Ir. M. Nilza P. da Silva – Há pessoas que simplesmente antecedem ao seu tempo em seu modo de pensar e de responder questões. Deus lhes concede o dom de pré-viver em seu tempo, situações que ainda virão. Uma dessas pessoas é nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich. Entre tantas dádivas recebidas de Deus e colocadas a serviço da Igreja, da sociedade, desde a juventude, ele percebe a importância do uso das mídias para a evangelização.
Ele não se graduou como jornalista, publicitário, relações públicas, no entanto, é um modelo de comunicador. Desde o começou de sua Obra utilizou os modernos meios de comunicação de seu tempo para difundir a mensagem da Aliança de Amor. No período da fundação de Schoenstatt, 1914, a mídia impressa – revistas, jornais, panfletos, etc. – era a principal ferramenta de comunicação social.
O apostolado e a inspiração pela Mídia impressa
Desde 1912, como diretor espiritual, Pe. Kentenich motiva os seminaristas, que faziam parte da Associação Missionária, a se empenharem pela “propagação da boa imprensa”. Em seu apostolado eles divulgam as publicações da Sociedade Palotina e conseguem assinantes para a revista “A Estrela da África”. Cita a crônica de 1913: “Temos que trabalhar com palavras e obras para os interesses da Sociedade, especialmente na divulgação da nossa revista”. O quanto o Fundador valoriza a mídia se comprova também no fato de que, em dezembro de 1912, o jornal de Coblença traz um artigo em destaque, escrito por ele, sobre a fundação da Associação Missionária, em Schoenstatt.
O jovem sacerdote lê os jornais e procura interpretar as notícias com fé na Divina Providência. A inspiração para fundar a Obra de Schoenstatt, por meio da Aliança de Amor, Deus lhe enviou por meio da leitura de um artigo de jornal. A reflexão de uma simples leitura – o que Deus quer me dizer com isso? – desenvolveu-se na fundação do Santuário e de um admirável sistema pedagógico para a educação do homem livre e a renovação do mundo.
Pe. Engelbert Monnerjahn conta: “No ‘Panorama Geral’, jornal semanal de Munique, na edição de 18 de julho, Pe. Kentenich leu um relato do conhecido capuchinho, Pe. Cipriano Froehlich, sobre a origem de um lugar de peregrinações no Vale de Pompéia, perto de Nápoles. Este relato despertou nele uma série de perguntas, principalmente esta: O que aconteceu no Vale de Pompéia não poderia se tornar realidade também em outro lugar, por exemplo, em Schoenstatt?”.
Um comunicador da Aliança de Amor
No entanto, durante a Primeira Guerra Mundial, a edição de periódicos era algo complicado, geralmente limitada a grandes corporações. Ainda assim, a ousadia e confiança na Divina Providência fazem com que o Pe. José Kentenich lance, em 5 de março de 1916, a revista “Mater Ter Admirabilis”. A primeira revista oficial do Movimento Apostólico de Schoenstatt é uma ferramenta utilizada para formar, informar e vincular o nascente movimento, a juventude schoenstattiana, que estava nos campos de batalha. Deus abençoou o uso da mídia.
Pe. Monnerjahn conta: “Dentro de poucos meses essa revista alcançou uma divulgação extraordinária. Os primeiros números foram impressos em litografia, com uma tiragem de 200 exemplares. Em meados de agosto de 1916, Pe. Kentenich comunicou ao presidente da Congregação que, devido à procura, fora aumentada para 300. Em fins de agosto, a edição passou a 400 exemplares, em fins de novembro a 600, e no começo do segundo ano, em março de 1917, atingiu a tiragem de 1.000 exemplares. Deve-se notar que a revista não era uma leitura amena, superficial, mas exigia a colaboração e o esforço mental de seus leitores ”.
Com a grande procura pela Revista MTA, que chegava a 2.000 assinaturas, em dezembro de 1917, foi preciso recorrer a uma tipografia em Vallendar e depois a outra maior em Coblença. O conteúdo escrito pelo Pe. Kentenich chama a atenção, é algo novo e coerente: “A Mater Ter Admirabilis era lida por outras pessoas fora do círculo schoenstattiano, tornando conhecida a muitos jovens idealistas a Congregação Mariana de Schoenstatt, seus objetivos e seu Santuário. Alguns deles não só quiseram assinar a revista, mas também colaborar ativamente na comunidade da Congregação de Schoenstatt e em sua Organização Externa”.
No início de 1918, a revista sai além das fronteiras da Alemanha e se torna o material de formação para os congregados marianos militares da Holanda. A revista é usada, como fonte de informação e pesquisa, em palestras para as associações juvenis e para as aulas do professor universitário de Bonn, Arnoldo Rademach.
O lançamento da revista MTA exigiu uma fé e confiança heroica. Pe. Kentenich fala, aos casais nos Estados Unidos, em 13 de setembro de 1953: “Nossa reflexão foi esta: se a Mãe de Deus realmente quer um movimento assim, também podemos arriscar algo. Nossos jovens estavam sozinhos, lá fora nos quartéis (…) pensei comigo: os jovens precisam se manter unidos. Não tínhamos dinheiro. Se não me falha a memória, havia 23 centavos no caixa. Começamos, então, com os 23 centavos. Com isso, fundamos uma revista, baseada na confiança: (…) Se for a tua causa, terás de ter o cuidado pelo sucesso! Realmente, a revista vingou. A partir dela, posteriormente apareceram muitas outras. Tudo a partir do nada”.
Mídia como complemento e não como substituição do relacionamento pessoal
Pe. Kentenich é um grande comunicador que se fez ouvir em inúmeras palestras, conferências, congressos, utilizando todos os meios que eram possíveis na época. Contudo, sua forma mais eficaz de comunicação é a relação pessoal, individual, humana, com cada um que se apresenta diante dele. Na década de 30, mais da metade do clero da Alemanha foi para Schoenstatt, a fim de ouvi-lo, em seus retiros. Ele investe na mídia como um complemento e não como substituição de seus contatos pessoais. Justamente nos anos de maior sucesso e crescimento da revista MTA está a história de vida dos primeiros heróis de Schoenstatt, da primeira e segunda geração (1917-1942). Lendo as suas biografias vê-se a influência decisiva que o vínculo pessoal ao Fundador teve para cada um dos que o contataram.
No período do Exílio do Fundador nos Estados Unidos (1951-1965) isso também se comprovou. Recém assumiu a tarefa como pároco da comunidade alemã, Pe. Kentenich funda o Jornal Paroquial, para circular informações entre os paroquianos, noticiar sobre seu país de origem, intreter e orientar. O informativo paroquial complementava a sua dedicação pessoal no atendimento a cada um da comunidade, as suas palestras e homilias. Ele não se isolou de sua comunidade porque fazia uso da mídia, mas, formou família, cultivou vínculos pessoais, mesmo que a mídia consumisse seu tempo para o anuncio de sua missão.
Hoje, Deus continua a usá-lo como seu meio, seu instrumento, para se comunicar com seus filhos, interferir em suas consciências e formar suas opiniões. Suas publicações e seu exemplo de vida continuam a inquietar e a responder questões fundamentais de nosso tempo. Certa vez, perguntaram ao Fundador de Schoenstatt como ele gostaria de ser recordado, qual imagem deveriam guardar dele. Em sua resposta estão os traços de comunicador: “Com a mão no pulso do tempo e o ouvido no coração de Deus.” Eis nossa missão de comunicadores: ajudar o público a formar opinião: ouvir e interpretar o que Deus nos diz por meio dos acontecimentos atuais.
Muito está comunicação para melhor estar em comunhão com o Santuário.