Negligenciar o tesouro de experiências que cada geração herda e transmite à outra é um ato de autodestruição
Jaqueline Montoya – Quem acompanha o pontificado do Papa Francisco pôde observar, desde o início de suas manifestações, a atenção que o Papa volta a todo o momento aos jovens e idosos. No mês de outubro, a Igreja se propôs a ouvir os jovens em um Sínodo, dando o papel de protagonistas àqueles que muitas vezes não têm vez. No discurso de abertura, o Papa novamente frisou a importância destas duas etapas da vida, propondo algo que é tão familiar entre os schoensattianos: uma “aliança” entre as gerações.
O que significa a aliança entre gerações?
Na ocasião do Sínodo, jovens e padres sinodais trabalhariam juntos, evidenciando um contexto de distintas gerações e modos de pensar diversificados. Para explicar o que entende por esta ideia da aliança entre gerações, Francisco expôs seu pensamento abertamente.
“As relações entre as gerações são um terreno onde preconceitos e estereótipos pegam com facilidade proverbial, a ponto de muitas vezes nem nos darmos conta disso. Os jovens são tentados a considerar ultrapassados os adultos; os adultos são tentados a julgar os jovens inexperientes, a saber como são e, sobretudo, como deveriam ser e comportar-se. Tudo isto pode constituir um forte obstáculo ao diálogo e ao encontro entre as gerações. A maioria dos presentes não pertence à geração dos jovens, pelo que devemos claramente ter cuidado sobretudo com o risco de falar dos jovens a partir de categorias e esquemas mentais já superados. Se soubermos evitar este risco, então contribuiremos para tornar possível uma aliança entre gerações. Os adultos deveriam superar a tentação de subestimar as capacidades dos jovens e de julgá-los negativamente”. [1]
Seguindo o mesmo discurso, o Papa também fez um alerta aos jovens. “Na realidade, apesar da sua fragilidade física, os idosos permanecem sempre a memória da nossa humanidade, as raízes da nossa sociedade, o «pulso» da nossa civilização. Desprezá-los, abandoná-los, fechá-los em reservas isoladas ou então ignorá-los é índice de cedência à mentalidade do mundo que está a devorar as nossas casas a partir de dentro. Negligenciar o tesouro de experiências que cada geração herda e transmite à outra é um ato de autodestruição”.
Por que falar sobre jovens e idosos?
A aliança de gerações é exatamente a resposta do Papa Francisco ao que ele tem chamado de “cultura do descartável”. Se por um lado nossa sociedade cada vez mais se desfaz das coisas facilmente, incluindo nesta colocação até mesmo a vida humana, em especial a de jovens e idosos, a aliança entre gerações surge como um “antídoto” a este mal, valorizando o que de melhor cada uma dessas etapas da vida traz e propondo esta unidade como resposta.
Caminhar juntos: uma experiência Sinodal
“O encontro entre as gerações pode ser extremamente fecundo para gerar esperança” (Papa Francisco)
A recente experiência do Sínodo da Juventude evidenciou aspectos positivos desta aliança de gerações. A aliança surge como um compromisso, uma opção pelo ouvir, respeitar e buscar a compreensão mútua naquilo que as diferenças de idades e gerações podem causar. A proposta é caminhar juntos, vencendo os preconceitos e as barreiras do tempo, buscando o bem comum para a sociedade.
Schoenstatt e a aliança entre gerações
Em Schoenstatt a juventude sempre teve papel protagonista. São os primeiros herdeiros da missão do Pe. José Kentenich, mas nem por isso os únicos. Sob os ombros dos jovens a Obra se forma, cria vida e vira Família.
Hoje a Família de Schoenstatt busca também, em diversas ocasiões, experimentar a aliança de gerações. O convívio entre os ramos e até mesmo dentro de cada ramo acaba sendo a oportunidade para vivenciar este contato.
Em uma das promessas da Aliança de Amor, a Mãe de Deus se compromete a “atrair corações juvenis”. Aqui, cabe ressaltar, a promessa não significa que apenas jovens serão o futuro da Obra. O segredo está em ter um coração juvenil.
Um coração juvenil é aquele que arde, vibra e deixa-se moldar por elevados ideais, está aberto a Deus. Trata-se, portanto, de qualquer pessoa, em qualquer idade, que se mantenha disposta a viver dessa forma.
Portanto, Família, que sejamos capazes de encarnar e viver de forma ainda mais concreta a aliança entre gerações. Jovens, deixem-se enriquecer pela experiência dos demais. “Mais velhos”, estejam abertos ao frescor da juventude, das ideias, paixões. Que o diálogo impere entre os ramos e comunidades e a Família se torne ainda mais um organismo de vinculações.
[1] Discurso do Papa na abertura do Sínodo dos Jovens, 03/10/2018