís Engling nasceu na aldeia de Prossitten, no município de Rössel, Alemanha. É o quarto entre os sete filhos de Maria Masuth e Augusto Engling, uma família muito simples do interior. Quando era ainda pequeno, José sofreu com poliomielite, ficando com os ossos da coluna levemente deformados e os ombros encolhidos, o que fazia com que caminhasse meio encurvado. Ele também experimentava dificuldades na pronúncia – principalmente das consoantes r, s e l – e problemas de visão. A figura debilitada pode até esconder a riqueza que existe em seu interior, mas o espírito de heroísmo fez com que sua vida permanecesse a inspirar muitos, pois não “se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro” (Mt 5, 15).
“Vós sois a luz do mundo”
Numa das passagens centrais de “Extraordinário”, o autor escreve: “Grande é aquele cuja força conquista mais corações pela atração do próprio coração”. É justamente isso que José Engling fez e continua a fazer no Movimento de Schoenstatt. O Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, dizia sobre ele: “Como tinha um coração muito puro, sentia-se fortemente impulsionado para tudo o que é grande. Este seu impulso para o grande tornou-se ainda mais forte. Ele ofereceu-se vezes sem conta à Mãe de Deus e a Jesus dizendo-lhes: eu entreguei-me inteiramente a vós, educai-me para poderdes utilizar-me como vosso instrumento contra o demônio. E Jesus e a Mãe de Deus fizeram dele uma obra prima”.
José Engling soube utilizar suas debilidades pessoais como alavanca para a vida de santidade. Fez da fragilidade física uma oportunidade de deixar-se educar pela Mãe de Deus – não raras vezes trabalhava a dicção e a postura como contribuição ao Capital de Graças. Assim se deixava moldar pelas mãos da Mãe e Rainha como um homem novo, a serviço dos demais, realizando atos admiráveis durante a guerra. Frio, fome e risco de morte não o impediram de servir e doar-se aos que precisavam.
Em 2018 a Obra de Schoenstatt recorda os 100 anos de sua entrega no campo de batalha, quando morreu atingido por uma granada, em 4 de outubro de 1918. É um período de gratidão a José Engling, também uma oportunidade de conhecer melhor a vida e as histórias do jovem congregado, que revelam a santidade vivida de maneira heroica em meio à guerra.
Quando o Pe. José Kentenich veio ao Brasil, em 1948, ele questionou: “Quem quer ser o segundo José Engling para a América do Sul?”. O Diác. João Luiz Pozzobon respondeu um “sim” com a própria vida a essa pergunta. Mas o desafio continua a inquietar… Dizer “sim” e se inspirar em José Engling não seria um belo presente jubilar ao jovem?
“Tudo depende de termos aqui (no Brasil) um segundo José Engling que se entregue assim à querida Mãe de Deus e se deixe educar inteiramente por ela. Posso assegurar-lhes que a Mãe de Deus e Jesus se estabelecem hoje aqui para esculpirem uma série de pequenos José Engling” (Pe. José Kentenich).
*Palavras do Pe. José Kentenich em 11 de abril de 1948, Santa Maria/RS, palestra para a Juventude Feminina de Schoenstatt
Livro: Eu Saúdo os Lírios